Lembranças, lembranças… e que saudade! Tempos que não voltam mais.
Mesmo de corpo frágil, coração de manteiga, era resoluto: sabia o que queria, fazia tudo com respeito – era seu dever, e como dever, tinha direitos. E Eduardo Grecco era carcereiro. O carcereiro tão preso quanto os detentos: sem armas, de corpo e alma. Sua arma era a palavra – além da amizade, ensinava, aconselhava, refletia, dava ordens, era amigo. Carcereiro vem de cárcere e cárcere é prisão, é cadeia.
EG – símbolo da bondade. Sabia tirar do preso a verdade de seus crimes. Conversa daqui, conversa dali, aos poucos ficava sabendo de tudo. Por milhões de situações ele passou, e todas reais. A cultura, a liberdade de expressão, faziam com que homens e mulheres ali presos causassem a tortura ao meu sogro “carcereiro”. E os presos pelas palavras, eles não tinham como se sair na causa, na ação, no crime.
E que sofrência do Sr. Eduardo. Cada caso era uma angústia, um sofrimento que se abatia em sua vida. E muito sigilosamente ele contava, discutia conosco em casa. Minha sogra Maria, inconformada pela pena a eles atribuída, fazia de tudo para torna-la mais leve: comida boa no almoço do domingo e lanche no café da tarde. E assim pelo tempo que na cadeia permaneciam os encarcerados.
No dia de visita: uma sofrência do preso (a). O cigarro, a fruta, uma peça de roupa, não era o suficiente para tornar sorridente cada um deles. Presos sabiam sorrir mas na presença da mãe, do pai, do filho – o que desejavam era mesmo a liberdade.
Nos depoimentos do Fórum da cidade todos se apresentavam escoltados. E Sr. Eduardo Grecco, muito torcia por eles: que tudo acabasse bem.
Em dias festivos marcados no calendário anual, os presos tinham regalias. Para eles, muito diferente, mas com ordem, respeito, educação. Por exemplo, almoço completo no Natal ou Ano Novo, e tudo por conta de D. Maria e Sr. Eduardo. Também hora de sol dobrada, jogos na quadra, visitas. O carcereiro virava criança, adolescente, jovem – incentivava a todos. Os presos se recuperavam dia a dia – e as famílias agradeciam. Pelas suas boas ações e temperamento disciplinar, os dias ali passavam mais rápidos. A pressa era ir para casa – e como queriam isso.
Os tempos passavam e era um convite até divino para que filhos, pais, a família toda, recebessem seu ente querido de volta ao lar.
A alegria por inteiro voltava ao homem carcereiro que fazia seu trabalho respeitando as Leis da Justiça, mas também com amor, bondade, razão e coração.
Eduardo Grecco era extrovertido e também introvertido: suportava tudo com maestria. Sorria por estarem todos juntos e chorava, pois seu material humano de trabalho estava ali confinado. Não era dó, não era pena. Era vontade de abrir as portas das celas e soltá-los para o encontro com familiares. Mas seu dever era cumprir a Lei e cumpria muito bem.
E assim por trinta anos de trabalho.
A você, meu pai sogro, meu sogro pai, amigo e parceiro e que já não está entre nós, a eterna saudade desta sua nora Carmen, que muito o respeitou. Pai de meu marido e avô dos meus dois filhos – nunca será esquecido pelo Wagner José e Wilson Eduardo.
História assim é para ser eternizada!