Escrevo essa coluna há anos e procuro contar sempre um pouco da história dos montealtenses e, simultaneamente, de nossa cidade. Mas hoje, peço licença para abrir espaço ao grande maestro João Carlos Martins, de quem a história muito me marcou.
Costumo dizer “que o verdadeiro filho da terra não é necessariamente aquele que nela nasce, mas principalmente aquele que por ela trabalha”. Mas a história é feita e escrita por homens, com as bênçãos de Deus.
No próximo 22 de Julho, numa promoção do SESI, nosso município, precisamente o Distrito de Aparecida, estará sendo contemplado com um fato histórico que, certamente marcará para sempre a história da cidade. Trata-se da apresentação da Orquestra Bachiana Filarmônica, regida por um dos maiores maestros do Brasil e, quiçá, do mundo.
O menino e o sonho – Quando o menino João Carlos Martins tinha apenas cinco anos de idade foi diagnosticado com um tumor benigno no pescoço, foi submetido a uma cirurgia mas, infelizmente, sequelas lhe causaram transtornos e complexo. Mas, seu pai que era um homem destemido, um português que veio para o Brasil trabalhar como um bravo e construir sua família. Sensibilizado com o problema de saúde do filho, resolveu presenteá-lo com um piano, e ele mesmo, José Martins foi seu primeiro professor, e disse: ”Olha filho nós vamos perseguir seu sonho de ficar curado, e você vai ficar curado”.
Três anos depois, aos oito anos, João Carlos passou pela segunda cirurgia e ficou curado. Ai foi só uma questão de tempo para sua virtuosa carreira musical universal.
O Homem que nunca desistiu – João Carlos sempre foi esse tipo de homem que jamais desistiu de seu objetivo, e sua história comprova isso. Com apenas 20 anos de idade era um dos mais famosos pianistas do mundo considerado um dos maiores intérpretes de Sebastian Bach. No apogeu da sua juventude, nos anos 60, anos marcados por grandes transformações políticas, culturais e musicais, João Carlos Martins, no momento marcante da história, encantava nos palcos de vários países tocando corações de várias gerações.
1965 mais um golpe do destino – Nosso Maestro vivia em Nova York neste ano, já considerado um dos músicos mais consagrados do mundo. Por ironia do destino, o time profissional da Portuguesa Desportos, estava em uma temporada em Nova York e Martins foi convidado para participar de um jogo treino realizado no Central Parque. Emocionado, aceitou o convite e sentiu-se privilégio em jogar no seu time do coração. Mal sabia que o destino mais uma vez iria ser ingrato com ele; na partida, em uma jogada isolada no lance aparentemente simples, sofreu uma queda e, infelizmente, uma perfuração na altura do cotovelo atingiu-lhe o nervo ulnar. Esse acidente provocou a atrofia em três dedos de sua mão, o que o impossibilitou de tocar seu amado piano por um ano inteiro.
A recuperação foi muito longa e complicada, foi mais um entre os obstáculos que João Carlos teve que superar em sua vida.
Vencendo, sempre vencendo – Depois do acidente no Central Parque, nosso grande maestro regressou ao Brasil, sua Pátria amada, e apesar das inúmeras dificuldades, nunca desistiu de sua carreira e continuou gravando e encantando o universo Musical.
A cada peça triste do destino, um novo recomeço – Em 1995, mais uma vez o destino tentou derrubá-lo durante um assalto na cidade de Sófia, na Bulgária. Nosso maestro foi golpeado na cabeça com uma barra de ferro. A pancada comprometeu seu braço direito e, infelizmente, teve que enfrentar por novo processo cirúrgico, passando pelo cérebro e o membro atingido, comprometendo seus movimentos.
O triste veredito – Aos 63 anos, Martins ouviu de seu médico que nunca mais tocaria piano. Nesse momento, morre um pianista e nasce um maestro. No dia seguinte, João Carlos se inscreveu em curso de regência e se apresentou em Paris e Londres. Formou a Orquestra Bachiana Filarmônica, passou a trabalhar com jovens carentes dos bairros da periferia de São Paulo.
Fundação Casa – A música recuperando menores infratores.
Certo dia, o maestro João Carlos resolveu tocar para os internos da Fundação Casa de São Paulo. Qual foi a sua surpresa pela receptividade que obteve dos jovens que lá viviam no dia de sua apresentação que até hoje ele recebe cartas de menores que eram infratores na época da apresentação e fazem questão de dizer que não estão mais no mundo das infrações.
Mensagem desse colunista – Sob as Bênçãos de Deus e da Virgem Montesina, a história de Monte Alto, que é conhecida como a Cidade do Sonho, viverá uma data inesquecível com a presença de João Carlos Martins e sua orquestra, comprovando mais uma vez que a música e a luta incansável de um homem sempre vencerão. Quero terminar com o pensamento do saudoso pai do maestro: “Persiga seu sonho que um dia ele vira atrás de você”.