Ano novo, vida nova? Volta às aulas e os dilemas de 2021

Por Marco Buzetto

 

Em 2020 me dediquei a escrever um artigo para uma frente de pensamento da Apeoesp – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, falando um pouco sobre a volta às aulas com ensino presencial durante as inúmeras vezes em que o Governo do Estado discutiu o tema – de forma antidemocrática, ou seja, sem a participação da sociedade, muitas vezes induzindo opções controversas que poderiam pôr em risco toda luta que parte da sociedade, a Ciência e parte da Educação vinham fazendo para garantirem um melhor controle da pandemia, menores taxas de transmissão/contágio da Covid-19 e, mesmo assim, garantindo o funcionamento – remoto – do ensino, mesmo que carregado de falhas.

 

Em resumo, o artigo passado apelava para o bom-senso da sociedade excluindo-se ideologias partidárias, pois a questão fundamental era a saúde de nossas crianças e jovens em idade escolar e, por consequência, suas famílias e comunidades. Independentemente do que acreditamos, nossas crianças são o ponto central de nossas vidas. (Obs.: Uma pessoa tem que ser muito destrutiva e irresponsável para querer expor seus filhos aos riscos de uma doença por motivos inconsequentes). À época, o artigo ganhou muita visibilidade em todo o Estado de SP, entre outros, de ambos os lados das várias moedas neste Brasil atual, e fiquei feliz (ou menos triste) em saber que as pessoas – a maioria – percebia o quão delicado era o assunto: a volta às aulas durante uma pandemia.

 

Hoje, em 2021, quase um ano após a paralização do ensino presencial e início do ensino remoto, chegamos novamente no mesmo empasse. Porém, existem muitas variantes. Hoje já sabemos contra o que estamos lutando, como lidar com a situação da doença, as formas de contágio, formas de transmissão, protocolos de saúde a serem seguidos individual e coletivamente, e já sabemos, inclusive, como a Educação soube lidar com a situação do ensino remoto aprendendo a lidar com novas realidades em tempo recorde.

 

Por exemplo, engana-se quem imaginou, imagina ou maldisse que os professores fizeram nada o tempo todo, ganharam dinheiro sem trabalhar, sendo que muitos de nós profissionais da Educação trabalhamos, no período, 16 horas por dia (às vezes mais), de segunda a segunda, lidando com atividades, planejamento, interação com alunos em horários absurdos, busca de alunos que evadiram, entre tantas coisas que as escolas, cada uma a seu modo, conseguiu fazer para garantir o mínimo de funcionamento das atividades. E aqui, pessoalmente, deixo meu reconhecimento pessoal e honrarias todas a absolutamente todas e todos os profissionais da Educação que trabalharam dentro e fora das escolas e de seus horários para garantirem a Educação neste momento tão difícil: Equipe gestora, secretarias, professores, funcionários da limpeza, da merenda, do atendimento e por aí vai, que suaram, perderam dias de sono e se desdobraram com funções totalmente fora de seus cargos para garantirem o funcionamento da Educação. Torço e luto para que um dia todas estas pessoas recebam seus reconhecimentos, e não falo de dinheiro. Falo de reconhecimento da sociedade, de uma sociedade que teima em lutar contra a Educação e desqualificar um trabalho fundamental para todas e todos nós na construção do que somos enquanto indivíduos, enquanto coletividade, sociedade e cidade no presente o no futuro.

 

Bom, sem me alongar mais, e peço desculpas aos leitores menos pacientes, chego agora ao ponto: volta às aulas em 2021.

 

Não existem dúvidas de que a necessidade do retorno às aulas é real, existe e é de grande importância. Existem questões de sociabilidade entre alunos, entre indivíduos, entre professores – os quais muitos adoeceram física e mentalmente por conta do isolamento e das altas demandas e cobranças, e mesmo assim se mantiveram firme. É fundamental a presença física de todas e todos nós dentro das escolas, pois as escolas não só ensinam, mas são também um ambiente onde os indivíduos se encontram para existir e coexistir, para ensinar e aprender uns com os outros. É fato também que entramos em um ano que promete, com esperança, a vacinação contra a Covid-19. Contudo, a Educação – alunos, profissionais etc. – não estão na primeira fase desta vacinação. Ainda é arriscado, é perigoso, é danoso, retomar o ensino presencial, pois tudo pode vir abaixo, sendo que, em matéria de vacinação, estamos falando em meses de espera, talvez um ano ou mais para se vacinar grande parte da população com, devemos lembrar, somente a 1º dose do imunizante.

 

Além disso, devemos, enquanto sociedade, comunidade, família, pais, mães e responsáveis, professores e gestores públicos, nos perguntar se nossas escolas estão – realmente! – prontas para este passo, mesmo que seja pare receberem a porcentagem rotativa de grupos de 30% de alunos no primeiro momento.

 

Existirão processos que realmente garantam as medidas sanitárias, o distanciamento social entre alunos, a não retirada de máscaras ou a não troca de máscaras por crianças que precisam de mais atenção? Os processos de higienização serão garantidos por quem? Quem serão os responsáveis dentro e fora das escolas? Pois, o município tendo o poder de deliberar, ou seja, retomar ou não as aulas presenciais, a prefeitura de alguma forma terá e manterá fiscais em regime de urgência em cada uma das escolas – municipais ou estaduais, públicas e privadas, para que tudo saia como se espera?

 

Outro ponto. Em uma realidade em que tudo possa dar errado, e espero de todo o meu coração que isso não aconteça jamais, a Saúde em nossa cidade está preparada para lidar com novos casos, variantes, internações etc.? As escolas possuem ações de primeiros socorros e profissional presente? E por Saúde, incluo aqui também a Vigilância Sanitária com sua fiscalização em estabelecimentos comerciais, locais públicos e mesmo departamentos municipais e escolas.

 

Percebam, este não é um artigo combativo que quer simplesmente criticar seja lá ou quem se possa imaginar. Muito pelo o contrário. Aqui se levanta uma reflexão, um debate coletivo de ideias, por todas e todos nós, para que tornemos possível ou não o retorno às aulas de forma presencial, híbrida (presencial e digital) ou apenas digital (ensino remoto) como em 2020. Existe aqui a voz de quem se preocupa com a cidade, que é composta por uma diversidade enorme de indivíduos, pensamentos e opiniões. Pessoalmente, não me oponho a opiniões, desde que proponham, que discutam, que enriqueçam o debate e beneficiem a sociedade.

 

Deixo aqui meu abraço carinhoso a todas e todos que se dispuseram a ler este artigo de opinião, e deixo também um apelo à municipalidade: é preciso discutir com mais paciência e mais democracia o assunto “volta às aulas” (e tantos outros). Não que não se esteja fazendo isso. Mas precisamos de mais vozes.

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Marco Buzetto é professor, pesquisador e escritor e atua nas áreas de História, Filosofia, Educação, Política e combate à violência contra as mulheres.

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Observação do autor: O presente artigo de opinião não reflete o pensamento do Jornal O Imparcial, tendo sido este apenas um veículo que cedeu seu espaço para fomento da discussão dos assuntos públicos pelo escritor. Todo o conteúdo no artigo é de responsabilidade do autor.

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