Deitei para dormir
e não fechei
a janela do dia.
A brisa da infelicidade veio
e agora estou
com febre de tristeza.
Fosse outros tempos
mamãe viria
e me daria
uma xícara de chá.
Continuaria infeliz
mas ao menos
teria a garganta quente.
Fosse outro momento
papai faria um cafuné,
santo remédio.
E vovó logo chegaria
e me contaria
com voz de vó
uma dessas coisas
que curam de tudo.
Mas agora
que o tempo passou
as janelas
ficam sempre
abertas.
Agora que
o tempo apagou
mãos para dar
xícaras de chá,
o carinho do cafuné
e avó para contar
histórias
resta-me apenas
a própria sombra
na parede branca
da casa em silêncio.
Agora só conto comigo
e a minha tristeza
tem sempre
um ar de saudade.
E como é dura
uma tristeza saudosa…