Profissional é um dos “discípulos” do saudoso Professor Toninho
Fabiano Vidoi Iori é montealtense, tem 38 anos de idade, casado e tem uma filha de 2 anos. Graduado em Ciências Biológicas, possui mestrado e doutorado em Paleontologia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro. Exerce voluntariamente atividades técnico-científicas junto ao Museu de Paleontologia “Prof. Antônio Celso de Arruda Campos”. Desenvolve pesquisas com animais do Período Cretáceo (entre 145 e 65 milhões de anos atrás), tendo como principal área de atuação, o estudo dos crocodilomorfos e dinossauros.
Nesta entrevista, ele comenta sobre sua atuação junto a área. Hoje, dia 15, é comemorado o Dia do Paleontólogo.
Jornal O Imparcial – Como você começou na área?
Fabiano Iori – Minha primeira lembrança relacionada à paleontologia remete à minha infância; era uma noite de 1985 e lembro que paramos na “estrada do Campestre” e tinha uma área protegida com cordas e iluminada por algumas lâmpadas, eu tentava enxergar alguma coisa por entre os corpos dos adultos, falavam em dinossauro, mas eu não entendi o que vi. Com doze anos, fiquei sabendo que havia uma sala com fósseis perto da Biblioteca Municipal, eu insistia com minha professora de geografia para contatar o “senhor” responsável, mas não aconteceu. Inaugurado o museu, passei a visitá-lo frequentemente e fiquei amigo de Cledinei Aparecido Francisco, que em dezembro de 1993 levou-me ao “Campo do Campestre” onde tive a sorte (de principiante) de achar alguns fragmentos fósseis. No dia 15 de janeiro de 1994 fomos ao Morro de Santa Luzia, onde achei meu primeiro fóssil de dinossauro e Cledinei chamou o diretor do museu; neste dia fiquei conhecendo pessoalmente o Professor Toninho, que daí em diante passou a me convidar para a maioria das escavações e a ensinar-me atividades de campo e de laboratório.
Jornal O Imparcial – Quais seus principais trabalhos?
Fabiano Iori – Ao longo desses 21 anos desenvolvi inúmeros trabalhos técnicos e científicos. A minha produção acadêmica destaca-se pela descrição de quatro espécies inéditas de “crocodilos” do período Cretáceo, sendo autor principal em três publicações (Morrinhosuchus, Caipirasuchus e Barreirosuchus) e coautor em uma (Gondwanasuchus). Além dos “crocodilos”, trabalho também com dinossauros carnívoros, tendo apresentado os primeiros restos ósseos de Abelissauros em Monte Alto e o primeiro fóssil de Megaraptor no Brasil.
Jornal O Imparcial – Como conciliar a paleontologia com o seu trabalho diário?
Fabiano Iori – Na verdade, eu tenho uma jornada dupla; embora exerça de maneira voluntária, considero a paleontologia como trabalho e procuro ser disciplinado e constante. Preparo, estudo e descrevo os fósseis geralmente à noite; os trabalhos de buscas superficiais de fósseis e levantamento geológico são feitos aos sábados e domingos; e quase sempre concilio “minhas férias” com datas em que eu possa participar de congressos e realizar escavações maiores.
Jornal O Imparcial – Como está a paleontologia em Monte Alto neste momento?
Fabiano Iori – Com o falecimento do Prof. Antônio Celso, gerou-se uma preocupação quanto ao futuro da paleontologia em Monte Alto. No entanto, além de seu trabalho, ele deixou discípulos, e a ciência no município está muito bem amparada. A colega e também paleontóloga Sandra Ap. Simionato Tavares, está assumindo a direção do Museu de Paleontologia. A Mestra Sandra desenvolve trabalhos junto à instituição há 17 anos e além da produção acadêmica, tem experiência principalmente em curadoria de coleções e ações educacionais. Vários projetos e parcerias vêm sendo desenvolvidos; com apoio da Coordenadora de Cultura e a ajuda dos funcionários Cledinei Francisco e Fernanda Miranda, em breve teremos novidades no Museu. O biólogo Thiago Schineider Fachini, também trabalha com fósseis de Monte Alto, e atualmente desenvolve um relevante projeto de pesquisa visando o mestrado na área. Quanto aos campos de pesquisas, venho desenvolvendo mapeamento, levantamento de dados geológicos e prospecção de fósseis em todos eles. Em relação à coleção, todos os fósseis estão devidamente tombados e várias peças estão em fase de preparação e estudo.
Jornal O Imparcial – O que você ainda pretende fazer na área?
Fabiano Iori – Eu sou apaixonado pela paleontologia e pretendo chegar aos 80 anos participando de escavações, como fazia o nosso saudoso mestre. Tenho um projeto pessoal de agregar todo o conhecimento paleontológico do município em uma só obra, porém, para isso acontecer, vários trabalhos específicos (meus e dos colegas) precisam ser concluídos e publicados. Além desse projeto, tenho um sonho de descrever uma nova espécie de dinossauro carnívoro, venho trabalhando com alguns fósseis que encontramos e que ainda estão em fase de preparação. Se o material for suficiente para determinar uma nova espécie, dois sonhos serão realizados, o meu de descrever um terópode e o do Professor Antônio Celso, de ter seu nome dado a um dinossauro.