Desde a última sexta-feira, 16, o Museu de Paleontologia ‘Prof. Antônio Celso de Arruda Campos’ conta com um novo fóssil em seu acervo: trata-se do mais novo “crocodilo montealtense”.
Durante a remoção de rochas de uma estrada rural do município, na década de 50, operários encontraram 1/3 de crânio fossilizado e fizeram uma fotografia. Em 1987, o local é revisitado por pesquisadores; um fóssil isolado é encontrado e classificado como sendo parte de um crânio de um dinossauro titanossauro.
No ano de 2006, o pesquisador Fabiano V. Iori analisa o material e o reclassifica como parte de um teto craniano de um crocodiliforme e o associa à fotografia tirada em 1950 em um trabalho que foi publicado na Revista Brasileira de Paleontologia em parceria com o professor Antônio Celso de Arruda Campos.
Em artigo recém-publicado na revista Historical Biology, novos caracteres foram apontados para o fragmento craniano, possibilitando o levantamento de feições inéditas e a definição de que se trata de uma nova espécie do Cretáceo brasileiro; o estudo tem por objetivo estabelecer o parentesco e o contexto paleoambiental da nova espécie. O paleontólogo Thiago Schineider Fachini, do Laboratório de Paleontologia de Ribeirão Preto, da USP, foi o responsável por liderar o estudo, que conta com a colaboração de Pedro L. Godoy, Júlio C. A. Marsola, Max C. Langer e Felipe C. Monteiro.
Na pesquisa, Thiago explica que a espécie é nova pelo fato de possuir características distintas dos demais crocodiliformes fósseis encontrados. Esta conclusão é resultado de uma série de análises morfológicas do crânio de Titanchampsa, as quais apontaram características semelhantes às de crocodiliformes viventes.
O nome Titanchampsa significa “crocodilo titânico”, uma referência ao seu grande tamanho e pelo fato de ter sido confundido por muito tempo com um titanossauro. O epiteto específico iorri é uma homenagem ao pesquisador Fabiano V. Iorri, pela prévia identificação do material e pelos diversos trabalhos em Monte Alto e região.
Titanchampsa iorii é oriundo de arenitos da Formação Marília; uma unidade geológica que se originou no final do período Cretáceo, mais especificamente no Maastrichtiano – entre 72 e 66 milhões de anos atrás. Na região de Monte Alto, são registrados restos fossilizados de titanossauros, dentes isolados de crocodiliformes, escamas de peixes, conchas de bivalves além de Kurupi itaata, um dinossauro abelissaurídeo. Estudos geológicos apontam que havia sazonalidade no clima, de árido a semiárido, com uma redução de aporte de sedimentos e constante estabelecimento de paleossolos.
A definição do tamanho da nova espécie ainda é uma problemática, por se tratar de um material fragmentado. Todavia, análises indicam, levando em consideração outros crocodilos, que o animal poderia ter entre 37 e 75 cm de comprimento e entre 3 e 6 metros de tamanho corporal; o espécime retratado na fotografia poderia atingir 7 metros, o que o torna o maior crocodilo no Neocratáceo brasileiro.
O Titanchampsa iorii é o primeiro a ser descrito formalmente para a Fm. Marília, embora a Bacia Bauru seja famosa por registrar inúmeras ocorrências de crocodiliformes. Diferente das outras espécies, o novo achado parece pertencer ao grupo dos Neosuchia, o qual também abarca os jacarés, crocodilos e gaviais modernos e de hábitos semiaquáticos.
Além de apresentar um grupo até o momento desconhecido, a nova espécie contribuirá para um melhor entendimento dos aspectos evolutivos dos crocodilos e porque os Neosuchia obtiveram êxito, à medida em que a maioria dos crocodiliformes era extinta no final do período Cretáceo, explica Thiago.
A paleontóloga e diretora do Museu, Sandra Tavares, ressalta que se trata do quinto gênero inédito de crocodilo da região, e que o Titanchampsa iorri estará junto à coleção com seus parentes: Montealtosuchus, Morrinhosuchus, Caipirasuchus, e Barreirosuchus, bem como os quelônios Roxochelys e Yuraramirim e dos dinossauros Arrudatitan e Kurupi.