Professor, em quem você vota?

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Há tempos que os meus alunos vêm me fazendo uma pergunta: Professor, em quem você vota? Eu sempre respondia que não falava de política em sala de aula, porque somos um país democrático e temos a livre escolha de votarmos em quem quisermos. Sempre afirmei que o meu papel ali é lecionar, falar sobre a língua materna, sobre poesia, sobre livros e não para falar sobre preferência ou lado político.

Entretanto, continuavam a me questionar sobre quem eu votaria. Em determinado momento, eu coloquei o meu livro em cima da mesa e pedi atenção de todos da sala. Fiz algumas perguntas: Quem acordou hoje e arrumou a cama? Quem tomou o seu leite e colocou o copo na pia? Quem colaborou, logo cedo, com as rotinas da casa? Obviamente, poucos levantaram a mão e outros tentaram se justificar. Continuei com a seguinte afirmação: se querem falar sobre política comecem a fazê-la dentro da casa de vocês. Política é responsabilidade e compromisso com o próximo. Se não tem disposição em arrumar uma cama, colocar um copo na pia e nem colaborar com as tarefas cotidianas da casa, não tem moral suficiente para falar sobre o tema. Se não tem capacidade para desenvolver tarefas simples, não estão preparados para apontar o que é melhor para o Brasil.

Se colam na prova, como vão falar sobre corrupção? Se não respeitam os colegas, as divergências, as diferenças étnicas, religiosas, como podem discutir sobre democracia? É fácil apontar para determinado candidato e regurgitar todo o tipo de ódio e escárnio, mas é difícil olhar para nós mesmos e reconhecer os nossos erros. Nem sempre o problema está em quem elegemos. Às vezes, o eleitor é o grande problema. O eleitor que não lê, que procrastina e que acha que vai mudar o mundo fazendo dancinhas e babaquices nas redes sociais, não é o tipo de pessoa que vai mudar um Brasil político.

Com estas palavras, quis mostrar que não basta falar sobre o tema, mas sim agir. Esta ação está presente nos pequenos fatos do nosso cotidiano que também podem configurar um ato político. Entender como ela funciona é uma questão de tempo, de vivência e de leitura. Mas as raízes devem começar nas pequenas coisas. É nestes pequenos atos que construiremos grandes eleitores e, talvez, um bom político.

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