Você já tentou entrar em um lugar lotado e teve a sensação de não caber? Isso acontece muito em eventos de lazer como o baile, a balada, os shows, às vezes até o barzinho. Pessoas se apertando, se espremendo, umas pisando nos pés das outras, esbarrando. Bem, em tempos de pandemia, essa imagem pode não ser muito apropriada, mas, a uso para ilustrar a situação. Em cidades grandes, como São Paulo, o espreme-espreme é nos ônibus, nos trens, no metrô, nas estações.
Vivemos uma situação parecida, embora mais subjetiva, com relação ao tempo. É cada vez mais comum termos tantas coisas para fazer em um único dia que parece nunca caber tudo, não conseguimos dar conta das tarefas e compromissos e isso nos angustia e é uma das principais causas de ansiedade, que pode desencadear o estresse, a depressão e outras síndromes.
Parece que estamos sempre correndo, lotados, aglomerados, atrasados, desarticulados, perdidos. Até mesmo com a nova vida virtual, à qual estamos sendo obrigados a nos adaptar, nos vemos meio atabalhoados, aturdidos, perdidos. São tantas mensagens, tantos vídeos, tantas lives, tantas fotos, tantas reuniões, que nem sabemos por onde começar. É uma espiral concêntrica que nos envolve em seus giros sem que consigamos chegar a lugar algum. O que está acontecendo com o ser humano, com o planeta, com as relações, com o modo de ser do homo sapiens (e da femina sapiens, já que parece que não podemos mais usar a designação masculina para representar a espécie!)?
Bem, usei todas essas figuras para tentar falar de alguém que não cabe. Entre os jovens, ele não encontra espaço, porque o papo é outro, o agito é outro e eles não querem saber de nada que pareça sério ou careta (ainda se usa essa expressão?, faz tempo que deixei de ser jovem!). Entre os adultos, pior ainda, pois são esses os que estão mais perdidos, mais sem tempo, sem rumo e sem direção. Parece que estão sempre envolvidos com algo de fundamental importância, mas, na verdade, estão sempre patinando sem sair do lugar, isso quando já não estão sendo tragados pela areia movediça das ilusões e desilusões.
Entre as crianças, ele também não encontra espaço porque elas não ouvem falar dele, não sabem quem ele é, e estão muito envolvidas com os jogos e outras distrações da bolha virtual dentro da qual estão nascendo e crescendo. E, obviamente, com tantas coisas para ensinar aos filhos como escolha do gênero ao qual mais se adaptem (embora elas nem saibam o que é gênero), quebra de preconceitos e de paradigmas, línguas estrangeiras, esportes, cidadania, os pais não vão mesmo ter tempo para falar de alguém tão ultrapassado que nem eles entendem ou respeitam. Alguém que não muda, não evolui, não se atualiza, como enfiar isso na “educação” dos filhos?
Os velhos? Ah, os velhos! Para começar, a palavra velho já causa uma ojeriza tremenda e nem deveria ser pronunciada. Ser velho é como ter as sobrancelhas finas, reflexo da moda das décadas de 70, 80 e 90. É preciso fazer um design de sobrancelhas a todo custo, mesmo que elas fiquem parecendo uma taturana desmaiada ou um pedaço de pau colado acima dos olhos, mas, sobrancelhas finas, nem pensar! Com a velhice é a mesma coisa, é preciso fazê-la desaparecer, seja com tinturas, botox, dietas, cirurgias e por aí vai. Entre esses então é que ele não encontra guarida mesmo! Afinal, já viveram tanto, já estão bem mais perto do fim que do começo, vão querer enfiar em suas vidas alguém metido a conselheiro e juiz, radical e preconceituoso? De jeito nenhum!
Assim, esse alguém encontra sempre os espaços lotados, as espirais rodando vertiginosamente, as pessoas sem tempo, sem disposição, sem boa vontade. No entanto, ele é Deus. É o dono, o criador e o senhor absoluto de tudo e de todos E se tudo está lotado, se o tempo está todo tomado e se tudo está agitado demais para cabê-lo, ele vai acabar dando um jeito de colocar ordem nessa balbúrdia. E isso não deve demorar. Estejamos atentos…