Nós professores, diariamente, observamos e percebemos as mudanças que acontecem nos nossos alunos. Ultimamente o que tem mais chamado atenção é a questão do gosto musical dos nossos discentes. Às vezes, na sala de aula, ouvimos algumas crianças ou adolescentes cantando trechos de músicas que, mentalmente, fazemos a seguinte declaração “Meu Deus, cada música que essa molecada escuta”. Pois bem, vamos imaginar o seguinte: as pessoas nascidas da década de 80, (creio que essa foi a última leva da convivência da boa música) cresceram ouvindo Chico Science, Engenheiros, Cidade Negra, Cássia Eller no auge da sua carreira, as letras conscientes dos Racionais MC´s (sou do tempo em que o Rap ainda era marginalizado na cidade de Monte Alto), Barão Vermelho, Jota Quest entre outas bandas de vários outros gêneros que marcaram uma geração, conseguem ainda passar todo esse conhecimento da boa música aos filhos que virão. No meu caso, como sempre gostei de MPB, samba e chorinho, tento aos poucos apresentar ao meu filho a rica musicalidade que temos em terras Tupiniquins. Hodiernamente o que me preocupa são os pais da geração de 2000 em diante que cresceram e/ou estão crescendo ouvindo todo tipo de lixo musical que tem surgido nesses últimos tempos. Não venham me falar que cultura não é o que a gente gosta e sei que muito bem que gosto não se discute, mas sei muito bem o quanto a qualidade musical influencia no crescimento de uma criança. As letras com palavras chulas e de baixo calão onde a mulher é símbolo de objeto sexual é o que mais deixa os poucos cabelos que eu tenho ( agora não mais ) de pé. Fico pensando uma criança de 10 anos cantando os desejos sexuais de um jovem compositor – não sei se essa é a palavra certa para quem escreve este tipo de música – sem ao menos saber o que significa. As crianças de hoje em dia estão crescendo sem saber quem é Chico Buarque, Caetano, Gil, Cartola, Adoniram Barbosa e as demais bandas citadas anteriormente. Isso é uma questão cultural. Vem de casa. Nós transmitimos aos nossos filhos toda bagagem de conhecimento que levamos da vida, inclusive a musical. Pode parecer bobagem, mas a música influencia na personalidade de uma criança. Muitas vezes ela acaba adquirindo hábitos daquilo que ela ouve: modo de vestir, modo de falar e às vezes o modo de se comportar. Temos uma diversidade musical muito grande, mas que aos poucos está sendo esquecido pelo simples fato dos pais não apresentarem aos filhos toda essa riqueza. Apresentar essa riqueza não é fazer com que o filho siga o gênero preferido dos pais, mas sim apresenta-lo uma qualidade musical. Com o tempo ele vai escolher um de sua preferência e obviamente terá contato com os chamados lixos musicais, porém ele saberá discernir o que tem qualidade e o que não a possui.
