Depois de longo tempo e muito planejamento, consegui tirar uma semana de férias e viajei para o litoral. Uma das minhas dificuldades para viajar é o tamanho da família, que comporta sete cachorros e dois jabutis. Mas, como quem tem amigo tem tudo, uma amiga querida, desde os tempos da adolescência, a Jane, veio de Guariba para ficar com os bichinhos para nós podermos sair um pouco.
No domingo, estava sentada em uma mesa na frente de um quiosque na praia, com meu marido e meu sobrinho, que veio de São Paulo para passar o fim de semana conosco em Itanhaém, e pensava sobre o quão longe de casa eu estava, e falava com eles sobre isso, sobre essa vastidão, as cidades tão longe umas das outras, tantas vidas, tantas realidades diferentes.
De repente, olhando para frente, o meu sobrinho Alan, que também é um montealtense expatriado, viu um rapaz colocando uma camiseta do São Paulo escrito: “Torcida são-paulina de Monte Alto”. Ver a palavra Monte Alto, ali, tão longe, despertou em nós um sentimento sem explicação. Sem dizer nada um para o outro, levantamos ao mesmo tempo e fomos na direção do rapaz.
Logo chegou também a esposa dele, que estava mais perto do mar. Era o casal Marcia e Maico. Não nos conhecíamos, mas, de repente, era como se nos conhecêssemos desde sempre, como se fôssemos íntimos, melhores amigos, porque tínhamos algo em comum, a nossa origem.
Meu marido se aproximou também, partilhou daquele momento, mas, não sentiu o que nós sentíamos. É como se, numa fração de segundo, aquele mundo que, minutos antes parecia tão imenso, tivesse se tornado pequenininho e tudo estivesse ao alcance de nossas mãos. Estávamos em Itanhaém, mas estávamos em Monte Alto também, ou melhor, Monte Alto estava ali.
É uma sensação tão calorosa de pertencimento, de acolhimento, de vida em comum, de solidariedade. Então pensei em quanto este mundo é pequeno e quantas surpresas ele nos reserva. Em qualquer lugar do mundo que eu estiver, se encontrar alguém de Monte Alto, me sentirei em casa, porque eu saí de Monte Alto, mas, Monte Alto nunca saiu de mim.
Então, como já estou bem mais perto do fim do que do começo, fiquei pensando na alegria que será, o dia que partir, ao caminhar pelas alamedas dos jardins do Céu ir encontrando pessoas queridas como minha mãe, meu pai, meu irmão, o Gilbertão, a Rosa, o Sanfim, o Jair Collatrelli e tantos outros amigos queridos que já partiram, mas que, assim como eu, levaram Monte Alto para sempre dentro dos seus corações.
Este mundo é mesmo muito pequeno e é muito bom ter uma origem, ter um lugar para chamar de meu, um lugar que extrapola o espaço físico, um lugar para onde eu sempre retorno quando encontro um filho seu. Obrigada, Monte Alto, por ter me acolhido, por ser a minha terra natal.