Esta história não se trata de uma ficção literária e nem aconteceu durante a Segunda Guerra Mundial e muito menos fez parte dos seus imperdoáveis genocídios.
A menina que salvava livros é uma história nossa. Real. Aconteceu durante a fúria da mãe natureza que deixou milhares de pessoas desabrigadas em Pernambuco. Perderam quase tudo. Uma vida toda construída, mas que agora se encontra por debaixo das inundações.
Há uma criança que se destaca entre as lágrimas de tristeza e os olhares de esperança. Seu nome é Rivânia. Sua idade: oito anos. A avó pediu para que ela salvasse o mais importante. Ela o fez. Salvou a certeza da sabedoria. Salvou os objetos que a ajudariam ser uma pessoa melhor. Salvou o seu futuro e o futuro da sua família. Mesmo com pouca idade, seu senso de valorização comoveu todo um país não adepto à leitura. Ela salvou os seus livros. Sua maior riqueza. Entre tantas coisas que a pequena poderia resgatar, ela resolveu salvá-los. Casos como esse hoje em dia são raríssimos.
Em outras situações, as pessoas poderiam queimá-los para poderem ficar aquecidas em meio a tanta umidade. A jovenzinha resolveu aquecer a sua sabedoria para um dia entender tudo aquilo que estava acontecendo. As pessoas podem até tentar explicar, mas a sapiência que ela adquirirá com o tempo, nenhuma fúria da natureza poderá destruir.
O conhecimento é algo que ninguém tira. Rivânia, com essas atitudes, faz-nos questionar se faríamos o mesmo. Em cada desespero há uma conduta. Será que nós, adultos, agiríamos da mesma forma? Será que as crianças no geral fariam o mesmo? Um fato é certo: a pequena representou o que mais falta nesse país: educação. O seu procedimento foi um grito de que ainda há uma esperança em mudar aquilo que há tempos estamos lutando para progredir. Não se faz um país sem leitores. Não se constrói uma nação sem seres pensantes e críticos.
E se acontecesse num bairro nobre da cidade, o que as pessoas salvariam? Talvez o luxo que ostentam para se manter no estereótipo imposto pela sociedade? Precisamos formar mais “Rivânias” pelos cantos do país para que valorizem o que realmente importa no progresso deste Brasil brasileiro. Precisamos investir nessas crianças que se importam, embora o estado não tenha o mesmo pensamento. Precisamos de mais abraços fortes como aquele que a pequenina fez em abraçar e proteger seus objetos de mais valia. Precisamos de mais crianças que salvem os livros e consequentemente a língua falada por esses pequenos heróis.
Não podemos enxergar um ato majestoso desse como uma comoção, mas sim, como um exemplo a ser seguido por muitas crianças e responsáveis. Precisamos de mais crianças que salvem os livros para que, posteriormente, possam salvar o futuro desta nação.