“A fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.” (Hebreus, 11:1).
O Natal é o evento que mais mobiliza as pessoas. Muda a atmosfera ao nosso redor. São as músicas que ouvimos, os enfeites que vemos, as cores, as luzes, os preparativos para as festas, as comidas típicas. Independente do aspecto comercial que domine a data, algo acontece que parece tornar as pessoas melhores, mais animadas, mais amistosas e mais amorosas, ainda que essa transformação benéfica se dissolva entre o 25 de dezembro e a primeira semana de janeiro. Podemos dizer que uma aura boa toma conta do ambiente e parece que uma magia vai transformar tudo em paz e bem.
É certo que muitas pessoas também se deprimem nessa época pela dificuldade em administrar a saudade dos que partiram com a presença dos que ficaram, dificuldade de organizar as próprias memórias, alimentando a sensação de que no passado tudo era melhor, que bons tempos existiram e se esvaíram, restando deles apenas a lembrança e o pendor à lamentação diante da impossibilidade de parar o tempo. Essa impressão de que o tempo que passou é que era bom é meio boba, porque nos faz ter o desejo de voltar ao passado, mas, voltar a que ponto? Se pudéssemos congelar a nossa história, em que ponto faríamos isso, se o presente raramente nos parece bom e só se torna bom quando contemplado do futuro, então transformado em passado?
Há pessoas que não comemoram o Natal porque dizem que não foi no dia 25 de dezembro que Jesus nasceu. E não foi mesmo, assim como não foi também no ano 1 da Era Cristã, mas, alguns anos antes. O próprio calendário sofreu alterações, de dez, passou para doze meses e o Ano Novo passou de Março para Janeiro. A questão não é saber a data exata do nascimento de Jesus para poder comemorá-la. Esse é um raciocínio muito simplório. A questão é que não houve na História humana outro homem que dividisse o tempo em antes dele e depois dele e nenhum outro é lembrado e tem seu aniversário comemorado mais de dois mil anos depois de sua passagem pela Terra. Aí está a importância, no ser, e não na data em que ele tenha supostamente nascido.
Jesus Cristo, cujo Natal festejamos, veio para nos ensinar a importância da fé e eu não conheço expressão melhor para definir a fé do que a do apóstolo Paulo em sua carta aos Hebreus, quando ele diz que “a fé é o fundamento da esperança, é uma certeza a respeito do que não se vê.”. A fé é uma certeza, a despeito de qualquer argumento contrário. Tem muita gente que sente dificuldade em ter fé em Deus e nas coisas espirituais por se tratar de coisas que não se veem, no entanto, acreditam em amigos virtuais do seu Facebook que nunca viram e nem sabem se existem de fato. Acreditam no ar que respiram, embora não o vejam e acreditam nas bactérias, que também não veem, pois, se não acreditassem na existência delas, não tomariam os antibióticos que os médicos receitam.
Conquanto o mundo criado por Deus seja objetivo, o próprio Deus tem um caráter subjetivo, é alguém que está em todos os lugares e parece não estar em lugar nenhum. É um ser que é. Apenas isso, sem necessidade de quaisquer acréscimos. E, se Jesus é Deus, se é o filho de Deus, se é um ser mais evoluído que todos, não importa, porque o fato é simplesmente que ele é. E é o seu aniversário que se comemora.
Quando iniciei o artigo falei da atmosfera do Natal, da aparente modificação no comportamento das pessoas, mas, é de lamentar que essa mudança só ocorra nessa época e que seja tão fugaz quanto a chama da vela que se acende na noite de 25 de dezembro, que não perdure. Muitas reuniões de família acabam em brigas pela simples discordância sobre os pratos que se vai cozinhar e as bebidas que se vai servir. Quando Jesus Cristo não está no centro, quando o foco não é a simbólica comemoração do seu nascimento, até o simples fato de presentear alguém pode se transformar em motivo de discórdia. Quando o personagem principal é o homem, invariavelmente a paz, a harmonia e a concórdia acabam comprometidas, porque acaba-se disputando o papel principal; muitos querem ser os protagonistas e não se contentam com papéis secundários, gerando uma disputa de egos e relegando a segundo plano o único que deveria, de fato, ter importância, mas que acaba aparecendo na noite festiva como mero figurante, isso quando não é cortado do elenco para não atrapalhar as comemorações.
Eu não vou falar dos que passam fome, dos que estão nas ruas, nas prisões e nos hospitais e para os quais deveríamos voltar a nossa atenção, tornando um pouco melhor suas misérias, pois isto seria um tanto hipócrita. Falo do mais simples, do mais próximo, dos nossos encontros entre amigos, entre familiares, palco de nossas mais importantes apresentações, nos quais, infelizmente, parece que sempre estamos improvisando, ensaiando e ainda temos muita dificuldade em viver em plenitude, com perdão, aceitação, amor, misericórdia, respeito.
É preciso ter fé no que não vemos para tornar um pouco melhor a existência que vemos e experimentamos cotidianamente e levar um pouquinho dos sons, das cores, dos aromas e da magia do Natal para os outros dias do ano. Mais do que festejar, comer, beber, se empanturrar, é preciso deixar Jesus nascer, de verdade, dentro dos nossos corações.