Por Uol – Jamil Chade
A OMS (Organização Mundial da Saúde) decretou hoje que a varíola do macaco é uma emergência sanitária global. A decisão foi tomada depois de semanas de uma indefinição por parte dos especialistas diante da expansão da doença e do potencial risco de contaminação. Governos são solicitados, agora, a intensificar as ações de monitoramento. Para a agência, será necessária uma ação coletiva para lidar com a nova crise.
O debate intenso entre os cientistas resultou em uma decisão que levou semanas para ser concluída. Há um mês, o Comitê de Emergência da OMS foi convocado para avaliar o tema. Mas, com apenas 3 mil casos, não houve um consenso sobre a declaração da emergência internacional.
Nove cientistas foram contrários à declaração, enquanto outros seis apoiaram a decisão.
Mesmo assim, a cúpula da OMS decidiu anunciar a declaração de emergência, sob o argumento de que os riscos são reais e que uma ação precisava ser tomada. Hoje, a doença está em 75 países.
Até hoje, cinco emergências foram declaradas pela instituição em pouco mais de dez anos e sinaliza a necessidade de que governos em todo o mundo tomem medidas para monitorar o surto e controle os casos. Mas essa é a primeira anunciada sem a chancela do Comitê de Emergência.
Com mais de 16 mil casos e cinco mortes, a doença passou a ser monitorada pela OMS. No Brasil, o Ministério da Saúde informa que 607 casos foram identificados.
A declaração de uma emergência global tem como meta aumentar a coordenação entre os países e reforçar os mecanismos de busca ativa de casos e implementar medidas para ajudar a conter a circulação global do vírus.
A reunião do comitê de emergência da OMS ainda ocorreu em um ambiente de crescente preocupação com o aumento de casos registrados em áreas não endêmicas fora da África, especialmente na Europa, mas também nas Américas, com vários casos também relatados na Ásia e Oceania.
Um alerta sanitário internacional foi lançado pelo Reino Unido em meados de maio, e desde então os casos têm crescido neste país, assim como na Espanha, Alemanha, Portugal, França, Canadá, Holanda e Estados Unidos.
Numa declaração, o diretor-geral da OMS, Tedros Ghebreyesus, afirmou que está “profundamente preocupado com a disseminação da varíola macaco”. “Isso vai mobilizar o mundo e forçar uma coordenação no mundo”.
Pedindo que os países colaborem e compartilhem informações, a OMS fez um apelo para que governos e fabricantes trabalhem juntos para atingir as metas globais de saúde pública, “garantindo que as populações afetadas recebam contramedidas médicas para a varíola do macaco e que estas sejam utilizadas através de pesquisas padronizadas e coleta de dados para avaliação adicional da eficácia clínica da terapêutica e avaliações da eficácia da vacina”.
Estigma
Uma das principais preocupações da OMS se refere ao fato de que a doença possa ampliar o estigma em relação a um grupo específico da população. Hoje, mais de 90% dos infectados são homens que têm relações sexuais com homens. “O surto pode ser parado. Mas o estigma é tão perigoso quanto o vírus”, disse Tedros.
Outra preocupação se refere à falta de vacinas. Hoje, o volume de doses é limitado e a OMS admite que a eficácia dos imunizantes é limitada.
No caso da Europa, Tedros considera que o surto representa um “risco elevado” e “moderado” para o resto do mundo. Mas isso pode mudar diante da proliferação. As incertezas e a intensificação do número de casos levaram, portanto, a OMS a tomar a decisão.
“Temos um surto que se espalhou pelo mundo rapidamente, através de novos modos de transmissão, sobre os quais entendemos muito pouco, e que atende aos critérios do Regulamento Sanitário Internacional”, disse Tedros.
“Por todas estas razões, decidi que o surto global de varíola macaco representa uma emergência de saúde pública de preocupação internacional”, afirmou.
Tedros apresentou orientações com base em diferentes níveis e a intensificação de casos em cada um dos países. Para os locais onde existe transmissão de humano para humano, a sugestão é para que medidas sejam coordenadas para interromper a transmissão e proteger os grupos vulneráveis, além de envolver e proteger as comunidades afetadas, intensificar a vigilância e as medidas de saúde pública, fortalecer a gestão clínica e a prevenção e controle de infecções em hospitais e clínicas.