Ouvi falar de um mundo sem fronteiras,
sem correntes, sem barreiras.
Curiosa, resolvi partir em sua direção.
Lá chegando, encontrei crianças brincando,
mãos lambuzadas de barro, pezinhos empoeirados.
Brincavam de roda, de pique, de passa-anel.
Brincadeiras inocentes, todas alegres, contentes,
sem fronteiras, tão iguais.
Caminhando mais um pouco encontrei jovens,
crianças crescidas, brincando de piercings, tatuagens,
tentando se afirmar no mundo adulto,
cantando, dançando, procurando sentido e significação.
Inocência meio rota, mas ainda presente,
quebrando as fronteiras de um mundo insípido,
tornando tudo tão igual, tão especial,
tão cheio de esperanças e sonhos de amanhã.
Logo mais vi adultos indo e vindo,
colorindo o mundo com seus projetos,
seus mistérios, suas buscas intensas.
Homens e mulheres guardando em si
traços de infância e de mocidade,
sonhos e esperanças, sem barreiras,
sem fronteiras, tão iguais, tão especiais.
Não demorou a que eu divisasse os velhinhos,
tão calmos e tão serenos, proseando sem tempo,
sem hora marcada, sem pressa, sem mistério.
Lembrando criancices e peraltices da juventude,
recordando sonhos que se concretizaram,
amores que desabrocharam e renderam frutos,
carreiras bem vividas, missões cumpridas,
estradas percorridas, barreiras superadas.
Jogando num tabuleiro sem regras,
num mundo sem fronteiras,
tão iguais, tão especiais.
Vi que se misturavam negros e brancos,
japoneses e índios, alegres e tímidos,
deficientes e sadios,
homens sempre livres e homens
já outrora aprisionados.
Havia médicos e pacientes,
advogados e clientes,
plebeus e nobres, ricos e pobres,
policiais e transgressores da lei,
religiosos de todos os matizes,
mulheres santas e meretrizes,
ateus e profetas, calculistas e poetas,
empregados e patrões.
O palco era único,
o mesmo cenário iluminado
onde cabiam todas as gentes,
todas as formas de vida,
todas as espécies de sonhos,
toda miséria e opulência do mundo.
Ah, estaria imaginando uma utopia?
Não, este lugar sem fronteiras de fato existe:
é de Deus o sagrado coração.
Este poema substitui o meu artigo “POR QUE ELE NÃO?” que pode ser lido na minha página do Facebook: https://www.facebook.com/isa.oliveira.547727