ESFERA
A Terra é redonda, o Brasil não! O patriotismo brasileiro está ligado ao futebol cujo instrumento é a bola. Vincular sentimento cívico a um esporte é uma temeridade, porque a essência da atividade esportiva é a competividade, enquanto a civilidade é formada pela união social. O futebol, embora seja considerado popular, é um esporte oligárquico, que coloca os vencedores no olimpo e relega a imensa maioria no ostracismo, fazendo parte dos milhões de subempregados do Brasil.
Nos cento e trinta anos de república, o país teve um Pelé, para ser atual, apenas um Neymar. Os outros milhares e milhares de Pelés e Neymares vivem no anonimato sendo vendidos e comprados ao bel prazer dos empresários e patrocinadores que dirigem de fato o futebol.
Não há mal em ser torcedor ou gostar de futebol, assim como de qualquer outro esporte legal. O que o brasileiro tem que ser consciente é que ele indiretamente financia a corrupção da atividade, que usa os jogadores como agentes de boa fé, sonhando com fama e dinheiro, influenciando crianças e adolescentes, que colocam o ingresso no ensino superior em segundo plano e priorizam as escolinhas de futebol. Colocam as chuteiras a serviço do cérebro!
A seleção brasileira de futebol disputou um campeonato mundial e perdeu. Todos os atletas e a comissão técnica, mesmo perdedores, estão financeiramente garantidos por um longo tempo, alguns podem se aposentar e praticamente todos, neste momento, estão com mais dinheiro em caixa que noventa por cento dos comerciantes e pequenos empresários do país, como também dos profissionais liberais, médicos, engenheiros, dentistas, advogados e professores. Isso não é fruto de um esporte, é consequência de desigualdade social. Os que são contra o presente raciocínio argumentarão que o dinheiro do futebol não sai do bolso do povo, tudo tem patrocínio de empresas. Contra argumentamos: os produtos que as empresas fabricam e anunciam no futebol são consumidos por quem? A pobreza, sempre a pobreza!
CARTA MAGNA
Os Estados são constituídos de leis, que são representadas por um documento denominado de Constituição. O nome é claro: trata-se de leis constituídas, ou seja, definitivas, sem a necessidade de interpretação, basta a obediência ao pé da letra. No Brasil isso não tem acontecido, há interpretações diversas para muitos artigos da Constituição, o que gera injustiça.
Portugal foi praticamente o primeiro país a formar um Estado moderno, antes todos seguiam regras da Grécia antiga, que devido à evolução natural, estavam desatualizadas.
Quando o Brasil era colônia lusa, muitos brasileiros foram condenados à morte por crimes lesa majestade, o mais notável deles foi Tiradentes. Um advogado de Tiradentes, francês radicado no Brasil, depois da condenação de Tiradentes à morte, quase conseguiu livrá-lo da sentença. A lei portuguesa dizia: o réu deve ser condenado à forca. Em tese, o enforcado tende a morrer. A defesa de Tiradentes observou que a forca poderia não matar, devido a fatores vários, a corda romper, o peso não suficiente e coisa e tal. A lei foi mudada em regime de urgência. Passou a ser: dever ser enforcado até a morte!
SURREAL
O Brasil é surreal. Temos o folclórico Ponto Facultativo. Até pouco tempo era necessário um Atestado de Pobreza para provar que não tinha condições de pagar por algum documento oficial. Quem fornecia era o Delegado de Polícia Civil. Ora, como provar ao delegado a condição de pobreza? Foi abolido. Agora uma conta de consumo prova a residência, antes era preciso um atestado de residência, emitido por repartições públicas. O sujeito chegava no local pedindo o documento dizendo que morava em tal rua e bairro. Ora, por que não ir direto onde o atestado era exigido?
Novidade surreal do momento é a prova de vida do aposentado. Tudo bem, evita fraudes. Acontece que muitos bancos cadastraram os aposentados digitalmente. A prova de vida então está na mão ou dedo do aposentado. Morto não consegue digitar a senha digital, porque não se locomove até o terminal!
LENDA
Na época juravam que era verdade. Muitos bandeirantes que entravam pelo sertão à procura de pedras preciosas não conseguiram e morreram de doenças ou por ataques de índios. Alguns alegaram que as pedras estavam à flor da terra, dizendo que viram caboclos jogando cartas, usando esmeraldas como fichas ou marcadores de pontos. As pedras verdes eram abundantes como pedregulho.
CARIOCA
O Palácio da Guanabara, sede do governo fluminense, tem dono. Não é o Estado! Ele pertence à Princesa Isabel, que precisou se mudar em 1889, com a Proclamação da República. Ela, como Princesa regente, tinha uma renda anual do Império no valor de $ 300 mil réis, valor suficiente para comprar o imóvel de um comerciante português. A escritura de posse está no nome dela e do marido, Conde d´Eu.
A princesa tem um bisneto que vive em Petrópolis, advogado que pleiteia a posse ou indenização do imóvel. Em entrevista, ele acredita que será difícil vencer a ação, porém, está exercendo seu direito.
URNA
Somando as intenções de voto para presidente da república com os votos nulos e brancos, o total alcança 60% dos eleitores credenciados a votar. Os quarenta por cento restantes, se a tendência continuar, serão abstenções, ou seja, não se interessam pela eleição de outubro. Uma despolitização grave, porque os que não se interessam por eleger ninguém serão governados pelos que serão eleitos, com qualquer percentual de eleitores.