O tamanho do passo

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Interesso-me por expressões populares e, vez ou outra, escrevo sobre algumas delas, é o que farei neste artigo e a expressão de hoje é: “dar o passo maior que a perna”. Essa expressão costuma ser usada quando alguém se arroja a um empreendimento aparentemente maior que as suas forças, as suas condições e, sobretudo, o seu dinheiro. É lançar-se a algo arriscando-se a não dar conta de concluir.
Mas, o que me interessa, nesse caso, não é somente quem dá o tal passo maior do que a perna. Algumas vezes, realmente as pessoas não medem as condições de sua realidade e acabam se envolvendo em tarefas superiores às suas possibilidades, mas, na maioria dos casos, contrariando o vulgo, acabam superando suas limitações, fragilidades, condições financeiras e conseguem construir algo notável, muito superior ao que se esperava delas. O que me interessa de forma mais particular são os especialistas em condenar, os que costumam dizer, com aquele tom de quem está prestando um grande serviço à humanidade: “É, fulano deu o passo maior que a perna (e se estrepou).”. Em quase cem por cento dos casos, quem diz esse tipo de coisa é gente que não sai do lugar, que não se move, não se arrisca, não acredita em si mesma e na vida; gente que não se lança em aventuras, que não abraça desafios e só vive por aí observando quem faz, quem realiza, quem luta, quem ousa, quem conquista e tentando puxar para baixo aqueles cuja coragem e ousadia tanto incomodam a sua inércia, a sua mesmice, o seu medo, a sua acomodação, a sua covardia.
Está certo que, às vezes, cometemos loucuras e nem sempre as coisas acabam bem. Há projetos que se mostram tão inviáveis que precisam ser abandonados, no entanto, quem muda o mundo, quem faz descobertas, quem desbrava, quem nos lega invenções que mudam o rumo das coisas, enfim, quem faz o grande, o significativo, o impactante, o importante – para si mesmo ou para a sociedade, para o mundo – é quem ousa, quem acredita, quem nunca se preocupa com o tamanho do passo que vai dar. Para esse tipo de pessoa não importa o tamanho de sua perna, porque tem asas e quem tem asas, voa, mesmo que dê com a cara num muro de vez em quando. Quem tem asas sonha, luta, conquista, alcança, não importa quantos erros cometa e quantas vezes precise desistir e recomeçar.
Quanto aos outros, aos medidores do tamanho do passo alheio, só resta a fofoca, a inveja, a insatisfação, a torcida pelo fracasso do outro e a triste constatação de que o seu passo nem o tamanho da sua perna tem, porque não ousam se levantar da sua cômoda posição de observadores e críticos de quem faz, de quem pode, de quem ousa, de quem acredita.
O ideal seria se todos caminhássemos lado a lado, cada um no seu ritmo, apoiando os que caem, porque só cai quem tenta. Mas, sou uma pessoa otimista e, por mais caótico que nosso mundo pareça, acredito que um dia a solidariedade vencerá e a construção do bom, do belo, do grande, do ideal, será uma obra coletiva e a crítica gratuita dará lugar ao apoio, ao respeito e à admiração.

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