Uma menina simples, que aos 11 anos de idade trabalhava como doméstica para uma família de classe média, tornou-se, décadas depois, uma escritora com 19 prêmios literários na estante. Isso ainda sem se tornar uma profissional 24 horas por dia, pois divide o seu tempo com os afazeres de funcionária da Caixa Econômica Federal de Mogi-Guaçu. Em Monte Alto ela era Izilda Alves de Oliveira, ou “Izilda do Imparcial”, como chegou a ser conhecida após trabalhar por sete anos neste semanário. Em São Paulo, porém, tornou-se Isa Oliveira, a escritora que está de volta para a Cidade Sonho para o lançamento de seus dois livros na sua cidade natal.
Amanhã, dia 27, ela apresenta “Elogio à loucura” (romance – 3ª edição) e “O Chapéu de Alberto” (contos – 2ª edição), a partir das 20 horas, no Bar Stúdio 8 (Rua Dr. Raul da Rocha Medeiros, 1798). “Sempre senti a necessidade de lançar meus livros em Monte Alto. Era algo que faltava na minha vida. Para tanto, entrei em contato com alguns amigos que estão me ajudando, como a Natalina Collatrelli e o Aparecido Augusto Marcelo”, comenta.
Além dos dois livros publicados, Isa ressalta ter outros 11 já escritos, com estilos variados, passando, inclusive, por literatura infanto-juvenil. “Escrever não é o problema. A minha primeira obra foi escrita em menos de duas semanas. O demorado é a revisão, acabamento e o processo de lançamento”. A autora comenta que “Elogio à loucura” está sendo adaptado para o teatro. Essa obra foi premiada, cinco meses após sua publicação, em um evento na Academia Brasileira de Letras e foi usada como tema de uma dissertação de mestrado em Psicologia.
Os anos de escritora trouxeram novos ensinamentos à montealtense. “Encaro a literatura como algo profissional. Eu costumava presentear os amigos com minhas obras, até o dia em que conheci uma escritora mais experiente que me disse: ‘Livro dado é livro não lido, desvaloriza o trabalho. Se você vai ao médico, ao dentista, contrata um pedreiro, mesmo que sejam seus amigos, cobram pelo serviço. Escrever é uma profissão. Cobre por isso’. Essa conversa mudou minha concepção e passei a encarar a escrita como ofício mesmo.”
FUTURO – Restando dois anos para se aposentar, Isa mantém o sonho de viver apenas da literatura. “Sei que é um desejo meio utópico, pois ficamos com apenas 10% do valor líquido de cada venda, por isso é importante a divulgação, o boca a boca entre os leitores e as mídias sociais, que deram um novo gás para o gênero.”. Seus livros podem ser adquiridos no site www.letrasdopensamento.com.br.
CIDADE SONHO – Isa foi para São Paulo em 1990. “Sempre achei que lá era o lugar para desenvolver o meu trabalho. Agora, estar de volta a Monte Alto, mesmo que momentaneamente, serve como uma retomada das minhas memórias. Passei por lugares que vivi e estudei, com as lembranças aflorando. Tenho leitores fieis da minha coluna Mulheres de Meia que sempre me escrevem. Espero a todos neste sábado, leitores, amigos e fãs de literatura. Será uma noite de autógrafos e abraços.”, finaliza.
SINOPSE – “Elogio à Loucura” – Para vencer a dor é preciso descobrir dentro de nós algo especial, algo que nos motive, nos impulsione, nos faça seguir adiante. Mesmo que tenhamos apenas um dia de vida, esse dia tem que valer a pena. E, na verdade, só o que temos, sempre, é um dia de vida, o dia de hoje, o agora. No castelo do amanhã pode haver coisas maravilhosas nos esperando, até mesmo o tão ansiado céu prometido pelas religiões, mas, o nosso tempo é agora, o que efetivamente temos é o hoje e só no hoje podemos ser felizes e merecer construir esse céu. Um diagnóstico de câncer – ou de qualquer outra doença grave – pode ser muito difícil de digerir, mas, pior do que ter câncer é desistir da vida, entregar os pontos, deixar de ver sentido nas coisas, perder o norte, a esperança, exatamente o que acontece com Dulce Bastos, a personagem central deste livro. Muitas vezes as pessoas só começam a perceber a importância da vida diante de uma tragédia, que pode ser o diagnóstico de uma doença amedrontadora como o câncer, uma acidente, uma falência, uma demissão, o fim de um amor, a perda de um ente querido. A vida, no entanto, precisa ser redescoberta, aproveitada e brindada em taças de cristal diariamente.
“Chapéu de Alberto” – é composto por vinte e um contos, em sua maioria inspirados em fatos reais, ocorrências do dia a dia, acontecimentos bizarros, divertidos, emocionantes. Alguns, como o que dá título ao livro, Presunto com Melão, She e A lei da inércia, possuem traços autobiográficos e tem Monte Alto como parte do cenário. Lançado em setembro de 2013, o livro teve a primeira edição esgotada em pouquíssimo tempo. É um livro que diverte e, ao mesmo tempo, emociona. Alguns contos são leves, de leitura fácil, outros mais densos, levando o leitor a refletir sobre os próprios valores, sobre a desigualdade social, os desencontros amorosos, a hipocrisia e as decepções que fogem ao controle do ser humano. Esses contos, bem humorados ou mais sérios, convivem entre si como bons vizinhos em cujas casas se misturam humor, alegria, tristeza, decepção, revolta, ternura, vida, morte, amor, indignação, esperança. O livro trata de temas como a infância maltratada e viaja no tempo até encontrar o personagem do conto She, que descreve o drama de uma pessoa com Alzheimer. Em O lobisomem a autora trata, de forma bem humorada, das crendices populares ainda presentes em muitas pessoas. A prenda e Deus é pai falam da crença no azar e da corrupção. É uma leitura que cativa e, ao chegar ao final de uma história, o leitor estará ávido pela história seguinte. A identificação com os personagens é inevitável, pois sob a aba do Chapéu de Alberto se reúnem e se abrigam pessoas reais, situações reais, sentimentos reais, ainda que vestidos com a roupagem da ficção e da fantasia.