E SE VOCÊ MORRER AMANHÃ?

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Como muitos de meus leitores sabem, meu filho é padre. E ele costuma ser muito direto com o assunto “morte”, tanto que até dá um curso sobre isso: E se você morresse hoje, para onde iria? Uma direção espiritual. Obviamente, como sacerdote, ele é um pastor de almas e trata dos aspectos espirituais do tema, mas eu, enquanto pessoa comum, quero tratar do lado de cá deste assunto que nos intriga tanto que, geralmente, evitamos falar sobre ele.

Monte Alto está de luto, depois do triste acidente ocorrido no último domingo com os romeiros que voltavam de Tambaú e este é um assunto que não dá para a gente ignorar diante de tamanha dor.

A morte sempre dói, sempre aflige, mas, quando ocorre um desencarne coletivo, parece que o impacto é maior, e mais intensa a nossa consternação. Num momento assim, apesar da tristeza pelos que partiram, a nossa atenção se volta, principalmente, para aqueles que ficaram, pelo sofrimento grupal, mas, sobretudo, pela dor individual de cada um dos que perderam seus entes queridos.

Estando distante de Monte Alto, o carinho que posso dispensar a todas essas pessoas é em forma de oração, o que tenho feito todos os dias, desde a notícia do acidente no domingo.

No entanto, excetuando este caso que envolve uma tragédia e tantos outros que temos visto acontecer, onde muitas vidas são ceifadas coletivamente, quero me ater aqui à morte comum, banal, que leva um por vez e que está à espreita de cada um de nós.

Para isso, repito a pergunta que meu filho costuma fazer em seus sermões: “E se você morresse amanhã, o que faria com o dia de hoje?” Em seguida, ele brinca: “Calma, não se assuste, o padre não está dizendo que você vai morrer amanhã… Na verdade, você pode morrer hoje! O seu próximo minuto pode ser o último!”

A ideia é provocar um choque, fazer as pessoas pensarem sobre o que estão fazendo, que rumo estão dando para as suas vidas.

Muitos adoecem e vão definhando aos poucos, alguns já idosos. Neste caso, há tempo para se prepararem e para os familiares também se prepararem para o momento da despedida. No entanto, para morrer, basta estar vivo. Como dizia Raul Seixas, na belíssima canção “Canto para a minha morte”: “Qual será a forma da minha morte? Uma das tantas coisas que eu não escolhi na vida, existem tantas… Um acidente de carro, o coração que se recusa abater no próximo minuto, a anestesia mal aplicada, a vida mal vivida, a ferida mal curada, a dor já envelhecida, o câncer já espalhado e ainda escondido, ou até – quem sabe? – um escorregão idiota, num dia de sol, a cabeça no meio-fio.”

Infelizmente, nós não sabemos e nem temos como prever, a única coisa certa é que a morte virá, ninguém sairá vivo desta. Será que passou pela cabeça de alguma das pessoas que viajaram no domingo que aquela era a sua última viagem? Alguns deveriam estar felizes, satisfeitos por terem conhecido a casa do Pe. Donizetti, a sua cama, o tijolo que ele usava como travesseiro, a sua batina, os seus poucos pertences. Outros poderiam estar dormindo. Alguns, cansados, desejando chegar logo para tomar um banho e dormir. Uns com fome.

À medida que o tempo passa, tenho pensado cada vez mais a respeito do inevitável fim. Mesmo que a vida, em alguns momentos, se mostre difícil e desanimadora, eu não tenho pressa em partir. Gosto de estar aqui. Acredito piamente na vida após a morte e me alegro em pensar em todas as pessoas que espero encontrar do outro lado, os cenários diferentes, o imaterial, a vida em forma de energia pura, a esperança de ver a Deus face a face… Isso tudo porque eu nem suponho que possa ir ao inferno, claro!

Mas, apesar disso, essa instância do depois está no domínio do desconhecido, só trabalhamos com hipóteses e, além do mais, é algo que parece imensamente distante. O que tem me levado a pensar, realmente, é o que tenho feito da minha vida agora, como tenho me relacionado com as pessoas que amo, como tenho cuidado do meu corpo, se tenho me ocupado em alimentá-lo bem, em lhe dar as suficientes horas de sono, se me esmero em arrumá-lo para ficar satisfeita diante do espelho.

Tenho lido tudo o que gostaria? Feito os telefonemas necessários? Acertado os meus assuntos pendentes? Brincado com os meus cachorros? Visitado os lugares que sempre desejei conhecer? Realizado meus sonhos? Estou com meus documentos em ordem, a fim de não dar excessivo trabalho a quem tiver de cuidar de meus funerais?

Essas são coisas que, normalmente, a gente não pensa, porque é incômodo pensar sobre elas. Tem gente que acha até que dá azar, que é macabro, coisa de mente negativa. Mas, não é. São coisas necessárias, providências legítimas. E não custa nada dançar mais, cantar mais. rir mais e parar de levar tudo tão a sério, de se preocupar com as dívidas que não conseguimos pagar, com as brigas políticas, com aquelas coisas que não estão na nossa alçada resolver.

Que a partida desses irmãos que nos precederam, e estão agora excursionando por um local muito mais interessante que a cidade de Tambaú, possa servir como um alerta real de que só o que temos é o agora, nem o daqui a pouco nos pertence, assim como o tempo passado também não. Afinal, a gente não sabe, né? Um acidente, uma bactéria, um escorregão idiota, a cabeça no meio fio…

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