Entre os barris da realidade e da ficção

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Crescemos com aquele menino pobre que morava num barril, mas que nunca perdia o sorriso no rosto e se sentia feliz com os seus vizinhos que habitavam nas casas de alvenaria, mesmo que passassem dificuldades em pagar o aluguel. Divertíamo-nos com as suas peripécias e do quanto as suas atitudes, por via das vezes, traziam-nos algum significado, reflexão e conforto. Um menino órfão que tinha a si mesmo e os amigos para viver. Aquilo, para ele, já era uma questão de felicidade.
Um mesmo menino num barril chocou os olhos de quem cresceu vendo um pobre menino que morava numa vila. Esta criança tinha pai e mãe. Tinha uma família para compartilhar suas tristezas e alegrias. Entretanto, foi algemado num barril para ser educado. Por ali, ficava horas e horas em pé. Pouco se movia; pouco se alimentava. Não havia carinho e nem diálogo. Os pássaros que sobrevoavam aquele espaço sentiam pena do menino encarcerado num barril. Tinha fome e sede. Suas perninhas ainda em formação ficaram deformadas. Os ( i ) responsáveis construíram uma masmorra: naquele cubículo, ele ficaria até se remediar de suas atitudes. Pobre criança! Os terrores psicológicos o acompanharão por toda a sua vida. Fico pensando na sua infância destruída. Penso nos tremores corporais e psíquicos que ele terá ao se deparar com o menino do barril que tanto assistia no canal televisivo. Aquele rostinho assustado, cansado e carregado de tristeza é o reflexo da maldade que o homem provoca contra a sua própria raça e contra o seu próprio sangue.
Realidade e ficção se juntam para provar o quanto o ser humano é desprovido do amor. Na ficção, um menino amado por pessoas que não eram da sua família; na realidade, uma criança sendo maltratada por pessoas que deveriam amá-la. Prova-se, neste mundo cheio de estereótipos, que o amor não existe somente para aqueles que deveriam amar. O amor está nos olhos dos policiais que se sensibilizaram com a situação, na indignação do repórter, do câmera e de todos nós que nos solidarizamos com a história. Fica um sentimento de impotência em não poder ajudá-lo com um abraço e com uma palavra de conforto. Ao mesmo tempo, deixa-nos um aprendizado de como agir com o próximo e da importância de amar e respeitar aqueles que estão vivendo conosco ou próximos da gente.
A história veio até nós como um balde de água fria: saber amar é uma dádiva; reconhecer a falta de amor entre os homens é o primeiro passo para continuarmos a amar. Lembre-se: por mais miserável que a vida do menino da televisão fosse, ele tinha o principal: o amor entre aqueles que ali conviviam. Era isso que o alimentava!

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