No dia 03 de fevereiro de 2015, um jovem de apenas 19 anos, Guilherme Henrique, partiu deste mundo. A sua partida dilacerou muitos corações e mudou o rumo de muitas trajetórias, inclusive da minha. A minha estrada, que era reta e íngreme, de repente tornou-se plana e me apresentou uma curva de 90 graus e, após ela, mais algumas curvas sucessivas e mudou tudo. Eu não conheci o Guilherme pessoalmente, mas, a sua partida mudou para sempre a história da minha vida e me ensinou dimensões do amor que eu ainda não conhecia, me ensinou a amar o impalpável, o inatingível, o imponderável, a amar alguém que eu nunca vi e nunca verei enquanto estiver neste plano de vida.
Pela ocasião do aniversário de sua partida, o seu pai – hoje meu marido, amigo, amante, companheiro e eterno enamorado, o escritor Henrique Campos – compôs um texto comovente sobre a saudade e esta semana eu decidi ceder a ele o espaço desta coluna, para que meus leitores apreciem e sintam os tamanhos da saudade…
“O tempo não para! Só a saudade é que faz as coisas pararem no tempo.” (Mário Quintana)
Certa vez, lá no passado, meu querido avô Toninho – com sua simplicidade sagaz – disse: “A saudade é algo com que nos acostumamos, quando não se tem como olhar e tocar, mesmo que de leve, quem já partiu.”.
Tentamos entender isso, embora se sinta na carne as dores de quem quer tocar e acariciar sabendo que, na memória, teremos lampejos dos momentos vividos. No dia a dia, seguimos afoitos para cumprir os compromissos assumidos, os afazeres que a nós foram outorgados. Quando acordamos, sentimos que mesmo com tantas alegrias, tantos planos para por em prática, a felicidade não estará completa. Faltará algo. E de novo vem a famigerada saudade.
Muitas vezes, para administrarmos a saudade criamos na mente as matrioscas – bonequinhas russas que, da menor para a maior, vão se encaixando entre elas até que, de todas, reste apenas uma sendo que, acondicionadas a ela internamente, somam-se muitas. Assim, colocamos, uma a uma, as faces da saudade dentro do peito. Temos que lidar com ela. Nesses momentos, é imprescindível não estar só. Ter com quem dividir a dor, as lágrimas, ouvindo uma doce voz que nos afaga, ofertando o ombro para que se possa chorar ou mesmo chorando junto, até que se adormeça.
Tentamos nos completar. Mesmo que uma das peças fundamentais para a nossa felicidade esteja ausente, seguimos a caminhada, tropeçando aqui e ali, seguimos contando os dias a considerar mais um vivido a cada final de tarde. Aí, aparece a esperança. Esperança de um dia reencontrar quem tanto se amou. Um amor que ultrapassa os limites do material. Algo que interpretamos como um combustível para sobreviver. Pensamos no passar do tempo. Às vezes achamos que ele é moroso. Que muito ainda falta para o encontro final. Desta forma, sentimos angústia e procuramos nos reconfortar com os pragmatismos religiosos. Nele, conduzimos nossas ações. Através da religião tentamos diminuir o sofrimento. Muitas vezes atingimos os objetivos. A fé pode transformar as pessoas. Ela pode desencadear uma esperança que irá nos alimentar. Tomamos deste alimento. Sentimo-nos fortes para enfrentar as “noites traiçoeiras”.
Nem todos conhecerão a tristeza de perto – espero que nunca – e ela pode espreitar qualquer um. Cabe a nós, os escolhidos, saber conduzir da melhor forma possível a maneira de encará-la e discernir sobre como vamos nos adaptar a todas as mazelas advindas dela. O caminho é árduo, as lágrimas serão companheiras pelo resto de nossa existência, porém, a esperança que se instala no coração, pode transformar a espera em algo que nos dê forças. Quando fortes, enfrentamos qualquer coisa, mesmo os problemas da corrida do viver ou o olhar adiante para o futuro que, mesmo que possa parecer distante e surreal, sabemos que, em outro mundo que não este, poderemos descansar nosso cansaço da saudade, num abraço eterno de quem se ama e sendo um filho amado, desta ação nunca mais sair.
Me espere, meu querido filhinho Guilherme Henrique, um dia o papai chegará aí para cuidar de você, como antes…