Belém – São Luis do Maranho. Saí de Belém pedalando como um doido, louco pra suar a camisa, ficar sujo e fedido, com saudades de pedalar sozinho, de coração aberto pro mundo sem saber o que estaria por vir, mas sempre certo de que tudo iria acontecer da melhor maneira possível, e assim foi.
Na hora do almoço, depois de 50km pedalados, uma fome repentina gritou de dentro do estômago. Eu tinha um pouco de comida comigo, então pensei logo em parar, só precisava escolher o lugar. Passei na frente de um posto policial e pensei em ficar, mas algo me disse: Segue. E quando a intuição fala, é bom atender…dois minutos depois, uma caminhonete parou no acostamento, com um adesivo grande atrás que dizia “Simprão de Tudo”… e o motorista desceu: “Ei rapaz, eu tenho um restaurante logo ali, faltam 2 km… pare lá que eu vou te dar comida”. Meu olho brilhou e eu abracei aquele homem, o seu Nogueira, “simprão de tudo”.
Mais um dia de pedal cantante, que coisa boa estar na estrada, sozinho, sem nada que te impeça de nada, com uma deliciosa música nos ouvidos e muito pensamento bonito, sentindo dentro de mim um amor que não se pode explicar… E dentre esses sentimentos, uma pessoa muito especial apareceu muito em meus pensamentos durante esses dias: Meu Pai. Todo esse trecho que fiz depois de sair de Belém é muito conhecido por ele, da época em que ele era caminhoneiro, nos anos 80. Cresci ouvindo histórias daquele lugar, e agora eu estava lá, de bicicleta, imaginando como eram as coisas antigamente. Como ele, com seus meros 20 anos, podia se aventurar por aquelas bandas, com um caminhão cheio de verduras, que experiência.
Estiquei o pedal até a fronteira do Pará com o Maranhão, onde parei na vila de Gurupí e dormi num posto de gasolina, depois de muito tempo sem fazer isso, ja estava com saudades. Armei a rede, a qual estourou logo que eu deitei. Com a bunda doída do tombo eu armei a barraca e dormi bem. No dia seguinte, mais um pedal delicioso, sempre começando bem cedinho. Na hora do almoço eu já tinha pedalado 90km, até que parei numa vila bem pequena, onde havia um circo, bem pequeno também. Perguntei pro pessoal do circo sobre onde comer e pronto, ganhei um prato. Me despedi e pedalei até um outro posto de gasolina, que me recebeu com um banheiro limpo, tudo o que eu precisava. Acordar bem cedinho e sentir a brisa fresca da manhã. Pedalar em meio a neblina que cobre os pastos e faz com que tudo pareça um sonho, é uma experiência única. O pedal de manhã é especial, é produtivo, sem vento, sem pressa… recomendo!
E esse foi o último dia da maratona Belém – São Luis, onde cheguei as 14h, depois de 100km pedalados, e fui me encontrar com outra família incrível, a do André, um cara sensacional, que fez faculdade com minha mãe e ainda hoje é muito amigo dos meus pais. Na casa: André, sua esposa Raquel, a pequena Juju (que me emprestou seu quarto), Lulu, Leine e Woody (cachorro gente), todos muito queridos, gente de coração gigante e um humor lá em cima, que me recebeu da melhor maneira possível. Agradeço pelas boas conversas, pelo carinho de mãe, comidinha deliciosa e roupa lavada. Nos vemos em Araraquara em breve para brindar tudo isso, meus queridos.
Mas antes de terminar esse diário, ainda tenho que contar sobre mais um encontro, só mais um… É que um dia antes de chegar aqui em São Luis, descobri pela internet que minha grande amiguirmã Babi Cardoso também estava na cidade. Chegamos no mesmo dia e fomos embora no mesmo dia, impressionante. Uma amiga antiga, de buteco e de sala de aula, na mesma cidade que eu… mais um presente. Algumas cervejas e muita conversa pra por em dia. Foi um prazer te ver minha querida, nos vemos muito breve, lá na nossa terrinha.
Terrinha que por sinal está cada dia mais próxima, a saudade é muito grande e isso tem me gerado uma disposição pra pedalar impressionante, além de uma imensa alegria por pensar em tudo o que tem acontecido e em tudo o que está por acontecer. Estou controlando a ansiedade, dando tempo ao tempo e vivendo um dia de cada vez, mas confesso que não dá pra pedalar sem pensar em todas as maravilhas que me esperam quando eu chegar em casa, onde vou matar saudades de muita gente, muitas coisas que sinto falta… Muita gente me pergunta o que farei da vida quando eu voltar pra casa, e eu não sei, e nem quero saber, eu sei que vai ser bom… e pra mim a vida é como um filme, a gente só sabe do que passou e do que está acontecendo agora, já o final, eu prefiro não saber. Eu prefiro mesmo é deixar o filme rodar, com aquela grande curiosidade pra saber o que vai acontecer… e quanto menor a expectativa, maior a surpresa. Viajar de bicicleta nos ensina isso: Quando eu penso no destino, o corpo fica cansado, a cabeça ansiosa, e o momento presente não tem valor. Quando eu esqueço e deixo meus pensamentos voarem no presente, aquele momento se eterniza, de tão maravilhoso.
Deixo aqui os mais sinceros desejos de paz e amor a todos vocês leitores, guerreiros. Muito obrigado meus queridos… Fiquem com Deus!!!
Beto Ambrósio.