Há momentos em que algumas situações em nossas vidas são verdadeiramente difíceis e complicadas, e nos parecem maiores que a nossa força e muito além de nossa capacidade de encontrar uma solução.
Isso não acontece o tempo todo, são casos esporádicos, que podem ter uma duração maior ou menor, de acordo com as circunstâncias e com o nosso jeito de reagir.
No entanto, há pessoas que parecem viver em crise, acumulando problema sobre problema, incapazes de se desvencilhar deles.
Outras há que, de problemas, querem distância e vivem num interminável processo de negação. Ainda que o mundo desabe em volta delas, são incapazes de tirar os seus óculos cor-de-rosa e encarar a vida como ela é.
Esta manhã, voltando da academia, deparei com esta imagem, que me deixou absolutamente extasiada. Pedi ao meu marido que fotografasse, já que a habilidade dele com a câmera é muito superior à minha: duas folhas de grama romperam o asfalto recém colocado na esquina do Campo da Lagoa, onde, segundo se sabe, embora a obra esteja paralisada, será construída uma unidade de atenção veterinária da Prefeitura. O asfalto foi posto há duas ou três semanas no local que servirá como estacionamento.
Uma camada de asfalto capaz de sustentar toneladas de peso dos veículos que serão colocados sobre ela não foi capaz de oferecer resistência para um brotinho de grama que a atravessou com muita classe para se expor ao sol deste outono frio.
Poderia usar um viés mais negativo e questionar a qualidade do asfalto usado, que está deixando brechas para o mato crescer por frestas que não deveriam existir. Mas, não vou caminhar nesta direção. Não vou falar do demérito do asfalto, mas do mérito do broto de grama, que foi capaz de vencer um obstáculo tão poderoso para procurar a luz e continuar cumprindo a sua função de existir.
Que exemplo nos dá essa graminha, tão frágil e tão poderosa! A sua persistência e ousadia nos faz lembrar de um interessante bordão: “Quem quer, dá um jeito. Quem não quer, dá uma desculpa.”
Essa afirmação popular nos mostra que sempre é possível resolver o que quer que seja. E, mesmo quando não for possível resolver, nada nos impede de tentar, se tivermos boa vontade, garra, persistência.
Não temos controle sobre tudo. Na verdade, temos controle sobre muito poucas coisas. Que controle a grama existente no lugar do novo estacionamento poderia ter sobre a grossa camada de massa asfáltica que foi derramada sobre ela? Primeiro, ela foi cortada, mas não bem cortada o suficiente para ter a raiz extirpada e morrer.
Primeiro ela deve ter pensado – supondo que à grama fosse dada a faculdade de pensar: “Que sorte! Me cortaram, mas minhas raízes estão intactas e logo eu poderei brotar novamente!”. Mas, como a de pobre, a alegria da grama também durou pouco e ela foi sufocada por uma grande quantidade de piche. Estava selado o seu destino, só que não.
Por essa, nem o asfalto esperava e deve ter-se sentido bastante humilhado – se tivesse sido dada ao asfalto a faculdade de sentir e se preocupar. Afinal, dependendo do prisma que se encare, é, para o asfalto novo, uma grande humilhação ser atravessado por duas folhinhas tão frágeis, cujo único objetivo parece ser o de procurar a luz do sol.
As pessoas determinadas, quando querem alguma coisa, não há piche que as paralise, não há obstáculo que as faça recuar. Já aquelas que não querem nada com nada, vão sempre arranjar uma desculpa, mesmo quando, sobre elas, em vez de uma camada de asfalto pouse apenas um fino, leve e quase imperceptível véu de filó.
Com pessoas assim, nem adianta insistir, porque, para elas, tudo é difícil, complicado, sem saída, melhor deixar pra lá. Um broto de grama, sozinho, não terá poder algum sobre o asfalto do estacionamento. Porém, se outras, seguindo o seu exemplo, começarem a atravessar o piche e aparecer aqui e acolá, além de humilhado, o asfalto estará comprometido e, no mínimo, precisará ser refeito.
A foto é muito simples, mas merece ser posta num quadro pelo seu enorme significado: um exemplo explícito de superação e fé.