É preciso sempre ouvir os alunos e suas angústias. Por de trás de grandes sorrisos, há imensos problemas. Há sempre alguém precisando de uma palavra de conforto ou de um abraço apertado. Não que cure toda a dor e elimine todos os problemas, entretanto, só o fato deles serem enxergados por nós professores, já é motivo de suspiro e esperança.
Um aluno entrou na minha sala cabisbaixo. Cumprimentei-o. Ele, com um sorriso tímido no rosto, proferiu a seguinte frase “A vida não é fácil, professor”. Percebi ali que havia um problema. Com muito jeito, eu perguntei enquanto ligava o computador: “Quer falar sobre?”. Ele, com águas nos olhos, desabafou: “Meu padrasto quer que eu saia de casa. Já apanhei muito dele quando criança. Ele me disse que eu preciso me sustentar sozinho.” Eu o ouvi e fiz outra pergunta: “E o seu pai? Ele respondeu: “Meu pai tentou matar a minha mãe quando ela estava grávida de mim.”
Há situações que não cabem mais palavras. Vi ali um adolescente sangrando por dentro e se escondendo por de trás de uma máscara, porque há uma vontade de viver muito grande naquele coração mesmo perante os inúmeros problemas. Eu apenas o abracei e disse que as coisas irão melhorar e que ele precisava de paciência. Este é apenas mais um caso dos tantos que encontramos pelas escolas. Nossos alunos estão gritando silenciosamente e ninguém os escuta. Os filhos que recebemos diariamente estão marcados pela dor de uma geração confusa, fraca e sem perspectiva de ambição. Ou porque estão sendo criados em bolhas ou porque não fazem parte de bolha alguma e são obrigados a andejar pelo mundo em busca de perguntas e respostas.
Já abordei em vários textos a importância de humanizar a escola. O trabalho pedagógico já não é mais suficiente perante a enfermidade do mundo na qual vivem os nossos alunos. Os problemas pessoais enfrentados pelos discentes, o mundo das redes e o excesso de tela têm contribuído drasticamente para os problemas emocionais. Em cada mochila, há um grito preso. Em cada sorriso, há certa tristeza. Infelizmente, ainda, o nosso papel é apenas lecionar e abordar o conteúdo. Digo infelizmente, porque bons professores consegue mudar o mundo de alguém. O problema são a falta dos bons professores, a negligência da escola, a não aceitação da família em nos ouvir e o sistema. O sistema! Assim como a família mata, ele também nos sangra.