ARI-UM GREGO
Em 1980 comprei uma Caravan branca ano 1976, a gasolina (havia uma versão a diesel três vezes mais cara. Naquele ano mudei-me para a capital paulista, o carro supria minhas necessidades, era confortável e gastava pouco combustível devido à estabilidade. Nas primeiras viagens tudo correu bem, quando estava pesada, em todas as descidas, o velho ponto morto era suficiente para manter a velocidade, o que significava silencio e estabilidade, cada viagem o tempo São Paulo-Monte Alto e a respectiva volta era sempre menor.
Depois de três meses rodando, em plena capital, o motor morria, sempre nas avenidas mais movimentadas, o espirito solidário do paulistano contribuía para o motor pegar no tranco. Fui em várias oficinas particulares e autorizadas, nenhuma descobria o defeito elétrico ou mecânico. Até que um frentista, ao ajudar empurrar, indicou-me um mecânico duzentos metros de distância. Agradeci, e mantendo o motor ligado acelerado fui ao mecânico. Era uma portinha de garagem que mal cabia um Fusca. Logo na porta vi um senhor alto magro com um perfil de imigrante mediterrânico. Desliguei o motor e falei-lhe sobre o defeito. Ele riu e disse que sabia o que fazer. Entrou no bar ao lado, pediu para o dono uma tampinha de cerveja, entrou no fundo da oficina, esmerilhou a dita cuja até torná-la lisa. Abriu a tampa do motor, retirou uma peça lá do fundo e no lugar colocou a tampinha. Mandou-me dar várias partidas, todas pegaram imediatamente. Perguntei-lhe o preço do conserto, ele disse-me que uma cerveja no bar pagava tudo. Entramos no boteco, ele tomou a cerveja e eu uma água com gás. Perguntei-lhe seu nome, ele fingiu não ouvir e o dono do boteco sussurou-me: ele é um refugiado grego, ninguém sabe seu nome ou de onde veio, diz apenas que se chama Aristóteles. Perguntei ao dono do boteco se o nome era real. O velhote respondeu: claro que não!
Agradeci aos dois, dei partida, usei a Caravan por mais dois anos e nunca mais deu defeito. Até hoje não sei se foi Aristóteles, Sócrates ou Diógenes que consertou a partida do carro com uma tampinha de cerveja adaptada!
BICHO PAPÃO
Os empregadores do Brasil e os encarregados de Recursos Humanos das empresas estão matando a galinha dos ovos de ouro da mão de nacional. O Etarismo está agindo mascarado de seletividade competitiva. Experiência adquirida ao longo do processo produtivo da capacidade humana não é levada em conta, elevando na seleção o fator idade. Um torneiro mecânico que tem a capacidade operacional com nota máxima profissional atingindo 10 no topo da escala, cuja idade ultrapassa o mínimo, na carreira é rejeitado para o aproveitamento de um profissional de excelência, com faixa etária de maior aproveitamento no contexto produtivo, ou seja, o empregador aposta no futuro do profissional com as fichas de um futuro que jamais poderá ser alcançado. As empresas estão sucateando a sagrada mão de obra, que atua como o deus Atlas, responsável por carregar a produtividade universal.
A Terra é velha, construída pelos idosos que estão usados como recicláveis.
Não dá mais para saber o que o velho Marx pensa sobre tudo – ele mesmo, uma ilustre vítima do etarismo.
NOVACAP
Quando Brasília foi inaugurada, o funcionalismo público federal recebeu um incentivo para se transferir do Rio para a nova capital, foi o processo salarial direto na folha, que passou a ser conhecido como Dobradinha, ou seja, o salário do Rio seria dobrado no mesmo cargo e função em Brasília.
Isso provocou uma corrida para a tomada burocrática da nova capital, os melhores funcionários e os com maiores experiências se transferiram de mala e cunha para a capital mais moderna do mundo ocidental.
Foi o mesmo processo que provocou a urgência da entrada da lei do Divórcio no Congresso, que foi aprovada a toque de caixa. Os parlamentares, deputados e senadores que atuavam no Rio se tornaram brasilianos, deixando as famílias no Rio.
Em Brasília receberam o apartamento funcional gratuito para morar enquanto durasse o mandato. Ora, solteiro com a cidade feminina inteira a disposição com novas parceiras livres e soltas, com a “patroa” a mais de mil quilômetros de distância, a solução foi aprovar o divórcio. Divorciado da esposa original, o legislador com salário dobrado, praticando a velha rachadinha com os salários do funcionalismo, tratava logo de se casar, com livre escolha, de funcionárias (os) do congresso a capital tornou-se socialmente moderna com o maior número de divórcio do país.
Em pouco tempo Brasília se tornou legendaria em casamentos entre autoridades legislativas de primeiro escalão.
PLANALTO
A construção de Brasília colocou JK na fila de estadistas brasileiro, porém, Getúlio estava na frente e continuou. Se JK construiu um megalopis, o velho Vargas construiu uma nação. Getúlio mudou a mentalidade nacional, que como disse Nelson Rodrigues, estava perdendo o complexo de vira-latas para se tornar um pastor alemão. Foi Juscelino que “inventou” a inflação com a emissão da moeda para pagar a construção, enfim, estadistas ou não, quem pagou o cheque foi o povo. Brasília foi a capital do continente e ao mesmo tempo um monumento. Uma pirâmide faraônica. A capital importava tudo, pouco produzia. Mesmo assim, um orgulho nacional, uma capital de um país gigantesco agraciado com um dos maiores litorais do continente, sem um metro de praia. Brasília teve seu mar – Paranoá!
FRASE
“Governar é abrir estradas! (Washington Luís, presidente da república entre 1926 e 1930). Foi o último presidente do Brasil na República Velha.
BURRADA
A expressão “Pai dos burros” era muito usada pelos antigos, para definir um dicionário. Tudo surgiu devido à profissão do pai do famoso autor do dicionário, Aurélio Buarque de Holanda. Ele fabricava carroças confortáveis, para os que as usavam e para os burros que as puxavam. Como os passageiros não tinham palavras para elogiar o velho fabricante, o pai dele ficou conhecido como “pai dos burros”.
ERA O JOÃO
Na coluna da semana passada, me referi ao grupo ‘Debitos’, que se apresentava nas antigas Festas de Agosto, cantando sucessos do famoso grupo “Os Beatles”. Disse que eram o Rauzito Silva, o Francisco Barroso (in memorian), o Emilio Santo Pierre (in memorian) e, salvo engano, o De Lucca. E eu estava enganado mesmo, este último era o João Moreira Filho, que leu esta coluna e ligou, refrescando minha memória. Obrigada, João, agora sim, quarteto completo.