Certa vez, numa conversa com amigos numa mesa de bar, disse-lhes que o livro “O diário de Anne Frank” deveria ser um livro de leitura obrigatória nas escolas. Acrescentei, ainda, que o mesmo se encontrava na lista dos meus alunos de uma determinada escola da região. Eles ficaram espantados. Achavam que a linguagem e o contexto da obra são pesados demais para alunos do oitavo ano. Refleti. Pensei sobre o que é ser “pesado” na literatura.
Em tempos de música na qual há uma linguagem chula, a literatura é a arma mais poderosa para este tipo de ignorância. Fiquei imaginando o quão era pesado o ambiente que Anne vivia. Pesado de negatividade, medos e incertezas. A vida desta pequena judia narrada pela visão de uma verdadeira presa deveria ecoar pelas escolas. Erros que não se devem cometer mais. Não dá para esconder uma realidade daquilo que foi a Segunda Guerra. A história está ai para mostrar. Os livros relacionados a este assunto estão nas prateleiras para mostrar ao mundo o quanto o ser humano é cruel.
Não se pode inserir determinadas obras em faixas etárias para alunos que já conseguem transformar um senso crítico sobre si e sobre o mundo. As músicas estão nas rádios, ou melhor, na internet e estão facilitando o contato com qualquer letra que se expele palavras ofensivas e de baixo calão. Por que um livro sobre a Segunda grande Guerra deveria ser pesado comparado ao que os nossos alunos escutam por aí?
Precisamos discernir a qualidade literária da impureza musical. Livros nos trazem conhecimentos; proporcionam-nos uma bagagem lexical que somente eles têm este absoluto poder. A música com a linguagem pesada, apenas proporciona o prazer pela sua batida e nada pela sua essência. Na verdade, o que acontece realmente é que as pessoas vão pelo prazer de ouvi-la, mas nunca de interpretá-la. Se reparassem bem na letra como um todo, perceberão o quanto de futilidade há numa batida musical que agrada os corpos e almas. A literatura vai além. Os livros pesados, aqueles que conseguem parar de pé, estes sim são os essenciais no cotidiano das pessoas. Quanto mais pesado, mais conhecimento ele proporciona. Estereotipar os temas abordados pelas obras universais e tentar inseri-las em faixas etárias, sociais e afins é um grande retrocesso.
Os livros estão ai para serem lidos. Independente do que dizem, estão nas bibliotecas. O grande peso nesta história toda é o peso que carregamos da ignorância. Ignorar um livro é desprezar uma sabedoria que ele proporciona. Achar que a literatura é prejudicial ao homem sob o ponto de vista do adjetivo “ pesado” é algemar os nossos conhecimentos e trancafiar a nossa criatividade.