Dia do Livro: escritores comentam a importância da data

Dia dedicado ao livro, comemorado em todo o mundo, tem importância para refletir sobre o papel crítico da leitura, a defesa do livro e a leitura como um direito

O Dia Mundial do Livro, ou simplesmente Dia do Livro, é comemorado anualmente em 23 de abril. Além de homenagear várias obras literárias e seus autores, a data também busca conscientizar as pessoas sobre os prazeres da leitura. Os professores Eduardo Costa (Tico)e Marco Aurélio Abrão Conte compartilharam suas ideias com o Imparcial sobre a contextualização do consumo de leitura atual, através de formatos mais digitais.

O professor Eduardo ‘Tico’ Costa em noite de autógrafo de um de seus livros

O professor José Eduardo Borges Costa, professor de língua portuguesa com especialização em produção de textos, mestrando em educação na área de processos de ensino, músico e escritor e colunista do O Imparcial inicia a entrevista falando sobre os motivos da comemoração do Dia do Livro: “É uma data comemorativa assim como muitas outras. Entretanto, não se comemora como se deveria. Neste dia destinado aos livros, pouco se vê e pouco se faz. O correto seria cultuá-lo igualmente como se faz numa uma Páscoa, Natal, num Dia das Crianças”, conta ele. As pessoas deveriam se presentear com livros, de acordo com ele. “Faltam, na verdade, atividades culturais ou educacionais destinados ao dia. O poder público precisa valorizar a data para que as pessoas tenham mais acesso aos livros e deixem de lado a procrastinação tecnológica”.

O professor Marco Aurélio Abrão Conte é formado em letras grego pela Unesp Araraquara, mestre em Estudos Literários, membro do Grupo de Estudos Culturais da Unesp Franca, diretor e autor de teatro e professor da rede Municipal de Monte Alto e particular de Taquaritinga, conta a respeito da sua visão perante a importância da comemoração da data. “Eu gosto de comparar o Dia do Livro com o Dia das Mulheres. O dia do livro tem que ser visto sob uma ótica crítica. Um aspecto que me preocupa é sobre a elitização da leitura; a leitura sempre foi algo elitizado e eu vejo com ainda mais preocupação a taxação de 12% imposta atualmente em cima dos livros. Além disso, celebrar essa data é refletir sobre o papel crítico da leitura do mundo, especialmente em mundo tão complexo. Acima da comemoração, deveria ser um dia da defesa do livro e da leitura como um direito”, destaca Marco.

O escritor Marco Abrão: Dia do Livro deveria ser um dia da defesa do livro e da leitura como um direito

Quando questionado a respeito da diminuição do interesse pela leitura, o professor é da seguinte opinião: “Primeiro nós temos que considerar o que é leitura. O que interessa refletir é sobre a qualidade das leituras de hoje. Não vejo como uma forma catastrófica ou apocalíptica. O contexto atual insere sobre a forma que a civilização caminhou para a pulverização da atenção; ou seja, nós não estamos conseguindo nos concentrar. As novas formas de leitura são importantes para a democratização de leitura, mas elas abrem espaço para a nossa capacidade de atenção. Em relação à leitura do ponto de vista dialético, sim, temos mais acesso à informação, mas isso até que ponto, de fato, acontece? A qualidade da informação é questionável, mas não toda ela”, ressalta ele.

Na formulação da mesma ideia, o professor Eduardo Costa comenta que assim como os tempos mudam, os leitores também. “Hoje em dia, não há apenas o leitor do livro físico. Num país de não-leitores temos que considerar – o leitor – pessoas que tem o hábito diário de ler qualquer coisa, desde que leia. Há aqueles que preferem o celular, o “kindle” ou o computador para a prática de tal hábito. Em tempos de pandemia, há uma possibilidade de que este público tenha aumentado, ou talvez, diminuído. Dados de uma pesquisa feita pelo Instituto Pró livro (Retratos da Leitura no Brasil) publicado em 2020, apontam que o nosso país, entre 2015 a 2019, teve uma queda de 56% para 52% de leitores. Isso corresponde a 4,6 milhões de adeptos à prática de ler.

Como citei anteriormente, a procrastinação tecnológica tem sido um grande inimigo da leitura. Maryanne Wolf, neurocientista cognitiva americana, explana que “o fato de lermos cada vez mais em telas, em vez de papel, e a prática cada vez mais comum de apenas “passar os olhos” superficialmente em múltiplos textos e postagens online podem estar dilapidando nossa capacidade de entender argumentos complexos, de fazer uma análise crítica do que lemos e até mesmo de criar empatia por pontos de vista diferentes do nosso.”, ressalta o professor Tico.

O professor Marco ainda fala a respeito da relação do hábito de leitura com o consumo digital e o índice de analfabetismo funcional (dificuldade de compreensão e interpretação textual, embora o indivíduo seja tecnicamente alfabetizado): “A nossa forma de consumir leitura passou a ser uma forma de consumo como qualquer outra no mundo. Isso faz parte de um todo e isso se tornou um problema, mas eu não acho que o consumo digital seja a causa. Reduzir o hábito de leitura a consumir um livro é perigoso. Ter best-sellers como um valor é perigoso. São consequências dos modos de produção que visam somente o lucro. O analfabetismo funcional é maior, porém o índice de hábito de leitura também aumentou”.

Ao falar da diferença de consumo e da visão se o digital substituirá o livro físico, o professor refuta, dizendo que é uma visão conservadora e pouco dialética e cita o exemplo da Amazon, que apesar de todas as contradições, a empresa vende muito. “’O triste fim de Policarpo Quaresma’” é um dos primeiros a serem vendidos na Amazon. A rigor, o livro de papel é mais prático. Os ebooks não diminuíram as vendas de impresso no mundo. Eles tendem a democratizar e a facilitar o acesso a determinados grupos. Não vejo uma diferença entre o livro digital. Nas livrarias, em contrapartida, tiveram essa questão de causa e efeito e impacto no cebo, no consumo físico do livro; o consumo dos livros em si, não”, comenta Marco. O professor Eduardo, por sua vez, também defende que os livros físicos não serão substituídos: “numa sociedade evoluída, teremos um único estilo de leitor e leitura. Os formatos digitais estão ocupando o cenário, mas o bom e o velho livro físico continua firme na luta”.

Para finalizar, Marco comenta a respeito de um dos grandes mestres e pesquisadores da literatura no país, o professor Antonio Candido, da USP, Universidade de São Paulo. “O Direito à literatura, texto do professor Antonio Candido da Universidade de São Paulo Candido vê a literatura como um direito humano. Nesse texto, Candido faz um retrospecto de como a fabulação é fundamental para a questão biológica. O cantarolar, o sonhar da criança, por exemplo. ‘A literatura é a forma mais agradável de ignorar a vida’, segundo Fernando Pessoa. É uma forma de entender o mundo, de emancipação humana, de conhecimento e organização do mundo. Eu entrei no teatro para fazer literatura; eu queria escrever peças porque eu gostaria de ver peças que eu gostaria de ter lido. A paixão crítica pela literatura que me move. Hoje, como professor, eu vejo muitas pessoas despertando par o valor, para o prazer e para a importância emancipatória”, finaliza o professor.

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