Pesquisador da USP explica causas de tremores de terra durante palestra

Iniciativa apresentou detalhes sobre como acontece um terremoto, além de explanar a situação de Monte Alto e do Brasil em relação aos abalos sísmicos

Professor titular do Departamento de Geofísica da USP, o Dr. Marcelo Assumpção esteve em Monte Alto na sexta-feira, 26, para uma palestra cujo objetivo era dar explicações acerca dos tremores de terra registrados no município.

Dr. Marcelo foi coordenador da Rede Sismográfica do Brasil, além de ter sido secretário executivo e fundador da Comissão de Sismologia da América do Sul e do Caribe; ele trabalha com tremores de terra há 40 anos, já tendo pesquisado os abalos sísmicos que aconteceram em Bebedouro, Taquaritinga, Nuporanga e Sales Oliveira.

“Nós estamos aqui para um propósito muito especial. É mais um passo que nós damos em direção à elucidação desses fatos que assustaram a população à primeira vista”, comentou o secretário da pasta, Fábio Nascibem.

O professor, junto ao engenheiro Luiz Galhardo, foram recebidos na Secretaria de Agricultura e Meio Ambiente, local onde foi realizada a palestra que trouxe algumas explicações sobre como acontecem os terremotos, as chances de serem registrados no Brasil e de serem causados pela perfuração de poços profundos.

Marcelo explicou que os sismos são provocados por pressões geológicas, que estão atuando no interior da Terra e que, ao longo de milhares de anos, vão aumentando e passam a deformar a crosta ou suas camadas, ao ponto de criarem-se uma fratura e um deslizamento de blocos, numa falha geológica. Assumpção disse que esses deslizamentos são rápidos e causam as vibrações que são sentidas pela população.

“A Terra não é um planeta morto. Ela está em constante movimento e há correntes de convecção em todo o interior da Terra, e essas correntes fazem com que a superfície se movimente com as Placas Tectônicas”, salientou.

Ele ainda disse que o Brasil está localizado ao centro da Placa Sul-Americana e que os grandes terremotos ocorrem com maior incidência na Cordilheira dos Andes – onde encontra-se a Placa de Nazca – e na Cordilheira Meso-Atlântica, próxima à Placa da África, portanto, sempre nas bordas.

“Os terremotos destrutivos, aqueles que têm magnitude acima de 6, só ocorrem em grandes falhas geológicas nas bordas das placas. Como o Brasil está no meio da Placa Sul-Americana, ou seja, longe das bordas, os terremotos fortes são extremamente raros”, pontuou Assumpção.

Segundo ele, a região da Alta Paulista, na qual se localiza o município, tem um grau de sismicidade mil vezes menor do que o restante do país. O professor colocou também que, as demais áreas do país, apesar de registarem um número maior na escala Richter em relação a Monte Alto, raramente expressam tremores que causam certa preocupação. “O interior do estado de São Paulo é uma das regiões mais estáveis, mesmo em termos de Brasil”.

Outra questão levantada durante a palestra foi se a causa dos tremores de terra estariam relacionadas à perfuração de poços profundos.
Aqueles que foram perfurados pela Sabesp, na visão de Marcelo, não têm relação alguma com os abalos sísmicos por dois motivos: o primeiro se deve aos poços terem sido perfurados há muitos anos, estarem distantes do epicentro, e alguns até disporem de uma pequena vasão de água, devido à perfuração rasa do solo; a outra aponta que os poços da empresa são cimentados na parte de cima do arenito Bauru, ou seja, impedindo a penetração de água do basalto, que se encontra abaixo do arenito.

Em relação a outros poços profundos, ainda não se sabe se eles foram os agentes causadores dos tremores de terra. Segundo ele, isso requer um trabalho de investigação.

Marcelo Assumpção disse também que os registros dos abalos sísmicos sentidos no município foram computados na estação sismográfica de Bebedouro, localizada a mais de 20 quilômetros de distância. E que, devido à baixa intensidade dos tremores, os pesquisadores não conseguem determinar o epicentro com precisão.

“A gente espera nos próximos meses continuar com essa investigação. Pelo que vimos até agora, é provável que até o final do ano não ocorra mais nenhum tremor, porque esses tremores ocorrem, geralmente, logo depois da estação chuvosa”, completa o professor.

“No próximo ano, depois de janeiro e fevereiro, se chover bastante, é possível que ocorram novos tremores. Mas os tremores de Monte Alto são sempre pequenos, não têm risco de nenhum dano forte e a tendência é que a cada ano os tremores diminuam de intensidade e de frequência”, finaliza Marcelo Assumpção.

Vale lembrar que, na última semana, foram instaladas três estações de medição sismológica próximas aos locais em que foram registradas as ocorrências de tremores que, à época, alcançaram 2.0 e 2.2 na escala Richter, números considerados baixos (foto abaixo).

As estações serão monitoradas pelos próximos três meses e serão fundamentais para investigar os motivos pelos quais o município registrou os abalos sísmicos.

Registrando

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