Teus filhos não são teus filhos…

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Quando Khalil Gibran escreveu seu célebre poema sobre os filhos, em 1923, afirmando: “Teus filhos não são teus filhos. São os filhos e as filhas da ânsia da vida por si mesma. Vêm através de ti, mas não de ti. E embora vivam contigo, não te pertencem”, por certo nem de longe passou pela sua cabeça a evolução na área da genética que permitiria coisas como a reprodução assistida, a fertilização in vitro e a ovodoação.
Há mulheres que optam por não ter filhos e até discutem a questão do instinto materno como algo culturalmente imposto. São minoria e, sendo mulher e mãe, acredito no instinto materno não como um fenômeno cultural, mas como uma realidade biológica e psicológica da mulher. A maioria das mulheres sentem o desejo, o impulso, a necessidade de ser mães, de procriar. Também é minoria a quantidade de mães que, após procriarem, descartam seus filhos, abandonando-os à doação ou outros fins mais tristes. Há as que abortam. Talvez haja mais abortos do que abandonos propriamente ditos porque matar o que não se vê é mais fácil do que abandonar o que se vê.
Mas, se há mulheres que não querem ter filhos, que abortam ou abandonam, há um outro extremo em que se faz de tudo para ter filhos, tentando driblar a infertilidade e a dificuldade para engravidar. E, nesse extremo, vai-se longe, bastante longe para ter a emoção de sentir um outro ser crescendo dentro da própria barriga.
Vivemos num tempo em que as mudanças são muitas e muito rápidas e nem sempre conseguimos acompanhá-las, aceitá-las ou nos adaptarmos a elas, situação em que acabamos sendo taxados de conservadores. Esses dias assisti a uma reportagem sobre uma mulher que foi mãe aos 64 anos. Ela declarou que tentou engravidar por mais de 30 anos e acabou realizando o seu grande sonho graças ao avanço da genética que permitiu a fertilização in vitro com sêmen de seu companheiro e óvulo doado por uma desconhecida. Esbarrei de cara no muro do meu conservadorismo e viajei para uma cena em que me vi olhando para as mãos do meu filho.
Sempre gostei muito de mãos e, desde que ele nasceu, há quase 34 anos, me apaixonei por suas mãozinhas rechonchudas. Ainda hoje acho lindas as suas mãos enormes e, quando olho para elas, me emociono ao pensar que meu sangue corre por suas veias (uma metáfora que vai das mãos ao corpo todo, mas começa ali, na minha contemplação de suas bem cuidadas mãos). É intraduzível a sensação de olhar para outra pessoa e saber que metade do seu DNA é nosso, que metade do que aquele corpo é vem de uma célula nossa, que aquele ser é a nossa continuidade, a nossa perpetuação.
Admiro muito as pessoas que adotam filhos e não é improvável que um dia eu venha a fazer isso, porque ainda sinto enorme desejo de ser mãe mais vezes e, confesso, apesar de estar na casa dos 50, ainda acalento o desejo de engravidar por vias naturais, algo apenas entre mim, meu marido e Deus, sem interferência da ciência. Se isso não ocorrer, a adoção é uma possibilidade. É claro que um pai adotante não pode ter essa sensação de ter seu sangue correndo nas veias de seu filho ou de ter seu DNA reproduzido nas células dele, os valores são outros, a ligação é emocional, espiritual. Mas, consideradas essas duas formas de paternidade, a biológica e a da adoção, não vejo muito sentido em se gestar um filho que vem de uma origem totalmente desconhecida apenas para se ter a sensação de estar sendo mãe. Não me cabe isso, seja numa mulher de 64 ou de 30. Também não vejo sentido na doação de sêmen, adotada por muitas mulheres que querem ter filhos sem se casarem, fenômeno que ocorre em larga escala nos estados Unidos, por exemplo.
Ainda sou das antigas e acho que filho deve ser fruto do amor. Nem sempre é, mas, falando genericamente, é uma dádiva maravilhosa um casal que se ama expandir esse amor, traduzir esse amor em filhos. Duas pessoas que se conhecem, que fazem escolhas juntas, que têm planos e objetivos em comum e que juntas cuidarão de seus filhos. Hoje isso pode soar um tanto utópico e, como disse antes, retrógrado e conservador, mas, ninguém é obrigado a seguir todas as modernidades e, muitos modismos que vêm, passam.
Muitas coisas ainda vão acontecer nesse campo, provavelmente não estarei aqui para ver, mas é possível que a ciência chegue ao ponto de produzir seres em série, fora do útero da mulher, de forma artificial, como descreve Aldous Huxley em seu “Admirável Mundo Novo”, ou não, pois acredito que há um governo universal que permite que o homem avance até certo ponto, mas depois destrói as suas torres de Babel. Não vejo lógica em uma mulher receber dentro de si um óvulo de uma desconhecida apenas para gerar um filho que, em tese, nada tem de seu.
Hoje em dia vivemos sob a tirania do politicamente correto e precisamos ponderar muito sobre a ousadia de afirmar crenças e convicções que caminhem contra a maré dos modismos e modernidades, muitos deles ultrapassando os limites do absurdo, mas, é bom também termos o bom senso de defendermos opiniões que não se submetem ao geral, ao que nos é imposto. Não é fácil pensar diferente, mas, conforme defendeu o filósofo e escritor inglês G.K. Chesterton “Cada época é salva por um pequeno punhado de homens que têm a coragem de não serem atuais.”.

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