O pão nosso de cada dia

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Enquanto me preparo para escrever este artigo, o ambiente é invadido pelo delicioso cheiro de capim cidreira. Me levanto, vou até a cozinha, encho uma xícara e me deleito com o delicado sabor do chá feito com as folhas que colhi há poucos minutos, na casa de uma vizinha, onde fui buscar umas mudinhas para plantar no meu jardim. Ao sentir esse perfume gostoso e ter meu paladar acariciado por esse suave sabor, não tem como não viajar no tempo e recordar os tantos chás que minha mãe preparava na minha meninice. Naquele tempo, chá era remédio e o de cidreira era um de seus preferidos. Um conhecimento empírico, mas com fundo científico, pois, hoje, a fitoterapia nos ensina sobre os efeitos curativos dessa planta, também conhecida como capim santo.
Nossas memórias passam pelo olfato e pelo paladar. Não há quem não se lembre de cheiros e sabores que remetam à sua infância ou a momentos especiais de sua vida, quando boa comida foi servida para comemorar algo importante ou apenas para reunir a família e os amigos. Há muitas formas de encontrarmos fundamentação para a crença em Deus e, para mim, uma delas, é a comida. Deslumbro-me diante da imensa delicadeza de Deus ao nos fornecer tantos sabores. Ele poderia ter feito um alimento único, alguma espécie de ração que nos fornecesse os nutrientes de que necessitamos para nos mantermos vivos e saudáveis ou ter nos programado para fazer fotossíntese, porém, em sua magnificência, criou infinitos sabores, combinados a deliciosos aromas e cores que nos nutrem, satisfazem nosso paladar, agradam nosso olfato e deliciam nossos olhos diante de tanta beleza.
E o ato de comer é tão importante que foi colocado por nosso grande Mestre na oração do Pai Nosso, ensinando-nos a pedir o “pão nosso de cada dia”. Deus também poderia ter feito nossos corpos adaptados para comer uma vez por semana, a cada dez dias, mas, não, nossas necessidades nutricionais são diárias e divididas em vários momentos por dia. E, mesmo que empobreçamos nossas refeições com excesso de química e industrialização, devido à pressa e o excesso de afazeres que nos caracteriza, ainda assim, em cada refeição, ao sentirmos o gosto dos alimentos que escolhemos, podemos perceber embutido um “Eu te amo, por isso cuido tão bem de você!”. Em minha casa não se toma uma xícara de café sem agradecer a Deus por esse carinho, mas eu sei que, na correria da vida, é normal que se esqueça qual é a fonte de tudo o que nos alimenta e se passe a acreditar que a comida vem da indústria e não da natureza.
Mas, mesmo para quem não se preocupa muito com as questões espirituais, a alimentação também constitui um ato de amor, de festa, de alegria. Nossas famílias estão cada vez menores e muitas se reduzem a apenas uma pessoa, casos em que, normalmente, se come mal, pois parte do prazer de comer está em dividir, em compartilhar, em cozinhar para o outro, em provar o que o outro cozinhou. Durante muitos anos eu comi sozinha e isso era uma das coisas que eu mais lamentava. Hoje, eu não apenas não estou só, como tenho tempo para cozinhar e, por ter tempo, posso escolher muito bem os alimentos que vou preparar e servir para a minha família e procuro reduzir a quase zero o uso de produtos industrializados. É claro que a diferença entre preparar um molho de tomate e cortar um saquinho de pomarola é enorme, mas o sabor também é. Cozinhar bem demanda tempo e dedicação, o que nem todas as pessoas têm, mas, tendo, precisamos usar. Há infinitas possibilidades de pratos doces e salgados que se pode preparar com calma e carinho. Fazer pão caseiro, geleias, compotas, saladas variadas, coalhada, é muito prazeroso, embora dê trabalho.
Cozinhar sempre foi algo automático, mas, quando passei a ter mais tempo livre para essa prática, comecei a prestar atenção no quanto isso significa um ato de amor. Quando o meu filho vem me visitar, por exemplo, eu me esmero ainda mais e preparo tantas coisas que ele nem dá conta de comer. É algo parecido com um ritual para o qual eu começo a me preparar no dia anterior e no dia da visita eu acordo bem cedo para cuidar de todos os detalhes e enfeitar a mesa ainda mais do que enfeito todos os dias (na minha casa não se come no sofá!). Isso é algo que eu sempre fiz sem pensar e nunca tive certeza se meu filho notava o tanto de amor que eu colocava nesse ato tão simples.
No entanto, dois singelos acontecimentos me deram a exata dimensão da importância do meu gesto e de como ele era, sim, notado por ele. Numa de suas últimas visitas, ele deixou a cerimônia de lado, invadiu minha cozinha, arregaçou a manga longa do seu hábito de sacerdote, espremeu as laranjas para o suco e me ajudou a servir à mesa. E, há duas semanas, quando me encontrei com ele em uma igreja da sua congregação, perto de São Paulo, ele me surpreendeu ao me presentear com um enorme e muito aromático pão caseiro quentinho, recheado e coberto por gergelim, recém-saído do forno do mosteiro onde ele vive. Isso pode parecer uma bobagem, mas, ao ter a delicadeza de levar para mim um pão feito pelos seus colegas monges foi como se dissesse: “Mãe, eu entendo e retribuo todo o amor que a senhora me dedica quando cozinha para mim.”. Talvez seja exatamente isso o que eu tento dizer a Deus quando cozinho para filhos que não são meus, mas são Dele – e espero ainda poder cozinhar para um número bem maior de pessoas: “Pai, eu entendo e retribuo todo o amor que o Senhor demonstrou por mim e por todos os meus irmãos ao criar essa infinidade de delícias para nos alimentar. Infelizmente, Pai, muitos de seus filhos ainda são privados do mínimo desse manjar, mas, eu acredito que um dia essa realidade vá mudar e espero poder contribuir, ainda que minimamente, para que isso aconteça, para que a fome apenas anteceda o prazer da saciedade e nunca a morte por não se ter o que comer.”.
Invista em alimentar quem você ama, mesmo que seja com frutas e sucos se você não leva muito jeito para cozinhar; esse é um dos atos de amor mais extraordinários que o ser humano pode praticar. Ato de amor a quem você alimenta e de gratidão Àquele que nos alimenta. Experimente, você não vai se arrepender.

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