É GREGO – NÃO SE FALA!
A cultura mais icônica do ocidente antigo foi a grega. A Grécia tinha características únicas na educação, na religião e na filosofia, em todas as áreas era dominante e os cidadãos ditos estrangeiros eram discípulos dos gregos. Ele, o povo grego, era o único capaz de interagir com seus Deuses, que desciam do monte Olimpo para conversar com os humanos de igual para igual, sempre com as pessoas simples do povo, nunca com os filósofos, principalmente com aqueles consagrados. O detalhe é que participavam das refeições coletivas, nas quais os deuses usavam o tempo para as aulas em geral, nunca comiam, afinal deuses não tinham necessidade, porém, não dispensavam um bom prato, levavam para o Olimpo através dos sacerdotes que praticavam a arte dos banquetes celestiais. Os gregos tidos como humanos mais inteligentes do planeta, se baseavam nos ensinamentos dos doutos do além. Inventaram, povos e deuses, um idioma impronunciável como uma característica gráfica ininteligível, tanto que um epíteto corria a Terra sobre esse fato real – isso é grego – não se fala!
A Grécia adotou para si a legitimidade de Democracia, um sistema de governo no qual prevalecia a igualdade entre governo e povo, com a inversão adotada naturalmente: o governo exerce o poder que emana do povo. O Estado abriga o povo através da representação popular proporcionando o comando político com a vontade política de maioria, tendo o voto universal como guia político.
Democracia plena a Grécia nunca teve, assim como outra qualquer depois dela. Os gregos, para votar, precisavam ter a idade mínima de trinta anos, isso para homens. Mulheres não votavam. Escravos não eram cidadãos. Estrangeiros não eram aceitos como gregos naturais, mesmo que vivessem no país desde a infância e qualquer pessoa que tenha passado por um processo qualquer, mesmo inocentado, não tinha direito a voto. Isso porque a igualdade era rigorosa na democracia grega. A briga entre a filosofia e a política era permanente! Os críticos dos gregos diziam que a igualdade da democracia grega estava na diferença social e cultural do seu povo. Enfim – era grego!
REINO DO BRASIL
Até a independência o Brasil foi colônia por 322 anos. Uma terra cobiçada pela Europa toda, venceu as invasões e continuou Terra dos Lusos, governado pelo colonialismo padrão em vigor no Velho Mundo dominado pelo Papa.
Em 7 de setembro de 1822, depois de uma negociação familiar entre pai e filho, Portugal e Brasil, dois reinos independentes, o Brasil adotou a monarquia constitucional, governado pelo Imperador dom Pedro I.
O povo brasileiro orgulhoso de pertencer a uma monarquia ficou sem entender como um reino não tinha rei. A diferença entre os cargos era simplista.
Um rei emanava dos deuses ou por indicação religiosa, ou seja, tinha o poder de um semideus, indicado para ser uma entidade com poder divino, embora mortal. Enquanto que a figura do imperador com o mesmo poder de um rei, era obedecesse ao poder divino, não se submetia a outro poder senão ao seu reino, limitada à necessidade do povo, era quase um dono do país a ser governado.
AMIGO DA ONÇA
Os leitores mais velhos citam o axioma “Amigo da Onça” que os novos ouvem, levam à memória, e sem entender, mantém na curiosidade. Trata-se de uma criação imortal do cartunista Péricles, que publicava as charges e os textos na última página da revista “O Cruzeiro” que circulou nacionalmente de 1928 a 1974. Bateu o recorde com 790 mil exemplares vendidos em apenas um dia, em 24 de agosto de 1954, dia da morte de Vargas.
Voltando a Péricles, era publicada na última página, e nas barbearias era recortada e fixada no maior espelho do salão e os clientes faziam fila para ler e comentar o texto e a ilustração até o próximo número da revista. Em todos os salões, salas de espera, escritórios de empresas e comércio em geral a revista “O Cruzeiro” era devorada, comentada por leitores de todas as idades.
A ONÇA DO AMIGO
A história de Péricles era simples e básica, havia poucas mudanças nos textos, as ilustrações faziam rir e as histórias morais eram decoradas e levadas ao cotidiano do povo em geral. Foi a única revista da história que o leitor comprava, muitas vezes, apenas para ver a última página. A obra era colecionável.
Vamos saborear o prato textual: “Dois amigos se encontram e durante a conversa, um deles conta que estava perdido no mato, quando uma onça percebeu a presença dele e passou a persegui-lo correndo. Porém, ele conseguiu fugir e se salvou milagrosamente. Contou ele que se escondeu atrás de uma moita espessa de mato. Depois mudou de direção enganando a onça. Então o ouvinte amigo interveio no texto e sugeriu outras opções de fuga: se você se escondesse numa caverna escaparia mais fácil. Se você se escondesse, subisse numa pedra alta, a onça não o veria. Se você entrasse em uma poça de água suja, a onça não sentiria seu cheiro, enfim se você a encarasse de frente, numa luta corpo a corpo, teria mais chance de se livrar dela!
(Foi quando o amigo que escapou da morte correndo o maior perigo da vida, chamou o amigo intrometido às falas dizendo: Afinal você é meu amigo ou é amigo-da-onça?). Péricles se suicidou em 1970.
FRASE
“Se a felicidade não existe é inútil ser feliz! (Pensamento infeliz do colunista).