CONTEXTUALIZANDO
Na década de 1970, este semanário chegou a contar com 14 colaboradores, entre fixos e eventuais. Os leitores interagiam enviando cartas e por telefone, ainda não havia internete. Entre críticas e elogios havia as sugestões muitas vezes peculiares, quando não fofocas sociais e políticas. Os pedidos de resposta eram comuns, quem mais usava o recurso eram os políticos, nem tanto por sentirem-se ofendidos, mais para uma promoçãozinha no veículo mais lido da região.
O time de colaboradores era eclético, contava com advogados, engenheiros, médicos, poetas e escrivinhadores de todas as cepas, como os vírus. Como na TV houve uma época em que os festivais de música dominavam a audiência, no “O Imparcial”, o carro chefe e editorial eram as opiniões dos colaboradores. Antes da edição de sábado, os leitores paravam os colaboradores em público para perguntar a pauta da semana, e de quebra, uma sugestãozinha grátis.
A expectativa aumentava porque no Congresso tramitava uma lei que proibia a participação de quem não era jornalista formado de escrever em jornais e revistas. Para levantar a opinião pública, a gente inseria nos textos que nossos dias estavam contados. Um leitor acreditava que a lei entraria em vigor (o que não aconteceu) e sugeriu que os excluídos fundassem um jornal clandestino, com nome e tudo: “O PARCIAL”. (Era um protesto intelectual).
O jornal tinha um grande número de assinantes de outras cidades e até fora do estado, para inflar egos, havia um internacional, um argentino que veio a Monte Alto em um intercâmbio. Todos os sábados os exemplares eram identificados com nome e endereço de assinantes forasteiros e na segunda, o Guto, então saudoso diretor, lotava o porta-malas de sua Variant azul e levava à agência para postar. Eram pacotes volumosos e certa segunda eu estava na redação quando ele pediu para ajudá-lo a carregar. Fi-lo com prazer, afinal era minha obra que partia para o mundo. Na edição seguinte, escrevi que havia carregado o jornal nas costas sem contar o sentido literal da façanha. Telefonemas e cartas chegaram criticando minha presunção e petulância, ora “carregar nas costas” era demais! Na edição seguinte tudo veio às claras. Voltei à condição de ídolo sem pés de barro.
Contou-me o Guto que um leitor ligou perguntando qual era minha formação para dominar tanta variedade de temas. O Guto respondeu que eu era autodidata. O leitor respondeu perguntando: “que faculdade ele cursou?”.
NAZISMO
A diferença entre campo de extermínio e campo de concentração é que o primeiro era para eliminação imediata dos prisioneiros e o segundo para uma prisão temporária para a prática de serviços forçados e escravidão.
CONDUTA
Comensais frequentadores de restaurantes, tenham um bom apetite. Os fumantes sabem onde fumar. Outro freguês viciado em algo menos poluente, porém, de péssimo gosto, é o “palitador” de dentes. ‘Pelamor’ de Deus, se é necessário fazê-lo, dirija-se ao banheiro. Melhor palitar simplesmente escancarado do que tentar esconder a boca paliteira com a mão na posição côncava.
BATE-TAÇAS
A origem do brinde tradicional remonta à Grécia antiga com passagem por Roma e depois com rota internacional. O costume era uma defesa pessoal, no início do uso era uma taça apenas para os presentes, o brinde era dar um gole na taça e passá-la adiante, assim, no final todos provariam o conteúdo, se ninguém morresse era a prova que não estava envenenado, o vinho era o mais comum.
Com o tempo cada convidado tinha sua taça e antes de brindar tinha que provar um gole, se todos estivessem salvos, não tinha veneno em nenhuma, cabia então dar um toque sutil em todas as taças e tomar o restante. Tim-tim!
CINEMATECA
Nos anos 1960/70, duas séries caninas faziam o maior sucesso na TV e até em filmes, o cão Rim-tim-tim e a cadela Lassie. As séries incentivavam as crianças do mundo a adotar os animaizinhos. Notem que o verbo é adotar e não comprar, depois de 50 anos o brasileiro está sendo tutor de animais e não dono.
Ser dono deve ser influência humana, no tipo Meu Marido e Minha Mulher. Tudo na humanidade é dono, posse e domínio. Na série do Rim-tim-tim dois cães foram usados. Na da Lassie foram sete cachorras. Entre eles havia diferenças sutis!
BUROCRACIA
Se o papel usado no Brasil no sistema burocrático nacional for reciclado e transformado em papel higiênico, seria o suficiente para uma pessoa usá-lo durante cinco mil anos.
SERVIÇO DE BORDO
Os passageiros de um trem reclamavam do atendimento para o prefeito da principal estação da rede. Um vereador propôs resolver o problema, sugeriu que o trem tivesse o mesmo sistema de atendimento dos aviões que tinham aeromoça a bordo.
O prefeito pediu para ele enviar a sugestão como projeto de Lei. Quando chegou no gabinete, o texto solicitava a nomeação de moças para atendimento nos vagões. Se o nobre edil encerasse o texto legal na solicitação poderia ter sua lei em vigor na linha férrea e os créditos. Sujou tudo com o nome da função: Ferromoça.
FRASE
“Não tinha nada – perdi tudo”. (De uma vítima da enchente de Petrópolis).