Dono de mãos extremamente habilidosas e de um estilo artístico único, Ulisses Zangerolami é o autor de diversas obras no município, dentre as quais incluem mosaicos, quadros e até restauração de espaços.
Em entrevista ao O Imparcial, o artista discorre sobre o início de sua carreira, suas inspirações, melhores obras e trabalhos mais difíceis.
O Imparcial – Quando e como iniciou sua jornada no meio das artes plásticas?
Ulisses Zangerolami – Desde criança eu gostava de desenhar. E naquele tempo não sabia se era arte plástica, mas fato é que eu tinha essa inclinação. Gostava de rabiscar, ia à escola e desenhava nos cadernos. Depois, você vai crescendo e as pessoas veem que você gosta e assim, um me dava um livro, outra uma caixa de aquarela… tínhamos pouquíssimos casos de artes na cidade.
O Imparcial – Você chegou a fazer alguma coisa antes de iniciar seus trabalhos artísticos?
Ulisses Zangerolami – Eu tentei um monte de coisas na vida e quase nada que eu tentava dava certo. Não me prendia às coisas que fazia fora da arte. Se eu ia estudar, estragava os cadernos desenhando, e eu tentei um monte de coisas, na adolescência, me inseri num colégio agrícola e dominava bem a geometria. E quando estive na escola agrícola, eu tive o professor Zé Assunção, de desenho geométrico; ele era um professor, basicamente, de arquitetura, pelo que eu entendia, e fora isso ele gostava da arte. Extraoficialmente ele me ensinou muita coisa. Saí de lá, fui para a Força Aérea, fiquei uns três anos e também só ficava atrás de desenho do que de outra coisa. Aí eu voltei e comecei a trabalhar com isso. Mais tarde comecei a trabalhar também com restauração de igreja, e acabei vindo parar na prefeitura. Abriu um concurso na Educação, para Agente Especializado, um monitor de pintura, e acabei passando, e metade do período eu trabalhava nas escolas e, na outra metade, no Centro Cívico e Cultural, e aqui estou.
O Imparcial – Você ingressou em alguma instituição que aprimorasse o seu faro artístico?
Ulisses Zangerolami – A única coisa que eu cursei um pouquinho, fora este caso da escola agrícola que eu nunca vou me esquecer, houve uma época em que havia cursos à distância, que vinham pelo correio as apostilas e os materiais, que ensinavam sobre costura, eletricidade, coisas que ninguém ia aprender muito bem, mas esta foi a única coisa que eu lembro de ter cursado. Agora, eu devo muito a dicas que pintores antigos me deram, mas cursado alguma coisa na área, não, e fora que todas as outras coisas que fiz pararam pela metade.
O Imparcial – Todo artista, independentemente da área, tem uma inspiração. Para você, qual figura que te inspirou a continuar nesta carreira?
Ulisses Zangerolami – Não tenho nenhum, em especial. As pessoas contavam histórias, eu pegava os livros e lia e, quando eu estudava no ginásio, tinha uma biblioteca muito linda, lá tinha tudo o que você imaginasse. Tudo o que você procurasse, iria achar. Eu lembro de ter me inspirado muito vendo os artistas antigos lá, aqueles que todo mundo vai de cara para ver, Michelangelo, Da Vinci. E, mais tarde, o que começou a me prender mesmo foi o cara que ensinou Van Gogh, na minha opinião. Ele era um francês, barbudo, e chamava Pissarot, e com aquele Pontilhismo, aquelas pinceladas, aquilo me encantou.
O Imparcial – Como você definiria seu estilo artístico?
Ulisses Zangerolami – Eu não me prendi a um estilo, a um jeito. Sou fascinado pelo jeito de pintar de Diego Velásquez. Quando vou pintar santo, eu pinto de um jeito; se vou pintar paisagem, pinto de outro. Eu vejo que as pessoas são presas a um estilo, e eu nunca tive essa vaidade, gostava de variar. Eu gosto muito do jeito bizantino de pintar santos, porque foi o que me proporcionou fazer os mosaicos depois. Outro que me encanta muito é aquele usado nas igrejas, o Maneirismo.
O Imparcial – Qual o trabalho mais difícil que você já realizou?
Ulisses Zangerolami – Foi a Matriz de Bebedouro. Ela é coberta de arabescos, e não se usava estamparias, ela era feita no pincel mesmo, e foi um europeu que a fez e, mais tarde, cinquenta anos depois, voltei lá e restaurei complemente. Certamente foi a coisa mais difícil que já fiz.
O Imparcial – Qual foi a obra que você mais se orgulhou de ter feito?
Ulisses Zangerolami – Olha, isso é muito difícil, porque todas elas a gente enxerga com dedicação e amor. Às vezes um quadro pequeno, para mim, foi a coisa mais linda que eu já fiz. Mas essa Matriz de Bebedouro foi tão difícil, tão intrigante e cheia de problemas que eu me orgulho de ter feito.