Trabalho sobre o Caipirasuchus foi desenvolvido a partir de três descobertas,
duas em Monte Alto e uma em Catanduva
Há mais de uma década Fabiano Vidoi Iori divide suas atenções entre o banco em que é funcionário e os trabalhos na paleontologia. Respeitado na área dos “grandes lagartos”, ele é autor de dezenas de estudos e, mais recentemente, publicou o “Postcranial skeletons of Caipirasuchus from the Upper Cretaceous of the Bauru Basin, Brazil”, desenvolvido a partir do dinossauro que habitou a região de Monte Alto.
Nesta entrevista ao O Imparcial, Fabiano falou sobre o novo trabalho e os rumos da paleontologia na Cidade Sonho. Confira!
Jornal O Imparcial: Sobre o que se trata esse novo artigo? Onde ele foi publicado?
Fabiano Iori: Quando batizamos o Caipirasuchus (crocodilo caipira) fizemos a descrição apenas do crânio, com isso, conseguimos definir que se tratava de um animal novo para a ciência. Nesse novo trabalho, publicado na revista científica Cretaceous Research, utilizamos três indivíduos, dois descobertos em Monte Alto e um de Catanduva, fizemos a descrição dos esqueletos, buscando definir os aspectos corporais desses animais, como tamanho e postura.
Jornal O Imparcial: O que esse artigo impacta na paleontologia montealtense?
Fabiano Iori: A nossa paleofauna viveu no Período Cretáceo, o último da Era dos Dinossauros; até o momento foram definidas seis espécies inéditas, cinco “crocodilos” (Montealtosuchus arrudacamposi, Morrinhosuchus luziae, Caipirasuchus montealtensis, Caipirasuchus paulistanus e Barreirosuchus franciscoi) e um dinossauro “pescoçudo” (Aeolosaurus maximus). Conhecer melhor essa fauna e estabelecer as relações ecológicas e interações entre esses animais ajudarão a criar uma identidade única para o cenário paleontológico regional. Esse artigo conclui a definição das características de um desses personagens.
Caipirasuchus era um animal herbívoro ou onívoro que atingia cerca de 1,20 m de comprimento; era uma espécie predada por outros “crocodilos” e possivelmente por dinossauros carnívoros; seus corpos esguios, com membros longos pode ser um indicativo de agilidade e consequentemente, usavam a velocidade como recurso de fuga contra os predadores.
Jornal O Imparcial: Quais são seus próximos passos na área?
Fabiano Iori: Tenho vários trabalhos em andamento e em diferentes estágios. Quanto à produção acadêmica, tenho um trabalho submetido sobre o primeiro registro fotográfico de um fóssil em Monte Alto, o qual teve a participação do saudoso Prof. Antônio Celso de Arruda Campos; um manuscrito em fase final, com a colaboração do pesquisador e fotógrafo Luiz Augusto Frare, sobre um novo exemplar de Morrinhosuchus; além destes, sou co-autor em três outros trabalhos, com colegas da UFTM, UFRG e USP, um destes o paleontólogo montealtense Thiago Schineider Fachini.
Estou trabalhando na preparação de fósseis que escavamos em novembro de 2014, última do professor “Toninho” e que também teve colaboração de José Augusto Bulgarelli e Cledinei Aparecido Francisco. Os ossos pertenceram a um dinossauro carnívoro de cerca de quatro metros de comprimento e somente após o preparação e análise desse material saberemos que se trata ou não de uma nova espécie.
Jornal O Imparcial: Você acredita que ainda há muito a ser descoberto sobre os dinossauros em Monte Alto?
Fabiano Iori: Certamente! Somente na região de Monte Alto, são dezenas de pontos de coletas e pelo menos três campos apresentam alto potencial e que renderão fósseis com muita importância científica. Além disso, ainda existem muitos fósseis raros em fase de preparação e permitirão o desenvolvimento de estudos científicos de alto impacto.
Jornal O Imparcial: Após a perda do Professor Toninho, como está a paleontologia na cidade?
Fabiano Iori: Na cidade somos três paleontólogos, todos ativos e trabalhando com material da nossa coleção. A doutoranda Sandra Simionato Tavares, está na direção do Museu e além do desenvolvimento de sua tese sobre o “crocodilo” Montealtosuchus, vem se empenhando em projetos que visam à reforma e remodelação do Museu. O mestrando Thiago Schineider Fachini está analisando em sua dissertação materiais inéditos descobertos por ele, além de trabalhos paralelos com outros pesquisadores. A paleontologia em Monte Alto está amparada e com pesquisadores capazes de fazer escavações, preparação e estudos necessários.
Jornal O Imparcial: Para finalizar, defina o seu trabalho na área.
Fabiano Iori: O caminho entre a descoberta de um fóssil e a divulgação para o público é bem longo. Trabalhamos com “jóias raras” que necessitam ser “lapidadas”. O trabalho paleontológico requer muito trabalho técnico antes de se começar a produção acadêmica, um exemplo é visto nesse estudo dos Caipirasuchus, em que trabalhei com fósseis que descobri no ano de 2000 e que só agora foram apresentados à imprensa. Portanto, muitas vezes a população terá a impressão de que os trabalhos estão parados, mas na realidade, estamos debruçados sobre os fósseis e a qualquer momento estaremos revelando novas preciosidades do solo montealtense.