O sangue materno

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O sangue que jorra de uma mulher vítima de violência precisa parar. Suas lágrimas precisam ser apenas de alegria. O silêncio precisa ser quebrado para que possam viver suas vidas como consta na constituição. Entretanto, a lei do homem feita por homens demorou muito tempo para cessar o feminicídio no Brasil e no mundo. Muito além disso: esqueceram-se das políticas públicas para dar suporte psicológico para os filhos que presenciaram a violência, o sangue, a ausência e a saudade materna.

Cronologicamente, a primeira lei de grande impacto no Brasil foi a Maria da Penha, aprovada em 2006. Antes disso, quanto de sangue foi derramado? Quantas lágrimas e dores as mulheres sentiram para serem ouvidas pelo poder público? Quantas crianças frequentaram as escolas traumatizadas pela violência doméstica e pela orfandade materna? Quantas? Quantas, ainda, permanecem em silêncio por medo e por proteção aos filhos? O Estado é covarde e machista; a sociedade se supera neste quesito.

A velha frase “em briga de marido e mulher não se mete a colher” deveria ser banida do nosso ditado popular. A sociedade que presencia a violência e nada faz é cúmplice. O indivíduo que registra as atrocidades e as coloca em redes sociais é mais covarde do que o próprio Estado e do que o agressor. Atitudes como esta deveriam ser punidas (mais uma falha do Estado), porque não atinge só a vítima, mas sim todos os familiares. Pensemos naqueles que ficam. Pensemos, principalmente, nas crianças. Não há nada mais doloroso em saber que o próprio pai tirou a vida da mãe. Imaginem como será a vida deste rebento. Imaginem quando perguntarem por seus pais: “Ei, fulana, quem são os seus pais”. Há resposta para isso?

O Estado precisa começar a pensar naqueles que ficam: os filhos. Não há nada mais doloroso em perder uma mãe assassinada pelo próprio pai. Não há nada mais doloroso em saber que há registros de sangue materno matando a curiosidade de uma sociedade machista e hipócrita sendo disseminado pelas redes. Esta mesma que luta por bandeiras políticas, mas não tem a coragem de intervir na violência contra a mulher, porque segue um ditado mais machista do que a sua própria ideologia. Os filhos vão ficando pelo caminho. Os traumas os seguirão por toda a vida. Não terão noites bem dormidas, nem canções de acalanto, nem histórias para ninar. Não terão um dia das mães, nem felicitações natalinas, nem canção de parabéns e nem um colo para chorar. O Estado tem culpa; a sociedade é cúmplice e a o sangue feminino continua sendo derramado. Já basta!

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