Numa dessas aulas remotas, na qual nós professores nos dobramos e redobramos para que o conteúdo seja transmitido aos alunos, propus, como tema de uma redação, o olhar do aluno perante a situação que estamos vivendo.
Nada mais justo ter a visão do outro lado, a visão da plateia e do seu sentimento em estar vivenciando fatos que jamais poderiam (poderíamos) imaginar.
Recebi textos escritos com muita emotividade e abastados da verdade hodierna. Entretanto, o espaço aqui não caberia tanta reflexão daqueles que o fizeram. Sendo assim, num processo de seleção, escolhemos o que se segue da aluna Maria Eduarda Marquezine.
Há uma verdade tão singela e doce nessas palavras que faz com que os nossos dias, confinados e distantes dos discentes, tornem-se dias de esperança e a certeza de que, brevemente, estaremos contando sobre as vivências e as nossas experiências neste distanciamento que fomos obrigados a viver.
Derretam-se com as palavras de quem valoriza a educação.
Eduardo Costa é formado em Letras/Inglês pela faculdade de Educação São Luís de Jaboticabal, onde também cursou pós-graduação em Língua Portuguesa. Músico, compositor, poeta e escritor, exerce sua profissão lecionando nas escolas do setor público, municipal e privado. E-mail: ticodacosta9@gmail.com.
Estamos passando por um momento muito delicado. Acredito que ninguém gostaria de estar enfrentando uma pandemia, porém, cá estamos.
Não está sendo fácil para ninguém. Se para nós alunos está sendo difícil, imagina para vocês professores. Talvez não podemos saber completamente o que vocês passam, entretanto podemos imaginar.
Não deve ser fácil acordar todo dia cedo e não escutar o bom dia dos outros colegas de trabalho e dos alunos. Não deve ser fácil sentir aquela sensação “Será que eles estão aprendendo?”, “Será que eles estão me entendendo?” ou “Será que eles estão aí?”. Não deve ser fácil abrir o computador e ver apenas nossos nomes escritos, ou como muito de vocês falam, dar aula para a parede.
Sabemos que vocês fizeram de tudo para montar suas salas de aulas remotas. Uns perderam parte da cozinha e outros da sala. Usam a própria parede como lousa. Vocês fazem de tudo para tentar nos animar para as aulas. Usam perucas, fantasias, fazem brincadeiras, contam histórias, tocam músicas e mesmo assim, às vezes, não conseguem a devida atenção.
Não deve ser fácil, de um dia para outro, ter que dominar a tecnologia. O que antes eram folhas agora são telas. “E agora, que botão eu aperto?”. Esta é segunda frase mais falada depois de “Vocês estão aí?”. Sabemos que vocês, assim como nós, têm famílias e provavelmente deixam de passar tempo com eles para suas aulas, porque o que antes demorava cerca de duas horas, hoje demora o dobro.
Ao contrário do que muita gente pensa, preparar e dar aulas on-line não é mais fácil do que preparar e dar aulas presenciais. Conseguimos ver em seus olhos, em cada aula, o quão apreensivos vocês estão. Gostaríamos de dizer que vocês não estão sozinhos. Isso vai passar. Acima de tudo, gostaríamos de pedir desculpas.
Desculpas por cada pergunta não respondida, desculpas por cada “Bom Dia” ou “Tchau” não ditos, desculpas por cada câmera não ligada, desculpas por esperarem a aula ser de um jeito, mas por nossa causa, ela acaba sendo de outro, desculpas por cada tarefa não feita.
Não é fácil virar do lado e não ter ninguém para conversar, não ter nenhuma janelinha pra bater e falar um alô, não ouvir de ninguém “Você é inteligente, você consegue, eu acredito em você!”, não encontrar vocês e bater aquele papo antes do sinal, ou ouvir aquele mesmo sermão diário, mas que no fundo vocês só querem o nosso bem.
Todo mundo já ouviu aquela frase “A escola é nossa segunda casa” mesmo sendo clichê, ela é real. Muitos de nós passávamos mais tempo na escola do que em casa. E vocês, professores, são como nossos pais: ensinam-nos e nos repreendem quando estamos errados. Vocês estão sempre a nossa disposição para uma dúvida sobre a matéria, ou para um dos seus sábios conselhos de vida. E mesmo distantes, essa relação continua a mesma. Isso é só uma fase. Por mais que seja uma fase mais complicada do que outras que já passamos, vamos enfrentar do mesmo jeito: juntos. Vai passar.
E quando passar, mesmo com todas as restrições, não vamos deixar de abraçá-los bem forte e dizer nosso muito obrigado. Mas enquanto isso não passa, prometemos nos esforçar ao máximo. Se vocês precisarem de nós, estaremos aqui, como vocês sempre fizeram conosco. Obrigada por tudo.