Vivemos uma realidade de competição. É comum as pessoas se esmerarem naquilo que fazem com o intuito de fazer melhor que os outros. Ser o melhor, o mais eficaz, ter a mais alta performance acaba se tornando um estilo de vida. Se competir nos leva a fazer as coisas de uma forma melhor e se isso traz benefícios, ótimo, mas, e quando estamos sozinhos, quando não temos com quem competir, quando ninguém está olhando, ninguém está prestando atenção em nós, como fazemos?
A busca pela excelência deve, sim, ser uma condição de vida, mas, apenas pelo fato de fazer bem feito e usufruir da satisfação que isso proporciona. Nós temos duas formas de fazer as coisas: ou bem feito ou mal feito e isso vai desde arrumar a cama, dispor a louça no escorredor, pendurar a roupa no varal, escovar os dentes, cuidar do carro até as tarefas mais sofisticadas que nos cabem realizar.
Minha mãe era uma mulher muito boa, mas também muito exigente. Ela costumava dizer que se era para fazer mal feito, era melhor não fazer. Claro que isso provocava chateação, alguns atritos e muito retrabalho. No entanto, depois de refazer algumas tarefas até que elas ficassem boas, acabei tomando gosto pela coisa e desenvolvi um certo perfeccionismo, que faz de mim uma pessoa meio chata, pois costumo ser um tanto intolerante com as coisas feitas de qualquer jeito, meia-boca, como se costuma dizer.
Viver é algo que requer excelência e, de tanto darmos jeitinhos, varrer “só onde o padre passa” ou empurrar o lixo para debaixo do tapete, acabamos perdendo esse amor ao viver e ao fazer. Acabamos viciados em apenas sobreviver, em levar como dá, em fazer mais ou menos, gozar a vida mais ou menos, amar mais ou menos…
Ficar escravo dos detalhes pode não ser uma coisa tão boa, mas ignorar os detalhes é muito pernicioso. O melhor e o pior da vida podem estar contidos nos detalhes.
Se fazemos bem feito apenas para vencermos competições, para sermos melhores que os outros, isso mostra que sequer somos bons. O segredo está em superar-se, em dar o melhor de si na execução de qualquer coisa, da apoteótica e da insignificante. Se outras pessoas virem e reconhecerem nosso mérito, isso é bom, o reconhecimento sempre é bom, mas, nem mesmo em busca dele devemos estar. O importante é fazermos por nós, porque nós temos um termômetro que nos avisa quando fizemos da melhor forma que poderíamos ou quando apenas fizemos, de qualquer jeito.
A decisão de adotar a excelência como meta depende única e exclusivamente de nós. Dá trabalho, demanda tempo e, inevitavelmente, sofre algum boicote, mas, vale a pena tentar e que nunca sejamos nós mesmos a nos boicotar. O potencial da excelência é atributo de todos, cabe a cada um desenvolvê-lo.
Que 2018 seja o ano da excelência porque fazer bem feito faz toda a diferença e dá à vida um sentido especial e a sensação de vencer-se, de vencer as tendências ruins, de vencer a preguiça e a postergação. Digamos. como Fernando Pessoa: “Para ser grande, sê inteiro. Nada teu exagera ou exclui. Sê todo em cada coisa. Põe quanto és no mínimo que fazes. Assim em cada lago a lua toda brilha, porque alta vive.”. Põe o seu melhor, sempre, em cada coisa. Essa é uma maneira de sentir-se feliz, bem com você mesmo e com a vida.