Para Lázara, mensageira do milagre.
Nunca fui muito adepta dos livros de autoajuda, mas, não deixo de reconhecer que muitas pessoas conseguem obter bons resultados com a leitura deles. Para mim, tirando alguns muito apelativos, eles não são nem bons nem ruins, são neutros, uma vez que não os conheço a fundo para poder emitir uma opinião positiva ou negativa a respeito. Porém, no meu primeiro dia de aula, no retorno aos bancos universitários ao qual estou me aventurando este ano, uma colega de sala mencionou o livro “O milagre da manhã” que, segundo ela, modificou consideravelmente alguns aspectos da sua vida.
Eu sempre fui uma pessoa da manhã, acordo cedo naturalmente, e cheia de gás. É o período do dia que mais rendo, por isso, sempre que tenho algo importante para fazer, procuro fazer nas primeiras horas da manhã. Isso abriu em minha curiosidade um caminho positivo para o livro, fortalecido pelo título dele, pois manhãs e milagres são duas palavras importantes na minha vida. Acredito em milagres como acredito nas manhãs, então, era a combinação certa. Fui atrás do livro, achei-o como áudio book no Youtube e fui ouvindo enquanto cuidava de uma tarefa e outra. O áudio deixa um pouco a desejar e o começo do livro é meio maçante, mas, no correr dos capítulos, encontrei verdadeiras pérolas e me dispus a experimentar a proposta: acordar, todos os dias, uma hora mais cedo e fazer seis ações de dez minutos cada uma. Começando com dez minutos de oração e terminando com dez de exercício físico.
Normalmente acordo às seis, então, passei a acordar às cinco. Às 04h55, para ser mais exata. Cinco minutos para fazer xixi, me vestir, lavar o rosto e escovar os dentes. Bem, convenhamos que, para quem chega tarde da faculdade e vai dormir perto de meia-noite, acordar às 04:55 não é exatamente a coisa mais prazerosa do universo. No entanto, a prática em si é tão espetacular que, rapidamente, a gente esquece o sono. Essa uma hora passa voando e a energia que se sente ao longo do dia é algo extraordinário. Como são seis ações e nenhuma delas pode deixar de ser feita (há opções para substituição, mas precisam ser seis) e nem exceder dez minutos, a gente consegue dimensionar o tempo de uma outra forma e passa a valorizar cada minuto.
Aprendendo a redefinir as prioridades, acabamos, automaticamente, fazendo uma reavaliação de como usamos o nosso tempo, ou melhor, como o desperdiçamos! Quantos “cinco minutinhos”, “dez minutinhos”, “meia horinha” a gente vai perdendo com coisas completamente bestas e sem sentido e que, no final do dia, nos deixa com aquela sensação de não ter tempo para nada, de que o tempo passa rápido demais, a vida passa rápido demais. Não, o tempo passa da mesma maneira, nós é que o usamos mal, não usufruímos desse tesouro precioso, único e incalculável que a vida nos dá, numa generosa porção de 24 horas, todas as manhãs. E estamos sempre cansados, exaustos, com mil coisas para fazer e sem achar tempo para elas.
Isso tem reforçado ainda mais a minha concepção de milagre, não como algo que contraria as leis da natureza, mas algo que utiliza essas leis de uma forma que não conseguimos compreender. Uma das coisas bonitas que aprendi com a literatura espírita foi que Deus não contradiz as suas próprias leis e nem passa por cima delas. As leis naturais existem e abarcam toda a criação. Se milagres existem – e eles existem, grandes e pequenos – é porque existem coisas que ainda não aprendemos, conhecimentos que não dominamos, mas, que, com o tempo, dominaremos. O rádio, a TV, o telefone e, mais modernamente, a Internet, são formas de milagres que o homem já conseguiu dominar. E muito mais nós faremos, afinal, foi o próprio Messias que disse que nós somos deuses e que poderíamos fazer tudo o que ele fazia e muito mais. Ele não podia, quando esteve na Terra, falar “on line” com uma pessoa do outro lado do mundo, nós podemos. Ele não podia nem mesmo viajar para muito longe, nós podemos ir de um continente a outro em pouquíssimo tempo, levamos menos tempo para ir, de avião, do Brasil ao Japão do que ele e seus discípulos levavam para ir de uma cidade a outra, com o meio de locomoção que possuíam: a pé, em lombo de jumentos ou de camelos. Para as futuras gerações, muitas coisas que hoje consideramos milagres, paranormalidade, mistério, serão práticas normais, do cotidiano.
Nós temos limites, e é nosso desafio de vida superar esses limites, excedê-los, ir além deles para conhecer e conquistar coisas novas. Pode parecer uma tolice muito grande acordar uma hora mais cedo todas as manhãs e se dedicar a seis tarefas de dez minutos, quando nossa caminha macia, nosso travesseiro amigo – e, com esse princípio de friozinho de outono, nosso edredom – nos proporcionam um aconchego tão gostoso que nossa vontade é de ficar uma hora a mais na cama e não levantar uma hora antes. Mas, é aquele tipo de coisa que só provando para saber como é. Assim como a Lázara me indicou, eu indico, de alma e coração, “O milagre da manhã”.
Vale lembrar que o Sol é uma grande fonte de inspiração. Ele está sujeito às mesmas leis que regem o tempo para nós e, no entanto, todas as manhãs, ainda que metaforicamente, ele nasce. Seu ciclo não é interrompido porque ele se enrolou com alguma outra atividade durante a noite, porque está com preguiça ou porque ficou papeando com alguma estrela. Ele cumpre a sua missão, que é a de manter todo um sistema planetário em funcionamento. Quiçá, possamos ser pequenos sóis cujos ciclos não se interrompam, porque, ao nosso redor, há toda uma constelação para a qual a nossa regularidade e presença faz diferença. E que esse milagre ilumine a nossa manhã, a nossa tarde, a nossa noite, a nossa vida, enfim.