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João Quiles Filho: a história escrita entre linhas e agulhas

 

 

 

João Quiles Filho “Mulato” nasceu no dia 15 de julho de 1943, no bairro da Tabarana, em Monte Alto. Filho de João Quiles e Olívia Mussato Quiles, tem três irmãos: Antonio Carlos, Luiz Gonzaga e Fátima. Solteiro, tem quatro sobrinhos: Caio Marcelo, Leila, Cinthia e Fabíola, além de ser tio-avô de Luiz e Vinicius. Começou os estudos na escola do bairro rural em que morava e, em seguida, a família mudou-se para Vista Alegre do Alto. Aos 13 anos de idade, precisamente em janeiro de 1957, mudou-se para Monte Alto.

TRABALHO – “Meu primeiro emprego foi como alfaiate, eu tinha de 13 a 14 anos na época e fui trabalhar na alfaiataria do Sr. João Paiva. Já tinha uma pequena experiência em Vista Alegre, e comecei então a trabalhar com ele ali na Nhonhô Livramento, onde tinha a alfaiataria, ao lado de onde hoje é a Loja Comander Calçados. Comigo também trabalhou o Valter Miquelin. Lá permaneci por três anos. Em seguida, fui trabalhar com o Galtier Gonçalves (pai do Mú), que também tinha uma alfaiataria conceituada na época. Lá, aprendi de tudo, fiquei com ele durante 15 anos e gostei da profissão. Meu sonho era ser radialista, mas não deu certo”.

O MOVIMENTO DA PROFISSÃO NA ÉPOCA – “Naquele tempo não existiam praticamente roupas feitas para vender, quase tudo era feito sob encomenda nas alfaiatarias da cidade. Quando chegava a época das festas, principalmente a Festa de Agosto, São Sebastião, Aparecida e as demais festas rurais, era uma loucura… a gente varava a madrugada trabalhando”. Perguntado sobre quais os políticos famosos da época que fizeram roupa com ele, citou o Dr. Mazza, a maioria dos vereadores, entre eles lembra-se bem o Dr. Júlio Raposo do Amaral. 

A MODA DA ÉPOCA – “Era muito comum uma pessoa chegar para fazer um terno e pedir para que fizesse um igual para seu filho, a única diferença é que, para as crianças eles usavam suspensório”.

AS MULHERES E AS ALFAIATARIAS – “Naquele tempo, embora muitas pessoas de hoje ache estranho, as mulheres frequentavam demasiadamente as alfaiatarias. Além de fazerem saias, nos anos 50 e 60, a moda grife Chanel estava em alta evidência e fazíamos muitas roupas para grande parte das mulheres da cidade, tínhamos até um local reservado só para elas”. Perguntado por este colunista, se as mulheres casadas costumavam irem só acompanhadas nas alfaiatarias, já que era um sinônimo de masculinidade, ele disse que não. Muitas iam também sozinhas. 

DEZESSETE ALFAIATARIAS, UM MARCO – “Nos anos 50, a população da cidade era muito pequena, e existiam 17 alfaiatarias, entre elas a  do Barroso, do Buzeto, do Ulian, do Olímpio Mota, do Galtier, do Garcia e do Edu Rossato, são algumas das que eu lembro. A do Barroso era a mais famosa, ficava ali onde hoje é o Gim. Trabalhavam muitos profissionais e uma grande parte da sociedade era a sua principal clientela. Em 1968, fui trabalhar por conta própria na minha casa, que ficava atrás do hospital, ai fui colocar em prática os meus sonhos, fazia desenhos de roupas que eu imaginava em minha cabeça e fui aprimorando cada dia mais, até nos dias de hoje. Mas, atualmente, como minha profissão está praticamente extinta, faço algumas roupas, mas a maioria são alugadas, ou seja, hoje mais alugo, do que faço.”

O TEMPO E A MUDANÇA DOS MANEQUINS – Solicitado por esse repórter a descrever as mudanças dos manequins, no quesito tamanho, Quiles respondeu: “Realmente, nessas últimas décadas houve muitas mudanças. Por exemplo, nos anos 50 e até os anos 60, as pessoas eram muito magras. A partir dos anos 70 até os dias atuais, o tamanho dos manequins também teve modificações significantes, por exemplo, dificilmente você encontrava um homem que vestia o nº 58 em um terno, hoje é muito comum. Talvez, a alimentação tenha sido um fator primordial para essas transformações”. 

O HOMEM E A FÉ – Quiles fez questão de falar um pouco sobre sua religião. “Toda religião é boa, todas elas ensinam o que é bom. Foi no espiritismo que encontrei perguntas e respostas para achar o caminho de minha vida carnal; as religiões geralmente vão até o túmulo, a minha, vai além. Aprendi a ter o dom do perdão e perdoar a mim mesmo, pois como ser humano, estamos sempre falhando. Você na vida, tem a lei carne, tanto ida como vinda, é a lei do retorno, que o Universo faz pontuar na vida das pessoas. No dia a dia, na vida, você tem que aprender a tratar bem as pessoas, ouvi-las, entendê-las e perdoá-las se necessário for. Essas são tidas como algumas das principais leis do universo”.

MENSAGEM – “A pessoa deve capacitar-se nos dias de hoje, pois há muita facilidade, principalmente na área da computação que abriu um espaço muito grande para novos profissionais. Assim como minha profissão de alfaiate está se extinguindo, surgiram novas profissões, principalmente em outras áreas, o importante é fazer com amor e aprender a gostar daquilo que faz. Foi o meu caso.” 

 

 

 

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