Encanta-me a criatividade de uma criança. Eu presto atenção em cada pergunta que me fazem e surpreendo-me em suas respostas. Há tanta criatividade nas doces ingenuidades que me inspira a escrever. Há muita poesia no expressar das crianças. Basta ouvir e observar com uma pitada de metáfora para que todo o diálogo inspire bons versos ou se transforme numa grande história. A palavra é genocídio. Disse para os meus alunos que em cinco minutos, numa guerra, daria para fazer um genocídio. Um aluno, a minha frente, perguntou-me o significado da palavra. O amigo ao lado ouviu a pergunta e respondeu já em poesia: “Genocídio é quando você mata um gênio”. Eu poderia parar este texto agora, porque uma resposta como esta já possui um grande teor literário. Um microconto. Eu ri, obviamente, mas ao mesmo tempo dei- lhe os parabéns por tamanha criatividade.
Aquela resposta fez efervescer uma série de reflexões. Quantos gênios a gente mata diariamente por não enxergar o talento que possuem? Um aluno feliz e realizado nem sempre quer ser o que os pais querem que sejam. Cada imposição, mata-se um gênio. Um aluno desmotivado é um gênio no corredor da morte. Temos uma leve cultura de enxergar valores no futuro de nossos filhos. Valores em reais e não sentimentais. Tentamos fechar as cortinas para os seus talentos porque dentro daquela genialidade não se tem retorno financeiro.
Há muitos lares por ai cometendo um “ geniocídio”. Há muitos lares que não enxergam certos comportamentos porque não reconhecem o talento que ali habita. E este gênio acha que a sua genialidade é fútil. Acha que o caminho da felicidade é acatar as imposições. Mas lá no fundo, o seu talento grita para sair. Quando não há mais espaço, sai pelos poros. E o professor é o individuo que tece o diálogo para que a genialidade desperte neste gênio. É um dos únicos que consegue evitar um “ geniocídio”. E ele o faz com a mesma convicção que os seus gênios fazem quando produzem sua genialidade. É espontâneo. É amor. E quem ama não comete nenhum “geniocídio” porque sabe da importância que eles têm para a sociedade e para o mundo. Os gênios são escassos, mas os “ geniocidas” são muitos. ( Ao meu aluno Lucas Pavanelli )