Então, é Natal… mais uma vez!

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Este ano foi bem diferente. Por um lado, parece que passou rapidíssimo; por outro, parece que durou uma década. Iniciamos o ano ainda temerosos, com grande número de mortes pela Covid-19. Vivemos a expectativa da vacina, que parecia que não chegaria nunca. Depois, devagar, fomos arriscando umas saidinhas do nosso confinamento – sem tornozeleiras eletrônicas, mas, devidamente mascarados e munidos de frascos de álcool em gel.

Confesso que, no começo, sair ainda era assustador. A sensação é de que havia um terrível inimigo solto pelas ruas, feroz como o bicho papão, com o qual as nossas mães nos apavoravam, disposto a nos pegar e nos devorar. Depois foi ficando mais tranquilo. As igrejas foram reabrindo, o comércio foi retomando fôlego, até que, finalmente, a vacina chegou.

Para muitos, mais conservadores e impressionáveis, exímios cultivadores das teorias da conspiração, ela representava mais um inimigo, talvez mais perigoso que o próprio Coronavírus, dotado de atributos quase mágicos, proporcionados pelo avanço da nanotecnologia, que estaria implantando microchips de controle em nossos corpos, para rastrear a nossa localização (como se nossos celulares já não fizessem isso) e até mesmo para nos contaminar com alguma outra doença letal, no futuro, e diminuir a população do planeta.

De fake news em fake news, até que as vacinas transmitiam o vírus da Aids se acreditou. Bem, pelo menos o presidente do país acreditou. Há coisas que dispensam comentários. Passemos adiante.

Estamos praticamente todos vacinados, mas, não deixamos de estar contaminados. Se não contraímos a Covid, não conseguimos ficar imunes ao vírus do medo e da insegurança. Parece que o abraço e o aperto de mão saíram de nossos hábitos para sempre. Passamos a restringir as nossas demonstrações de afeto aos círculos mais estritos do parentesco ou do relacionamento. E isso foi um golpe fatal na famosa e internacionalmente conhecida expansibilidade do povo brasileiro.

É claro que tem gente fazendo festas, provocando aglomerações, andando sem máscara e se expondo além do necessário, mas, isso tinha até durante o confinamento, e também é um ponto que nem vale a pena comentar. Afinal, cada um, cada um.

Mas, algo mudou. Pessoas partiram. Empregos sumiram. Subiu o preço de tudo. Casais não suportaram o excesso de convivência e se separaram e, apesar de as aulas presenciais também terem voltado, alunos e professores aprenderam uma nova maneira de aprender e ensinar.

Muitos repensaram a vida, viram que aquele emprego, aquela rotina, aquela relação chocha, já não valiam mais a pena e resolveram mudar radicalmente, afinal, a morte nos rondou de muito perto, encostou o seu focinho em nossas portas e estendeu os seus tentáculos por muitos lugares que gostávamos ou precisávamos frequentar.

A vida é breve, muito breve, e isso ficou ainda mais claro, mais patente, mais evidente. Como dizia Raul Seixas, em seu magistral canto para a morte: um escorregão idiota, a cabeça no meio-fio… Nossa vulnerabilidade ficou escancarada, e é extrema. Basta um vírus, um espirro, uma tosse, uma febrinha e já que estamos isolados, entubados, mortos. Puf! Simples assim, rápido assim. Definitivo assim.

Houve uma mudança de valores. Isso é inegável e ela vai ficar mais clara ao longo do tempo. Não sabemos o que virá ainda, qual o poder que as variantes do Coronavírus podem ter, se conseguirão driblar as vacinas, ou se surgirá outro perigo, vindo de não sei onde, que nos exponha novamente a esse miserável caos.

O mundo mudou. Nós mudamos. Não houve nenhum tipo de milagre, é bom deixar isso claro. As pessoas boas podem ter ficado um pouco “mais boas” e as ruins, ainda mais ruins. Muitos golpes aconteceram, muita gente aproveitou a crise para levar vantagem, como acontece em todas as crises e, se de um lado houve um grande empobrecimento quase geral, de outro, muitos enriqueceram com a desgraça.

O fato é que, mais uma vez, é Natal. Sobrevivemos. Podemos ter nos arranhado um pouco mais, um pouco menos, mas, continuamos aqui, apreciando o que a vida – este dom magnífico – tem de bom. Mas iremos. De um mal coletivo ou particular, qualquer dia chega a nossa hora. Mas, agora, ainda não. Vencemos 2021. E então, é Natal… mais uma vez! Feliz Natal!

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