O Brasil é o país com a maior população de negros fora da África. De acordo com dados da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios (PNAD) Contínua, do IBGE, mais de 55% da população brasileira se autodeclara preta ou parda.
Apesar de maioria, a população negra está sub-representada em todos os setores da vida social do país e sofre até hoje com o legado deixado por mais de três séculos de escravidão.
Como uma forma dar luz à luta invisibilizada dessa população em toda sua trajetória de vida, o dia 20 de novembro foi escolhido como o Dia da Consciência Negra. A data marca o aniversário de morte de Zumbi dos Palmares, líder negro de um dos maiores quilombos do país, símbolo da luta contra a escravidão.
Janice Fernandes de Jesus, psicoterapeuta e Agente de Desenvolvimento do Sebrae, afirma que, embora a sociedade traga como discurso que não há racismo no Brasil, nas entrelinhas dessa fala já se percebe o preconceito velado.
“Quando observamos nosso universo – escola, trabalho e até família – fica evidente o descompasso entre falas e ações. Há de se quebrar paradigmas a todo tempo e, enquanto pessoas pretas, buscar seu lugar de fala, de ações e oportunidades no meio em que vivemos”, explica Janice.
A herança da escravidão gerou o que se entende por racismo estrutural, ou seja, uma discriminação racial enraizada na sociedade que se traduz nos âmbitos políticos, econômicos, culturais e até mesmo nas relações cotidianas.
“Quantos negros conhecemos que se destacam na cidade enquanto liderança preta? Quais oportunidades você teve? Essa reflexão nos força a enxergar nossa comunidade e a todos que nos rodeiam com olhar crítico e realista”, destaca Janice.
A tomada de consciência, por parte da pessoa preta, de seu valor e pertencimento é vista com desconfiança até por seus iguais. “Como mulher preta, percebo isso a todo momento no ambiente corporativo e social”, conta Janice. “Mesmo com habilitação e competência, as oportunidades são mínimas e há uma evidente intenção de não valorizar as realizações mesmo que visíveis”, complementa.
Segundo ela, no ambiente social é mais ostensivo, por exemplo na ida até uma loja. Janice explica que o tratamento nesses lugares é quase indiferente, mas a situação muda caso ela esteja com seu marido, que é branco. “A ideia do meu valor muda imediatamente”, acrescenta.
Ela ressalta que hoje em dia isso tem mudado, devido ao seu trabalho junto à comunidade local e sua postura de dignidade e empoderamento. Como mensagem final, Janice diz: “Ame sua pele preta, honre sua história de luta e dos que nos precederam e ocupe seu lugar no mundo!”.
Em 2023, o Dia da Consciência Negra foi decretado feriado em todos os municípios do estado, inclusive Monte Alto, após medida assinada pelo governador do estado de São Paulo, Tarcísio de Freitas.