Esta é a entrada da minha casa, tímida, escondida, nem dá para ser vista da rua, porque fica bem no fundo do terreno, onde existe outra casa na frente. Porém, deste muro para dentro, moram todas as esperanças do mundo.
As esperanças das quais eu me alimento. Esperança de dias melhores, de realizações possíveis, de sonhos concretizados e de abundantes sonhos novos. É, para mim, uma alegria muito grande ser a jardineira deste jardim onde crescem flores tão lindas.
Deixamos 2021 para trás e adentramos o novo ano esperando que seja melhor. Janeiro. Agenda nova. Dias novos. Tempo de fazermos aquela faxina espiritual, aquela arrumação na alma, nos pensamentos, nos conceitos e até mesmo nos preconceitos que, sem querer, como ervas daninhas, deixamos nascer em meio às nossas crenças.
Diria que é tempo de jogar fora o que não serve mais e reciclar aquilo que ainda tem jeito, que pode ser transformado e reaproveitado. No entanto, esse tipo de faxina mais profunda, não é algo fácil de fazer.
No finalzinho do ano, passamos por obras aqui em casa. Para isso, muitas coisas foram tiradas do lugar e, na hora de guardar, parece que elas já não cabem onde ficaram acomodadas por anos, então, resolvemos jogar fora algumas delas. E, pegando o gancho desse desapego material, entendemos a necessidade premente de faxinarmos também as nossas emoções, os nossos sentimentos, os nossos relacionamentos.
Eu digo nós porque, quando somos parte de um par, tem coisas que não dá para fazer sozinho, é preciso partilhar, dividir, escolher juntos. Assim, decidimos o que jogar, o que doar, o que guardar e que destino dar ao que foi guardado, porque não adianta ter uma estante cheia de livros não lidos, uma pilha de discos não ouvidos e tantos outros objetos sem utilização. O nosso combinado foi: do que ficou, usufruiremos ao máximo no ano que se inicia.
Esse é o nosso grande compromisso para 2022: não deixar nada para amanhã, para depois, para um dia talvez, porque facilmente essa postergação pode se transformar em nunca mais.
Hoje, vou fazer uma coisa que normalmente não faço, vou dar um conselho: jogue fora os cacarecos inúteis, passe para alguém aquilo que pode ser usado e proveitoso e guarde apenas aquilo que é necessário e que acrescente ao seu dia a dia, à sua memória, ao fluir da sua vida. Mas, sobretudo, se desfaça daquilo que não serve.
Jogue fora, sem peso de consciência, as relações tóxicas que só lhe prejudicam e afundam. Tem coisas que não dá para ter meio termo, ir devagar, se desapegar em partes. Use o critério do “é ou não é”. Isso é bom para mim, me acrescenta me faz feliz? Se sim, fica, se não, dispense. Pessoas tóxicas costumam envenenar tudo o que tocam, por que você vai querer beber o veneno que o outro tem prazer em lhe servir?
Parasitas não vão deixar de explorar você a menos que você dê um basta, mas, esteja preparado, porque quem está acostumado a lhe explorar, a sugar as suas energias, a lhe vampirizar, não vai aceitar sair da sua vida assim, de uma hora para outra. Vão lhe chantagear, tentar diminuir e convencer que, sem eles, você não é nada e não pode viver. Mentira! Isso não passa de uma estratégia para continuar lhe encurralando.
Eu sei que não é fácil, mas, é necessário. Porque a vida é breve, e conviver com pessoas egoístas, maldosas, invejosas, dominadoras e desrespeitosas é triste demais. Deixe as pessoas chafurdarem na própria lama, deixe-as beberem do próprio veneno e apagarem a própria luz. Só não deixe elas fazerem isso com você.
Como cristã, eu tenho plena consciência de que devemos amar todas as pessoas, no entanto, amá-las não significa deixar que elas nos destruam. Você pode amar alguém sem estar junto, sem respirar o mesmo ar. Porque amor é muito mais do que o apequenamento ao qual o restringimos.
Não devemos matar as cobras, mas, nem por isso, devemos colocar serpentes venenosas para dormir embaixo do nosso travesseiro! As víboras que se escondam em seus cantos escuros e nos buracos onde se sentem bem. Cada um no seu habitat. Agora, se você fica com peninha delas e as coloca dentro da sua casa, ao ser mortalmente picado, a culpa não é delas, é sua.
Não sei como será 2022, espero que ele me leve a 2023. Que os percalços sejam vencidos, os obstáculos ultrapassados ou ao menos contornados. Espero caminhar na direção do vento e jogar com as cartas que a vida me der. Mas, sobretudo, quero caminhar leve, sem o lastro da amargura e tristeza alheias. Lamento, mas lamento imensamente que tantas pessoas, nesta vida que é tão linda e tão breve, façam a opção de caminhar infelizes, mas, de mim, elas só podem contar com a piedade e a misericórdia de lembrá-las em minhas orações. Moro em um Jardim de Esperanças e, muro adentro, pessimismo, maledicência, inveja e lamentação não podem entrar. Neste jardim, erva daninha não tem vez! E que venha 2022!