Certo dia, escrevi sobre as palavras e o poder que elas têm. Por sinal, uma metalinguagem. Falei sobre as palavras proferidas, sobre a linguagem verbal. Nestas linhas que seguem, veio-me a necessidade de falar sobre a palavra escrita. A quem pertence o ato de escrever? Aos poetas? Aos romancistas? Não. O ato da escrita vem da necessidade de colocar o mundo interior para fora. A escrita é terapia e resolveria muitos problemas pessoais se a praticássemos com frequência. Não inclua suas mensagens de texto para um amigo. Nem sempre o teu desabafo pelas palavras para o outro significa paz interior. Nós temos uma capacidade imensa de encontrar a nossa própria paz quando escrevemos para nós mesmos. É um ato solitário, mas ao mesmo tempo, solidário. Anne Frank fez do seu diário uma confissão. Deixou-nos um legado. Retratou todas as incertezas que ela encontraria quando a guerra acabasse. Infelizmente, a ambição do homem acabou com estas incertezas ortografadas por ela. Entretanto, os seus registros sobre os sonhos, o amor, a paz e as reflexões sobre a humanidade tornaram-se atemporal.
Lembro-me dos tempos em que as pessoas tinham os seus diários e os cadernos de recordações. Aquilo era fantástico. Toda vez que eu recebia um para escrever, ficava lisonjeado. Isto demonstrava que a pessoa que o entregava sentia a minha amizade. Tento me lembrar das coisas que eu escrevi. Lembro-me que tinha uma pergunta sobre o gosto musical. Eu fui o único a colocar Martinho da Vila, Beth Carvalho, Cartola, enquanto outros colocavam Zezé de Camargo e Luciano, “ Backstreet Boys”, entre outros. Bons tempos que a escrita nos fazia bem. Ela faz bem! Nós é quem não damos importância do seu poder.
Escrever um diário já foi comprovado cientificamente que ajuda e melhora a nossa saúde física e mental. Um estudo publicado pela revista Advances in Psychiatric Treatment, comprovou que as pessoas que usam palavra para descrever suas dores, tristezas e passagens traumáticas conseguem superar com maior facilidade esses acontecimentos do que aqueles que não escrevem. Deem um diário aos seus filhos e alunos. Incentivem-no a escrever sobre quedas e conquistas, sobre tristeza e alegria. Creio que o maior remédio para certas dores é a escrita. Ela nos entende e nos ajuda a superar a realidade e a enfrentá-la. Basta escrever. Levante a hashtag!