Por G1
Quase três décadas dedicadas à paleontologia colocaram Sandra Tavares, de 55 anos, em um lugar de destaque na profissão. No mundo dos dinossauros, a paleontóloga de Monte Alto (SP) já é bem reconhecida e bastante admirada. O Epoidesuchus tavaresae era o próximo passo mais óbvio.
A homenagem veio de pesquisadores da Universidade Estadual Paulista (Unesp), que escolheram uma espécie de crocodilo que viveu há 85 milhões de anos em Catanduva (SP) para dar o nome da paleontóloga.
Do grego antigo, suchus significa ‘crocodilo’ e epoide, mágico (este, por conta do local onde o fóssil foi achado, já que Catanduva é conhecida como a ‘Cidade Feitiço’). Tavaresae é o feminino de Tavares, sobrenome de Sandra, em latim.
A história da espécie de crocodilo que leva o nome dela começou em 2011, com a descoberta de um fóssil em uma rocha removida para construção de uma ponte durante as obras de duplicação da Rodovia Comendador Pedro Monteleone (SP-351), em Catanduva (SP).
Foram quase 15 anos de dedicação ao fóssil, até que os pesquisadores descobriram recentemente que se tratava de uma nova espécie de crocodilo pré-histórico. O estudo foi publicado em agosto deste ano, na revista científica The Anatomical Record.
Ao g1, o orientador da pesquisa, Felipe Chinaglia Montefeltro, professor do Departamento de Biologia e Zootecnia da Unesp em Ilha Solteira (SP), disse que escolher homenagear Sandra foi algo natural.
“Como a nova espécie precisa de um nome, a gente homenageou a Sandra, que foi muito mais do que merecido. E, na verdade, se não fosse a gente, em algum futuro breve alguém iria homenageá-la, porque, de fato, é uma contribuição relevante para a paleontologia”.
Emoção e surpresa
Sandra conta que se emocionou ao descobrir a homenagem. Para ela, era algo que só aconteceria dentro de, no mínimo, 20 anos. E se acontecesse.
“Fiquei profundamente emocionada, pois, entrar para a história da ciência de uma forma tão significativa é algo que nunca imaginei alcançar tão cedo. Sou uma ‘jovem’ paleontóloga com 55 anos de idade, sendo que 27 deles foram dedicados ao trabalho com fósseis do mundo dos dinossauros. Acreditava que esse reconhecimento viesse quando eu tivesse uns 70 anos”.
O segredo, diz Sandra, foi muito bem guardado pela equipe de pesquisadores e só revelado quando ela recebeu o artigo para ler.
“Eu soube da concretização da homenagem pelo professor Felipe, por uma mensagem muito carinhosa na qual estava o artigo publicado e os dizeres ‘aqui está nosso pequeno e singelo obrigado por toda a sua atenção e devoção à paleontologia!’ Foi uma honra imensa ter meu nome associado a uma nova espécie de crocodilo, especialmente em uma área tão fascinante”.
Primeiras pistas
Apesar da surpresa em ter agora uma espécie com seu nome, Sandra revela que ao longo do processo de produção do artigo, recebeu algumas pistas de que a homenagem poderia vir.
“Fui questionada pelo doutor Fabiano Vidoi Iori, um dos autores do estudo, sobre a minha preferência caso fosse homenageada dando nome a um novo exemplar fóssil. Ele perguntou qual sobrenome eu iria preferir: o meu de nascença (Simionato) ou o meu de casada (Tavares), mas não quis me contar mais detalhes”.
À época, Sandra escolheu o sobrenome de casada, porque foi o que a colocou no mundo da paleontologia. Além disso, Tavares carrega também todo o apoio que a paleontóloga recebeu do marido ao longo dos anos.
“Escolhi a segunda opção. Meu marido, Paulo Gilberto da Rocha Tavares, sempre esteve ao meu lado na minha jornada no mundo da paleontologia , onde me tornei conhecida como Sandra Tavares”.
Crocodilo mágico
Um dos autores do estudo, Fabiano Iori explica que o Epoidesuchus Tavaresae é uma espécie aquática de crocodiliforme que viveu no período Cretáceo, há 85 milhões de anos e achou um caminho evolutivo diferente.
“Ele não é da mesma linhagem dos bichos atuais, é de uma linhagem distinta que também chegou às mesmas características. Ele é uma convergência adaptativa. Então a gente tem esse bicho de uma outra linhagem, que desenvolveu as aptidões para viver em água e o focinho bem afilado, com dentes afiados, piscivoria, similar mais ou menos como os gaviais de hoje”.
A descoberta, ele diz, amplia o conhecimento de paleontólogos sobre os crocodilos pré-históricos.
“Esse bicho vem contribuir para que a gente conheça um pouco da paleontologia da região de Catanduva e poder correlacionar com os outros achados do Estado de São Paulo, de forma que a gente saiba como era esse cenário paleontológico aqui no finalzinho do cretáceo”.