Privilegiados são os filhos de pais que nasceram nos anos 80 e 90. Talvez, estas décadas sejam os únicos resquícios de uma verdadeira infância, e de uma família que sabia educar os filhos. Estamos aqui, inclusive este que vos escreve, tentando repassar ao menos um terço de tudo aquilo que vivemos, seja nas questões educacionais, seja nas vivências pueris que tivemos outrora. É óbvio que os nossos rebentos nunca saberão o que é jogar fliperama naqueles caminhões que ficavam estacionados na praça, jogar torneio de futebol entre os bairros ou até mesmo entre as ruas – a rua debaixo contra a de cima – e muito menos jogar os amigos aniversariantes dentro da fonte da praça central.
Os tempos mudam, a essência se torna outra e as coisas evoluem. Mas o que fica são as histórias que devem ser contadas, os valores adquiridos e até mesmo ressuscitar as brincadeiras saudáveis para que possamos mostrar uma infância aos nossos filhos que já não existe mais. Dentro de toda essa nostalgia, quero destacar uma que hoje em dia está totalmente fora de controle. Lembro-me da saudosa Dona Odete – professora de Inglês – que estampava um sorriso radiante, ensinava como nunca e era respeitada por todos. Qualquer movimento involuntário dentro da sala, a aula era interrompida. Todos a respeitavam, assim como era com todo o corpo docente.
Quem já teve um professor Pinheiro como diretor, uma Terezinha, uma Maria do Carmo, sabe do que eu estou falando. Isso era respeito. As aulas fluíam, o docente conseguia passar o conteúdo. Recordo-me das aulas de Matemática da Dona Vera Parisi, em que ficávamos ao redor da sua mesa para tirar dúvidas, e ela, pacientemente, atendia um por um. As horas passavam rápido. Passavam porque ali havia uma ligação entre professores e alunos. Havia interesse e acima de tudo o respeito e a responsabilidade. É claro que as peripécias aconteciam, mas estas nunca estavam relacionadas com desrespeito ao professor. Que saudades dos amigos da escola, das “peladas” que jogávamos na hora do intervalo com latinha amassada (lembra-se disso, Thiago Oliva?) dos gritos da Dona Irma, das aulas de educação física em que o professor André (Cabeção) nos ensinava a marchar para o desfile cívico. Que saudades!
Pois bem, agora vamos refletir: do que filhos deste Brasil sentirão saudades futuramente? Como descrever uma educação que se encontra fora do controle? Espero que um dia eles não sintam saudades de ter xingado ou agredido um professor, de ter colocado fogo na cortina da escola, de ter ferido um amigo com a faca, de ter apontado uma arma para o diretor, de ter colado na prova usando um celular, de ter ficado horas e horas conectado com a internet enquanto o professor explicava a matéria, de cometer “bullying” com o colega, de ter filmado uma agressão covarde e, posteriormente, expor a vítima em redes sociais, entre tantas barbáries que acontecem no ambiente escolar.
Vivemos tempos sombrios, e se um dia eles realmente sentirem saudades de tudo aquilo listado acima, já estaremos vivendo um verdadeiro caos escolar e principalmente familiar. O retrocesso atingiria um país que sonhava com a ordem e progresso. Não haveria mais possibilidades de reverter a situação em curto prazo, até porque se esta nostalgia toda for real, não haveria mais professores no mercado. Consequentemente, a educação estaria falida e o país afundado nas suas próprias derrotas educacionais.