De acordo com um antigo ditado, quem diz a verdade, não jura. Com base nisso, podemos afirmar que quem faz, não promete. Mas a gente promete, e muito! Já fazer mesmo… E uma época em que as promessas se renovam e pipocam por todos os lados é na passagem de ano. Creio que, com a nostalgia da despedida do ano velho, bate um certo arrependimento das coisas que poderíamos ter feito, mas não fizemos, então, em vez de fazermos uma reflexão séria e nos conscientizarmos daquilo que é possível, daquilo que temos condições reais de fazer, olhamos para o ano novo que nos acena e prometemos tudo de novo, ano após ano, promessas que dificilmente conseguimos cumprir como: deixar de fumar; iniciar aquela dieta que nos deixará 10, 20, 30 kg mais magros; recomeçar a academia (dessa vez pra valer!); diminuir o tempo no Facebook; parar de postar no Instagram fotos de todos os pratos que cozinhamos; sair de duas dúzias de grupos e parar de mandar gifs de bom dia, boa tarde e boa noite no Whats App; não fazer mais dívidas; cortar o açúcar e parar de tomar refrigerante; sair daquele relacionamento que nos detona; pedir desculpas para todas as pessoas que ofendemos neste ano, no ano passado, no ano retrasado, na outra encarnação.
A questão sutil, que quase não percebemos, é que temos limites e que, quanto mais o tempo passa, maiores esses limites se tornam. Nós podemos um tanto, querer ir além disso é andar de braços dados com a frustração. Não estou dizendo que devemos ser acomodados, longe disso. Subestimarmos nosso potencial, nossa capacidade, nossos talentos também é algo muito grave. O que precisamos é achar a justa medida e nos comprometermos com aquilo de que realmente poderemos dar conta. Aprender a abrir mão também é sinal de sabedoria e aquelas coisas que a gente tenta, tenta, tenta fazer e não consegue podem ser sinais de coisas que a gente não quer, de fato, fazer e que nem são importantes para nós. Talvez, a mania de prometer que as faremos seja mais para tentarmos nos mostrar ou nos comparar com outras pessoas.
Prometer não é legal, o legal é fazer e entender que há uma diferença muito grande entre compromisso e promessa. A pessoa que assume um compromisso, geralmente faz aquilo com que se comprometeu, já aquela que faz promessas, raramente cumpre o que prometeu fazer, para si e para os outros. E isso se dá até na esfera religiosa. Os católicos, por exemplo, costumam fazer promessas a Deus ou aos santos de sua devoção em troca de algo de que necessitam. E as nossas promessas costumam ser até ridículas perto das bênçãos ou dos milagres que pedimos – e que muitas vezes obtemos – mas, mesmo essas promessinhas que incluem velas, terços, romarias, a gente não consegue cumprir. Uma pessoa da minha família prometeu um saco de cimento para a construção da igreja de Santa Edwiges em troca da transferência de local de trabalho de um parente. A transferência se deu, a pessoa até já se aposentou, mas, se, Santa Edwiges depender desse saco de cimento para ter a sua igreja finalmente terminada, coitada, vai permanecer com a construção inacabada, porque o pagamento dessa promessa se arrasta há anos e as desculpas para o não cumprimento se acumulam.
O início do ano é a melhor época para fazermos planos, para definirmos metas, traçarmos rotas ou buscarmos rotas alternativas para aquelas que não estão funcionando, porém, não podemos perder de vista que o ano que se inicia tem apenas 12 meses, que cada um desses meses tem apenas quatro semanas cada um, e que cada umas dessas semanas tem somente sete dias de 24 horas e que não cabem muitas coisas nesses fragmentos de tempo, principalmente porque somos especialistas em desperdiçar minutos preciosos com bobagens. Minutos que viram dias, que viram semanas, que viram meses, que viram anos…
Os sonhos não têm limite, e nem devem ter mesmo, mas, a execução deles, sim, porque, se nos sonhos tudo é possível, transformá-los em realidade demanda tempo, dinheiro, planejamento, maturidade, renúncia, disciplina e muita determinação. Em vez da promessa de acabar o ano que vem com o corpo ideal, podemos iniciar uma reeducação alimentar séria para ter um corpo saudável; em vez de fazer um plano anual na academia e jogar dinheiro fora, podemos adotar uma rotina diária e simples de exercícios, com caminhadas pelo bairro, uso da escada em vez do elevador. Em vez de nos afogarmos na culpa por não conseguirmos abandonar as redes sociais, apenas disciplinar o tempo de uso do celular e conversar mais com as pessoas de verdade, utilizando tudo de bom que a Internet nos oferece, sem nos escravizarmos a ela. Em vez de tentar fazer reparações com pessoas que nem sabemos por onde andam, apenas pararmos de magoar as que estão perto, enfim, há muitas coisas pequenas e possíveis que podemos fazer cotidianamente, porque viver e ser feliz é algo muito simples.
Vamos tomar como base o exemplo do nosso futuro presidente da República, que açambarcou a esperança de milhões de brasileiros e traz nas mãos a responsabilidade de colocar nosso país nos eixos, não nos esqueçamos que ele prometeu reduzir os 29 ministérios para 15, mas teve de aumentar esse número semana a semana, chegando aos 22 e olha que ainda pode haver mais desdobramentos, porque promessas fora do possível, por mais que acreditemos nelas ou que levemos as outras pessoas a acreditarem, só conduzem a um resultado que, publica ou particularmente, todos nós conhecemos muito bem.
Que 2019 seja um ano lindo, bom, calmo, harmonioso, com progresso, com justiça, com respeito, com segurança, com dignidade, com amor, com bons resultados e que isso comece a partir de cada um de nós, com mais ações, menos promessas e com muito empenho de fazer sempre o melhor, porque uma única ação bem-feita é muito melhor do que dez lindas promessas não cumpridas.