Se fizéssemos uma pesquisa para saber a quantidade de celulares – ou qualquer outro objeto voltado à tecnologia que deixa o povo alienado – consumida no ano, isso daria uma média de mais de 90%. Hodiernamente, é difícil de encontrar um cidadão que não tenha acesso a ela.
No ano de 2015, o Brasil chegou a ter 283,4 milhões de linhas de celulares ativas, segundo a Agência Nacional de Telecomunicações (Anatel). O índice populacional no Brasil é de 207 milhões de habitantes, ou seja, pela lógica, a quantidade de aparelhos supera a da população.
E o que isso tem a ver com a educação? Tem tudo a ver, pois demonstra o quanto nós brasileiros não demonstramos interesse pelas questões educacionais, principalmente pela leitura, esta que tanto transforma um cidadão num ser pensante e crítico. Mais da metade da população brasileira pertence ao público leitor, segundo a 4ª edição da pesquisa “Retratos da Leitura no Brasil”, desenvolvida em março de 2016 pelo Instituto Pró-Livro. Confesso que, como docente e atuante na área da Literatura, não sei quem mente mais; a pesquisa citada acima ou os dados do IBGE. Isso porque esta mesma pesquisa diz que “é leitor quem leu, inteiro ou em partes, pelo menos um livro nos últimos três meses”.
Quer dizer que qualquer pessoa que leia ao menos a metade de um livro (estes pequenos de no máximo 50 páginas) já é considerado leitor? Tomemos como exemplo os países asiáticos. A Índia é o país que mais lê no mundo. Os indianos dedicam, em média, 10 horas e 42 minutos semanais para ler. Tailândia, China e Filipinas vêm logo atrás. O Brasil ocupa neste ranking a 27º posição, segundo a pesquisa da Market Research World em 2016.
Ainda falando sobre os dados do Retrato da Leitura, 74% da população brasileira nunca comprou um livro e 30% dos entrevistados nunca leram uma obra. Como então podemos classificar que mais da metade da população se considera leitora? Isso seria impossível. As pessoas jamais irão reclamar dos preços das coisas que a satisfaçam tecnologicamente, mas sempre acharão um absurdo o preço de um livro com custo de 30 reais. O que mais me preocupa com esses dados é saber que apenas 7% vem da exigência escolar. A entidade que mais deveria cobrar leitura e fazer projetos que a incentivem, não está fazendo o seu papel devidamente. A mudança começa no lugar certo. Enquanto eles permitirem o acesso à tecnologia e restringirem o da leitura, os dados citados acima sempre serão negativos. A conscientização desta também vem de casa. A família precisa saber que antes de qualquer objeto tecnológico, há sempre um espaço e um tempo suficiente para a aquisição de livros. Caso contrário, seremos apenas um povo alienado pela futilidade tecnológica.