Conheço pessoas que afirmam gostar do inverno. Eu não sou uma delas. Da mesma forma que há pessoas que sofrem demasiadamente com o verão, por causa do calor, ficando mais sujeitas a alterações da pressão arterial e de mal-estares consequentes dessas alterações, eu sofro com o inverno, por causa do frio, e tenho oscilações de pressão e de humor nesse período.
O verão costuma deixar algumas pessoas fisicamente indispostas, mas o inverno deixa muitas outras emocionalmente indispostas, tanto que há um tipo de depressão muito incidente nesta época, conhecida como depressão sazonal. Nos países mais frios e úmidos e com menor intensidade do calor do sol os casos de depressão costumam ser bem severos e atingir boa parte da população, interferindo até mesmo no jeito de ser, no comportamento usual das pessoas – ainda que não sejam depressivas.
O inverno é um tempo de espera e a espera pode ser uma das experiências mais difíceis na vida de uma pessoa. Por causa do frio e o do recolhimento suscitado por ele, os dias parecem mais longos. É como se o tempo não tivesse pressa em passar e desse dois passos para frente e um para trás, tornando tudo muito moroso, lento, pesado. O irônico é que, apesar dessa lentidão, dessa aparente demora, é exatamente no inverno que vemos o tempo passar, porque, nas outras estações, mais envolvidos com o movimento, mais ativos, nem nos damos conta de que o tempo passa, mas, no inverno, sim. Percebemos que o tempo passa por nós e, principalmente, que nós passamos por ele. É no inverno que envelhecemos ou que nos damos conta de que envelhecemos.
O outono traz o anúncio da finalização de um ciclo e o inverno, a sua concretização. A natureza adormece, muitas espécies vegetais entram em latência e animais em hibernação. Havemos de concordar que as noites de inverno são lindas e os dias ensolarados, ainda que frios, também possuem uma cor e um brilho diferentes, no entanto, os dias cinza, os dias chuvosos e frios são, para pessoas suscetíveis como eu, muito difíceis de suportar.
No inverno, as atividades corriqueiras da vida não param (exceção do período de férias escolares e do recesso de magistrados e parlamentares), mas, seria bom se parassem, se pudéssemos, como os ursos, as tartarugas, as formigas e outras tantas espécies, poder hibernar num sono profundo, vivendo apenas no domínio dos sonhos, para acordarmos felizes e renovados na primavera, ressuscitando, como as plantas, que se cobrem de um verde novo inigualável e logo explodem na multiplicidade de cores das flores que enfeitam a vida e os nossos olhos e cantam as belezas da criação.
No entanto, as esperas são necessárias e até mesmo a morte o é, cumprindo seu grande e importante papel na transformação de todas as coisas. A morte é o inverno da vida e, naquele mundo etéreo no qual acreditamos, mas desconhecemos, se há um inferno, ele deve ser profundamente úmido e frio, um inverno constante. Não um fogo eterno, porém, um frio eterno, pegajoso, escuro e devorador.
O inverno é também um tempo de repouso e refazimento e cada vez que a ele sobrevivemos, renascemos com um verde novo correndo nas veias, preparados para florir mais uma vez, para produzir e dar frutos. Conquanto o inverno seja também mais propício ao aconchego e até mesmo à solidariedade, se eu pudesse escolher, seria como as formigas, estocaria alimentos, energia e palavras suficientes para me manter na toca até o frio passar e as estações da minha vida seriam, a cada ano: primavera, verão, outono, primavera.
Felizmente, Deus me plantou em um país tropical, onde neve só se vê em fotos, filmes e vídeos e, no geral, nem faz tanto frio. Espero que quando chegar a época do meu inverno definitivo, Ele tenha a bondade de vir me colher numa agradável e amena manhã de primavera, como a uma displicente flor que ainda tenta dar o melhor de si no canteiro para onde a vida a transplantou.