Por dentro, por fora. Por fora, por dentro

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Por muito tempo, me senti a última dos moicanos, ou talvez a última dos Neandertais, uma pessoa de hábitos primitivos e completamente desvinculada da feérica realidade virtual. Mas, o mundo gira e chega uma hora que a gente precisa mudar. Resolvi ceder e quebrar a resistência em publicar meus livros no formato digital. E lá fui eu aprender a editar e publicar e-books na Amazon…

Ah, mas, não é só isso! Agora precisa criar uma página na plataforma KDP. Tá pensando que vai descansar? Se liga! Agora vai pro Youtube, pro Face, pro Twitter, pro Instagram. (Crianças, não escrevam “pro” nas provas e, muito menos, nas redações, escrevam “para o”, por favor).

E lá vou eu, ressuscitar uma conta no Instagram de quase dez anos atrás. Nem sabia mais como postar uma foto e a diferença entre feed, reels e story ainda é um mistério para mim. Ah, e tem hora certa para postar, e tem o jeito certo e as hashtags certas e o algoritmo… Cansei!

Olha, o Facebook ainda existe e precisa postar lá também! Entro. Puxa, tenho mais de mil amigos! Por onde anda todo esse pessoal? Vejo uma sinalização de mensagens recebidas e vou verificar. Eram do dia do meu aniversário. Muitas, muitíssimas. Não é que tanta gente assim se lembre de mim, claro, mas o aplicativo lembra as pessoas e elas escolhem cumprimentar ou não e, se escolheram, é porque gozo de certo afeto, e isso me agasalhou o coração.

No dia do meu aniversário, eu viajei para Campos do Jordão e deixei o celular. Não, não foi esquecimento. Foi escolha. Três dias desconectada. Tá, preciso admitir que fiquei meio solitária, porque as quatro pessoas que viajaram comigo levaram os delas, então, fiquei meio que sobrando… Mas foi muito bom! Pena que, ao voltar, com a distração da quebradeira de Brasília, ocorrida no último dia da minha viagem, nem me lembrei de entrar no Face. O tempo acabou passando e todas aquelas demonstrações de carinho, emojis, videozinho, textinhos e textões ficaram lá, sem conseguirem chegar até mim, apesar de ficarem na minha mesinha de cabeceira todas as noites, porque uso o celular como despertador. Tão perto e tão longe…

Mas, quando entrei para fazer a divulgação do e-book e vi tudo aquilo, o mínimo que poderia fazer era responder a todos e o fiz, nominalmente, com uma mensagem de gratidão a cada um. E isso também fez muito bem à minha alma. Imagino que deva ser a mesma sensação de um morto no dia da sua Missa de 7º Dia. Pessoas que ele já não pode tocar, abraçar, ouvir, mas que estão ali, juntas, vibrando coisas boas para ele.

Bem, para dar continuidade ao meu trabalho de divulgação – gente, perto disso tudo, escrever um livro é uma coisa tão fácil! – eu precisei gravar alguns vídeos e aí entrou a parte pior. Não é a minha praia. Falei para o meu marido que não ia fazer porque não gosto da minha aparência em fotos e vídeos e lá foi ele para uma loja de cosméticos e me comprou tanta coisa de maquiagem que eu nem sei para que serve e muito menos como usar… Qualquer coisa além de um batom já me faz sentir parecida com o Bozo – o Bozo palhaço, dos anos 80, do SBT, de cabelos laranja, bem entendido, por favor!

Mas, já que tinha de ir para as redes, fui, e acabei tomando uma overdose daquilo. Como minha área de interesse é a literatura, o algoritmo despejou uma enxurrada de escritores e afins nas minhas contas. Deu até desespero, acho que não vou conseguir vender livro para ninguém, porque a impressão que tenho é que não existem mais leitores, foram substituídos por escritores. Uma avalanche, parece praga! Todo mundo agora virou escritor! Acho que é por isso que as grandes livrarias estão quebrando, cada vez mais escritores e menos leitores, quem aguenta o tranco?

Mas, uma coisa mexeu muito comigo nessa história toda. Eu percebi que gosto muito de mim por dentro, mas, o “por fora” não é algo que eu goste de mostrar. Quase desejei usar burca… Não tenho nem vontade e nem necessidade de gastar um tempão com maquiagem, roupa, acessórios, ensaio para treinar a voz, teste de microfone e iluminação. O que tenho para mostrar está dentro de mim, está lá nos meus livros, nos meus textos. As pessoas não precisam ver a minha cara, a cor do meu batom e se o brinco combina com a blusa para acessarem o que vai na minha alma.

Notei, porém, nas muitas coisas estapafúrdias que vi, que a dinâmica deste mundo virtual é outra. Das pessoas que estão ali, grande parte está mais preocupada em mostrar o seu “por fora” – e algumas até tentam fazer de conta que o seu “por dentro” é relevante, mas, apenas na medida que ele valoriza mais o seu “por fora”.

Infelizmente, creio que em nenhuma época da história da humanidade se viu tanta futilidade junta e, quem não se adequa, fica assim como eu, uma moicana Neandertal, que não consegue diferenciar reels de feed e que transporta uma bagagem de muitos anos e de muitos aprendizados que não cabe e nem interessa a esse mundo de rolagem rápida, curtidas sem sentido, toneladas de conteúdo sem conteúdo e horas perdidas vendo nem sei o quê e nem sei por quê.

Precisarei insistir ainda neste universo de luzes estroboscópicas que nos cega cada vez mais e nos faz perder o sentido do que realmente importa, afinal, é ali que agora meus “e-books” foram morar e preciso da rede para apresentá-los às pessoas. Mas, continuarei lendo muito, escrevendo longos textos e construindo livros, porque essa fase de loucura e vazio, de curtidas e haters, de coraçõezinhos e cancelamentos, como todas as outras, também vai passar e, dia chegará que os novos seres iluminados que estão vindo habitar este planeta, terão prazer de, num dia frio, pegar um chocolate quente e encontrar um bom lugar para ler um livro. E então, mesmo não estando mais aqui, eu continuarei existindo e a minha vida terá valido a pena.

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