A pergunta pode parecer idiota, mas, não é. E é exatamente por não saber a diferença entre as duas coisas que muitas pessoas se veem em maus lençóis, sem conseguir saldar os seus compromissos financeiros, à beira do caos – se não completamente dentro do caos!
Eu mesma não sabia. Sempre me referi a qualquer pagamento que tivesse de fazer como dívida e, raras vezes, ao longo da vida, consegui ter um equilíbrio entre receitas e despesas, engrossando o rol dos bilhões de seres humanos que recebem o salário de manhã e, de tarde, já usaram tudo pagando aos seus credores, isso quando não precisam escolher entre o que pagar e o que deixar para o mês seguinte.
Não me conformo como, num sistema escolar que nos obriga a aprender a diferença entre um triângulo isósceles e um triângulo escaleno, que nos faz aprender a achar a bissetriz e a mediatriz, extrair a raiz quadrada de um número, encontrar o x’ e o x’’ usando o Teorema de Bhaskara para resolver uma equação do 2º grau e decorar a Tabela Periódica, não nos ensinem Educação Financeira elementar.
Na escola, não aprendemos sobre o valor do dinheiro, sobre economia doméstica, equilíbrio financeiro, investimentos, reserva prudente, armadilhas do mercado, gastar menos do que ganhamos e a diferença entre contas e dívidas.
Tem mais uma porção de coisas que não aprendemos e que fazem uma tremenda falta. Em nossas escolas, deveríamos ter, por exemplo, desde a mais tenra idade, educação emocional, para aprender a lidar com perdas, com separações, com envolvimentos afetivos.
E seria maravilhoso se as escolas nos ensinassem sobre a difícil tarefa de educar filhos, porque, tê-los, é a coisa mais simples do mundo, o simples resultado de uma cópula, ato presente no reino animal desde as criaturas mais simples, como as bactérias, no entanto, criá-los, educá-los, prepará-los para a vida é algo que temos de fazer na base da adivinhação, às cegas.
Claro, estou falando de mundo ideal e o nosso dia a dia se dá no mundo real. Não aprendemos nada dessas coisas tão importantes para a nossa sobrevivência. Não aprendemos nem mesmo a fazer um torniquete para estancar uma hemorragia em caso de emergência.
Grande parte do conteúdo que recebemos na escola parece não ter outra finalidade que nos fazer perder o sono e ter diarreia no dia da prova. Na verdade, agora nem a isso se presta, porque, diferente do que ocorria até alguns anos atrás, temos a progressão continuada. Antes, se não se aprendia esse conteúdo, repetia-se de ano ou, com sorte, ficava-se de recuperação, aquele período de tortura, férias adentro, que ainda nos oferecia a chance de tentar correr atrás do prejuízo, aprender em duas semanas o que não aprendemos durante o ano inteiro e garantir uma média C para ser aprovado. Agora, aprendendo ou não álgebra, análise sintática, interpretação de texto, estados e capitais, planícies e planaltos, história do Brasil e do mundo, vai-se para a série seguinte do mesmo jeito.
Mas, nem os pobres coitados que penavam para garantir a média para passar de ano nem os que não têm de esquentar a caixola com isso, recebem a menor preparação para a vida. Me parece, cada vez mais que, a escola, há muito tempo, tem deixado de ser um lugar de aprender.
Bem, não percamos o foco, o nosso assunto aqui é a diferença entre contas e dívidas. Conta é um compromisso financeiro futuro, que você vai precisar pagar em algum momento, como o fornecimento de água, energia elétrica, celular, internet. A dívida é quando você não paga estas contas e elas ficam atrasadas, acarretando encargos financeiros como multas, juros, correção monetária, em alguns casos, ação judicial e a ameaça de um tiro se o seu credor for um agiota! Resumindo, conta é um compromisso financeiro programado e dívida é uma promessa financeira não cumprida.
A dívidas surgem quando não calculamos bem as contas que fazemos. Diziam os antigos que, de grão em grão a galinha enche o papo, mas, de tostão em tostão, você não apenas esvazia o bolso e a conta bancária, como também entra nas maiores roubadas da sua vida, perdendo o seu sono, a sua paz e a sua liberdade.
Existem várias saídas para essas situações catastróficas, que provocam doenças emocionais, desentendimentos familiares, separações, brigas e até mesmo crimes. Não cabe aqui me estender sobre o assunto, apenas aconselho que você não deixe suas contas se transformarem em dívidas. Porém, mesmo que isso já tenha acontecido, não se desespere, porque, nesta vida, tudo passa. Uma forma saudável de vencer essa dificuldade, que leva muitos para o fundo do poço, é buscar ajuda. Existem grupos de 12 passos, como os Devedores Anônimos, um agrupamento de homens e mulheres sem vinculação com qualquer entidade que se reúnem para se apoiarem mutuamente e oferecer ferramentas para enfrentar o problema. Um dos aspectos positivos da pandemia, se é que podemos falar assim, é que, graças a ela, as reuniões desses grupos hoje são virtuais. Vale a pena conhecer. Se você tem esse problema, procure na internet “Devedores Anônimos” e participe de uma reunião, certamente você irá se surpreender com o resultado!